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domingo, 8 de novembro de 2009

20 de Setembro – O balanço do primeiro mês

Pois é… Já se passou um mês…

Precisamente por isso aqui fica o meu balanço destes “primeiros 30 dias”.
Agora percebo as “dicas” do Ludgero… O Rádio e a lanterna (a pilhas)…

Frequentemente o fornecimento de energia eléctrica é interrompido e quem não tem geradores, em todas essas circunstâncias, fica privado desse, que agora considero, bem essencial…

Esta experiência, para além de muitas outras coisas, também tem essa mais-valia. Está a servir para perceber que muitas das coisas que, por exemplo em Portugal, damos como adquiridas noutros locais pura e simplesmente não existem… É óbvio que eu tinha noção que essa era a realidade (por isso existem países desenvolvidos, em vias de desenvolvimento e os do 3º mundo) mas associava sempre essa realidade a países com economias inexistentes… Pensei que num país onde existe tanto investimento já se tivesse investido o suficiente nas “infra-estruturas básicas” para a população… Desprezei o facto do conceito de “investimento” e “economia” aqui, assumirem contextos distintos do meu padrão… Mais uma vez o meu pensamento desenquadrado da realidade Africana…

Quanto ao resto nada de excessivamente anormal… O enquadramento na equipa está a dar-se duma forma pacífica e positiva, a casa onde estou alojado (tirando o facto do meu quarto ser num anexo) está arranjada e equipada como se de uma casa portuguesa se tratasse, no escritório existe tudo aquilo que existe num escritório em Portugal (apesar de antes de chegar pensar que teríamos, por exemplo, apenas uma impressora para 15 pessoas) e toda a restante vida não é assim tão diferente de qualquer vida em Portugal.

Obviamente que existem alguns condicionamentos a que não estamos habituados em Portugal como a quase inexistência de eventos culturais, como o sentimento de insegurança que as pessoas sentem (apesar de nunca ter presenciado nenhuma situação que me deixasse receoso), como o tempo que se perde em viagens na cidade (quem o tem que fazer obviamente) etc etc etc. Mas, como em quase tudo na vida, existe também o outro prato da balança. A troca cultural. Aquilo que podemos beber da cultura local e guardar para a nossa vida.

Por exemplo… As pessoas vivem com algumas dificuldades financeiras mas não é por isso que deixam de ser simpáticas nem deixam de aproveitar o pouco que a vida lhes pode proporcionar. Um pouco ao estilo brasileiro, que eu e a Patrícia sentimos em Arraia D’Ajuda, em que a vida é vivida dia-a-dia e que contrapõe com todos os objectivos que traçamos, as ambições que temos, o valor que damos a tantas coisas que, bem vistas as coisas, se calhar, não passam de coisas superficiais…

Outro exemplo… Os meninos poucos brinquedos têm mas não é por isso que deixam de brincar… Andam na rua, correm, brincam, divertem-se e divertem-se com o pouco que têm… São felizes à maneira deles… Sinceramente, entre este extremo e o da nossa sociedade não sei qual é o mais correcto… Claro que acho que esta realidade representa um extremo sub-aproveitado e não acho que as crianças portuguesas devessem viver esta realidade mas, por outro lado, os jovens fechados em casa por causa dos computadores e dos jogos de vídeo… É certo que muitas dessas coisas potenciam algumas capacidades deles mas ao mesmo tempo é, certamente, muito limitador do nível de vivência… Na minha opinião torna-se numa forma de vida muito individualista e virtual que lhe confere alguma superficialidade.

É só uma opinião…

Mas voltando ao balanço do primeiro mês em Angola…

Só existe um factor que faz com que a avaliação não seja totalmente positiva… A ausência da Patrícia… Começo a achar que, quando estivermos aqui juntos, a experiência se poderá tornar efectivamente positiva porque poderemos conhecer melhor as zonas mais rurais deste país… Poderemos visitar todos os locais de referência, com o tempo vou-me apercebendo que afinal também os existem por cá, que representam toda a grandiosidade deste continente. Provavelmente são esses locais que dão a tal mística que tanto ouvimos os Portugueses falar… Não sei veremos… Fica porém a certeza que se cá estivéssemos juntos o primeiro mês teria sido totalmente positivo…

Ao fim deste primeiro mês percebo também a relevância de algo a que, em Portugal, pouco interesse me provocava.

A televisão… É algo difícil de explicar mas o simples facto de chegar a casa, ligar a televisão, ouvir falar português e ver caras conhecidas, ouvir notícias relacionadas com a realidade que estamos habituados é algo que tenho alguma dificuldade em explicar…

É uma sensação de aconchego… Dá-nos uma sensação de proximidade e de actualidade… Por outro lado provoca o normal atraso na integração porque acabamos por sentir que somos estrangeiros e que, estando em casa, estamos fora deste país… Não vivemos o nosso contexto mas de qualquer forma é um sentimento muito engraçado.

Bom… Tinha como objectivo começar a escrever textos mais curtos para que se tornassem mais atractivos e cativantes… Para já objectivo não cumprido…

No fundo um resumo… Balanço do primeiro mês e expectativas para os próximos?

Existem uma série de “pormenores”, que daqui a algum tempo se podem revelar “pormaiores”, mas, à data de hoje, o balanço deste primeiro mês é claramente mais positivo do que pensava que poderia ser..

Espero que assim continue e que em breve esteja “completo” nesta terra avermelhada.

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