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quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

11 de Novembro – Feriado: Dia da Independência

Embora se diga que Angola tem muitos feriados, o que comparativamente a Portugal faz com que o número dos mesmos seja inferior, este será sem dúvida, na nossa opinião, o feriado mais importante que se celebra no país, sobretudo se considerarmos o seu passado e história recente.

É certo que a luta pela independência começou muito antes, e há feriados que assinalam esses marcos na história de Angola, já referidos por nós em posts anteriores, mas o 11 de Novembro marca efectivamente o dia da Liberdade e o fim oficial do colonialismo.

Este ano a celebração do feriado, que costuma ser seriamente engalanada, assumia especial importância pois festejava-se o 35º aniversário da Independência. Cerca de duas semanas antes a cidade começou a “vestir-se” e preparar-se para o evento. Por toda a cidade foram espalhados cartazes, luzes e anúncios anunciando o número 35 como marco histórico. Foram concluídas algumas obras de reabilitação nas zonas que conduziam aos principais locais dos festejos. (Sim, nós portugueses achamos que só no nosso país é que isto acontece mas começamos a perceber que as obras de campanha e festejos andam mesmo pelo mundo fora!).

Contudo havia um facto que ameaçava retirar assistência aos festejos. O feriado iria calhar numa quinta-feira e foi concedida tolerância de ponto pelo Governo. Dessa forma antecipava-se que muito mais que celebrar o feriado, muita gente aproveitasse o fim-de-semana prolongado para viajar ou visitar as províncias. E a realidade é que na véspera do feriado o trânsito caótico em todas as principais artérias de saída/entrada da cidade indicava isso mesmo, a cidade iria estar deserta nos dias seguintes. Passamos desde já a explicar – Deserta nunca estaria, na verdadeira acepção, mas este adjectivo aplica-se por comparação à quantidade de gente que habitualmente circunda por Luanda.

Infelizmente nós iriamos mesmo ser dos poucos que permaneceriam na cidade. Apesar de eu, co-reporter, ter tido tolerância de ponto, o reporter não teve igual sorte, o que em dizer, inviabilizou a possibilidade de irmos até terras mais longínquas :)

Mas nem tudo é mau, no dia 11 tivémos a cidade toda para nós, não havia filas para nada, aproveitámos para despachar algumas coisas que tinhamos pendentes e fomos para um belo almocito num dos libaneses da cidade. A bem dizer fomos embuchar muita gordurinha com um Kebab do tamanho do mundo no Al-Amir, enquanto assistiamos na televisão às celebrações do 11 de Novembro por todo o território angolano, muitas vezes distraídos pelas conversas agitadas em árabe. Não nos recordamos com exactidão, mas durante aquela hora e pouco que ali estivémos foram inauguradas para cima de muitas estradas, pontes, escolas, hospitais, centrais hidrícas, em muitas províncias angolanas. Oxalá houvessem muitos 11 de Novembros durante todo o ano... mas pelo menos já é um começo!

Mas afinal estamos para aqui a falar, a falar, entenda-se, a escrever, a escrever... e não falámos ainda do feriado do ponto de vista histórico. Se analisarmos minuciosamente a independência não foi proclamada no dia 11, mas sim no dia 10 de Novembro, contudo para produzir efeitos a partir do dia seguinte. Por essa razão foi assinalado o dia 11 como dia da independência.

Melhor explicando, após o fim da ditadura em Portugal, com o golpe de estado de 25 de Abril de 1974, criaram-se perspectivas para a independência de Angola e de outros estados coloniais. Os novos governos portugueses constituídos no pós-revolução, foram iniciando negociações com os três principais movimentos de libertação angolanos (MPLA - Movimento Popular de Libertação de Angola, FNLA - Frente Nacional de Libertação de Angola e UNITA - União Nacional para a Independência Total de Angola), e dando assim origem a um período de transição para a implantação de um regime democrático em Angola (iniciado como o Acordo de Alvor, assinado a 15 de Janeiro de 1975).

No dia 10 de Novembro de 1975, o Alto Comissário e Governador-Geral de Angola, o Almirante Leonel Cardoso, em nome do Governo Português, proclamou a independência de Angola. Desta forma transferia a soberania e o domínio até então mantido por Portugal, para o Povo Angolano, o que ocorreria de forma efectiva a partir do dia 11 de Novembro. O facto de transferir a soberania para o Povo Angolano era uma forma de dizer e deixar claro que a mesma não era transferida para nenhum movimento político em particular. Muitas discussões já se tiveram em redor desta decisão e, sinceramente, não queremos analisar os factos por muitas e variadas razões, apenas transmiti-los. Foi com estas palavras que o Almirante proclamou a independência (transcrição de parte do discurso):

"E assim Portugal entrega Angola aos angolanos, depois de quase 500 anos de presença, durante os quais se foram cimentando amizades e caldeando culturas, com ingredientes que nada poderá destruir. Os homens desaparecem, mas a obra fica. Portugal parte sem sentimentos de culpa e sem ter de que se envergonhar. Deixa um país que está na vanguarda dos estados africanos, deixa um país de que se orgulha e de que todos os angolanos podem orgulhar-se".

Ainda assim controlo de Angola foi dividido pelos três maiores movimentos de libertação, então denominados grupos nacionalistas MPLA, UNITA e FNLA, pelo que a independência foi proclamada de forma unilateral pelos três.

O MPLA, que à data controlava a capital, Luanda, proclamou a Independência da República Popular de Angola por volta das 23h00 do próprio dia 11 de Novembro de 1975, através do seu presidente, Agostinho Neto, dizendo, "diante de África e do mundo proclamo a Independência de Angola”. Com estas palavras chegava ao fim à luta empreendida pela independência iniciada no dia 4 de Fevereiro de 1961, com a luta de libertação nacional, estabelecendo o governo em Luanda com a Presidência entregue ao líder do partido.

Já Holden Roberto, líder da FNLA, proclamava a Independência da República Popular e Democrática de Angola cerca da meia-noite do mesmo dia 11 de Novembro, no Ambriz, na província do Bengo.

Nesse mesmo dia, a independência foi também proclamada no Huambo, por Jonas Savimbi, líder da UNITA.

Contudo apenas prevaleceu como independência reconhecida internacionalmente, a que foi proclamada pelo MPLA, passando assim a FNLA e a UNITA, a partidos da oposição.

Esta divisão partidária e de luta pela governação do país antevia os acontecimentos que se sucederam, mas para a história ficou o 11 de Novembro como o dia da Independência de Angola.

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