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quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

23 de Setembro – Parte II Comuna para visitar: Kaluka

Depois do reconfortante almoço já eram 14.30 e a Comuna de Kaluka estava a cerca de 90 km de casa (40 dos quais em picada) e, uma vez que às 18 horas a noite é cerrada, já não restava muito tempo para terminar “a missão”.

Consegui uma nova percepção da cidade e lá estávamos na “estrada de Luanda” a caminho…
Apesar de só 100 metros depois nos apercebermos que já tínhamos passado a “cortada” para Kaluka o percurso na picada foi muito tranquilo. Comentámos até que, depois dos km’s que já tínhamos feito, aquela parecia ser a melhor e constatámos que era verdade mas…

Pois… Há sempre um mas…

Depois de atravessar ribeiros, passar em troços em que toda a estrada era envolta em capim, atravessar zonas em que as canas tinham uma grossura superior a um braço de um adulto, etc, após 20 km de picada (sem ver uma única casa ou pessoa) deparámo-nos com uma “passagem de ribeiro” (que pretendia ser uma ponte) em que apenas havia plataforma para os 2 rodados. O desnível era de cerca de 1,5 metros e a ponte deveria ter 5 metros de comprimento mas… Se algo acontecesse estaríamos a, pelo menos, 20 km do local em que começámos. A passagem foi pacífica…

Atingido o km 30 surgiram as primeiras 6 “casas” (em adobe). Perguntámos se o Administrador da Comuna estaria por ali e, a uns 20 metros da estrada, ouvimos uma senhora dizer “É mais à frente”. Prosseguimos e 10 km adiante um novo aglomerado (este já maior). Junto à estrada e debaixo de uma árvore estava um senhor já com os seus 60 anos e um menino com cerca de 12 anos. Parámos (porque pensámos que poderia ser ali e também para não “invadir” o espaço sem questionar nada a ninguém) e voltámos a perguntar pelo Administrador. O senhor, muito afável, simpático e sorridente, disse-nos que não sabia se ele estava mas que a Comuna era mais à frente e, nesse mesmo intante, com um sorriso simpático (quase de orelha a orelha), olhando para mim o menino acenou-me com a mão com um misto de “adeus, boa viagem” e um “olá, eu estou aqui” (o que fazia todo o sentido porque nos dirigimos ao senhor). De uma forma simpática retribuí o aceno e então tive direito a um aceno ainda mais enérgico.

Prosseguimos caminho e, agora num local mais amplo (em que a estrada tinha cerca de 10 metros de largura, e de cada um dos seus lados estavam “terraços” com mais 10 metros e só depois estavam as casas) parámos e voltámos a saber que “A Comuna é mais à frente”.

A nossa esperança aumentava cada vez que surgiam, ao longe, novos aglomerados e as certezas aumentavam quando conseguíamos vislumbrar casas (no sentido europeu do termo) pintadas de rosa escuro (cor normalmente utilizada para os edifícios públicos ou residências de titulares de cargos públicos). Contudo, só 28 km depois de surgir a primeira casa é que conseguimos falar com um representante da Administração da Comuna.

O nosso interlocutor era o responsável pela Educação da Comuna. Depois de explicado o nosso objectivo “obrigou-me” a entrar na sua casa para falarmos um bocadinho melhor e, depois de eu estar sentado nas cadeiras da sua sala, foi a outro compartimento. Depois percebi que pretendia “registar” a nossa presença e, começando com um “Qual é o objectivo da vossa visita?”, logo me pediu todas as informações necessárias para apontar na sua agenda.

Sendo o ponto de captação de água longe, segundo ele, sugeriu que fossemos na nossa viatura (e teria mesmo que ser porque depois percebemos que em todo o aglomerado não existia nenhuma viatura) e logo ele acedeu e convidou o “seu adjunto”, no pelouro da Educação, e outro vizinho que nos tinha levado até ele.

No caminho, depois de percorridos já mais 3 km’s decidi tentar perceber mais sobre aquela comuna porque passámos por diversas escolas, muitas casas, muitas crianças, jovens e adultos ao longo de 28 km. Ficámos então a saber que existiam 700 jovens em idade de escola. É verdade. 700 jovens. Ficámos também a saber que seriam cerca de 4.000 pessoas ali… No cume de uma montanha… A 40/50 km (o que representa cerca de 1 hora e 20 minutos a uma velocidade variável consoante o troço) da via principal.

Pelo caminho encontrámos ainda um secretário da Administração que, alcoolicamente bem disposto, não compreendia porque é que queríamos começar uma obra quando o Administrador não estava presente (apesar de serem 17 horas) e que, por isso mesmo, não queria ir connosco nem queria que nos levassem lá… Diplomaticamente (apesar de ser a um volume elevado o nosso “guia” conseguiu que ele se juntasse a nós e prosseguíssemos viagem).

Chegados ao “Rio”, algo preocupados com o caminho de regresso, fizemos o levantamento que necessitámos e regressámos ao local onde tínhamos recolhido o nosso primeiro interlocutor.

Nesse momento eram cerca de 17:40 e percebemos que muitos dos km’s da picada teriam que ser feitos de noite…

Iniciámos então o percurso de regresso (dando boleia ao Adjunto do nosso interlocutor para um aglomerado que estava a cerca de 5 km de distância) e já pelas 18 horas vimos um senhor a pedir boleia. Não tendo dado boleia a ninguém em 2 dias de percursos semelhantes, o meu companheiro de missão decidiu perguntar se “damos boleia ao homem?”. E ainda a cerca de 200 metros assenti… Chegados a 20 ou 30 metros vejo algo estranho na vertical encostada ao corpo do homem e, nesse mesmo momento, oiço o meu companheiro dizer “o homem é caçador?” e aí confirmei que, de facto, era uma espingarda. Apesar de estarmos perto pensei de imediato “tantos km em que nem ponderámos dar boleia a ninguém (que estivesse em marcha nas picadas) e quando começamos a abrandar para dar boleia é a um homem, com espingarda, quando não sabemos a quantos km estamos das próximas casas e de noite”.


Inevitavelmente parámos e perguntámos para onde ia. Calculámos que seria o próximo aglomerado e fizemos sinal para que subisse (para a caixa aberta da carrinha).

Durante todo o percurso (cerca de 20 minutos) dei por mim a olhar para o retrovisor para ter a certeza que a espingarda continuava na vertical… Tentei ainda concluir sobre o motivo de ele trazer consigo a espingarda…Só já quase a chegar ao povoado conclui (eventualmente com a clarividência de quem pensa que desde o momento que nos viu poderia ter feito algo e não o fez) que ele deveria ter feito vários km’s a pé e que, para se salvaguardar, preferia andar armado.

Chegados ao aglomerado o homem começou a tentar avisar-nos que era ali e assim que a viatura parou ele saltou para o chão, sorriu, agradeceu e começou a afastar-se em direcção às casas. Claro que só assim “não tinha piada” e o meu companheiro de viagem teria ainda que lhe perguntar “então o que é que caçou, mostre-me lá o saco”. E o senhor, que já estava a uns 20 metros do carro lá veio novamente em nossa direcção e, sem perceber muito bem a pergunta, emitiu um som, abanou o saco e sorriu…

Prosseguimos viagem e, no mesmo local, lá estava o “avô e o neto”, agora acompanhados de mais 2 pessoas. À nossa passagem (agora bem mais depressa) o senhor cumprimentou-nos com um lento aceno e, atrás do seu banco, o neto saltava e acenava “aos turistas”.

Nesse mesmo momento a noite estava a ficar evidente e, pela frente, ainda tínhamos cerca de 40 km de picada para percorrer. Pela frente, o capim, os riachos, a “ponte” e eventualmente pessoas a pé à beira da estrada…

Felizmente todo o percurso correu bem… Pelo caminho vimos muitas pessoas, vindas das suas lavras, em direcção a casa. Percebemos que uns esperavam pelos outros para que o percurso fosse feito em conjunto.

Até ao fim do percurso apenas mais uma surpresa… Em pleno troço de capim, ao longe, umas luzes… Só poderia ser um carro. Uns metros adiante confirmámos. Era um jipe de caixa aberta que atrás trazia muitos homens com equipamentos desportivos e chuteiras. Certamente admirado por se estar a cruzar ali com outro carro, abrandou a marcha e já quase ao nosso lado quase que imobilizou o jipe. Parámos ao seu lado, também para facilitar a passagem, e já parados lado a lado o meu companheiro de viagem perguntou se conseguia passar. Uma vez que “estávamos a ser analisados” perguntou ainda se vinham da cidade. A resposta foi afirmativa e, em jeito de despedida, “informámos” que íamos agora também para lá…

5 horas após a partida regressámos novamente a casa, com o objectivo cumprido, e com mais uma experiência “no bolso”.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

23 de Setembro – Parte I Comuna para visitar: Luvo

Depois do merecido descanso, porque após a longa e cansativa viagem já tinha feito mais 60 km de picada, foi novamente dia de visitar uma outra Comuna.

Esta, a Comuna do Luvo, tinha algumas características peculiares… Estava a cerca de 60 km de picada, era um local onde os meus colegas nunca tinham ido mas, principalmente, por se tratar de uma Comuna que fazia província com a República Democrática do Congo e por esse ser um local onde se fazia uma feira internacional todos os fins-de-semana… Sendo que uma semana é em território Angolano e na semana seguinte é em território Congolês.

Uma vez que o dia teria que ser suficiente para visitarmos 2 Comunas (uma a 60 km da cidade e outra a cerca de 90) a partida foi pelas 5 da manhã. O quarto era o mesmo porque não entregámos a chave com receio que os quartos fossem ocupados e depois não tivéssemos nenhum quarto disponível para nós…

Partimos em direcção ao Luvo e até aproximadamente metade do caminho nada de novo. Uma picada, como tantas outras, aqui e ali alguns aglomerados de casas e ainda algumas escolas e centros de saúde. Tal como já tinha visto noutras viagens, também aqui se viam grupos de crianças a fazer o seu percurso escola casa. Neste caso, havendo uma única estrada, era mais fácil perceber a quantidade de crianças que se movimentavam.

Difícil era perceber que, em alguns casos, elas teriam que fazer um percurso de 2 ou 3 horas a pé para que conseguissem concluir o percurso.

A cerca de meio do percurso a primeira surpresa… Depois de já termos passado um ou dois postos de controle um dos polícias mandou-nos parar. Antecipámos que seriamos alvo de mais uma das “inspecções” habituais que, na prática, não trariam novidade nenhuma… Mas desta vez não foi assim… O agente mandou-nos parar, de imediato, perguntou se estávamos a ir para o Luvo. Confirmámos e logo questionou se não nos importávamos de levar um dos seus colegas que ia entrar de serviço.

Aceitámos… Era de facto o nosso destino e, obviamente, um polícia no carro seria a garantia de ausência de problemas nos eventuais postos de controle seguintes…

Ainda com muitos quilómetros pela frente ficámos a saber que o agente era de MBanzaCongo mas que só ia de 3 em 3 dias a casa, que aquele era o seu “quartel” e que se deslocava para a fronteira porque esse era também um serviço daquele quartel…
Tentámos explicar ao que íamos e ele rapidamente concordou que era um bom motivo para irmos à Comuna.

Depois da experiência vivida em Nkalambata confesso que a ansiedade devido ao tipo de recepção era bem menor. Percebi que a água era um bem escasso para aquelas pessoas e que, por isso mesmo, qualquer pessoa que os pudesse ajudar seria bem recebido.

Depois dos efectivos 60 km em picada, que foram mais um excelente teste de resistência, chegámos finalmente a uma zona que se percebia ser “a fronteira”.

Depois de uns pequenos casebres que tinham como pretensão ser cafés, havia uma “guarita” junto a uma cancela. Após essa cancela algumas construções antigas (quase todas bem conservadas) e alguns camiões estacionados num grande largo formado pelas construções existentes.

O policia que estava na guarita olhou para a nossa carrinha, enquanto falava com o motorista de um carro que ele tinha abordado, porque não percebia porque nos aproximávamos com tanta confiança para ultrapassar a cancela mas, no interior da nossa carrinha, tínhamos o agente a quem estávamos a dar boleia a dizer para avançarmos e apitarmos para ele levantar a cancela. Depois de olhar para o interior da carrinha, vendo o cumprimento do colega, de imediato subia a cancela para que passasemos. Avançámos e estacionámos também nesse largo.

Talvez como forma de agradecer a boleia a agente que transportámos logo nos explicou onde nos deveríamos dirigir…

Depois de subir alguns degraus entrámos numa sala. À nossa frente estavam dispostas 2 mesas compridas onde estavam sentadas duas pessoas. Um rapaz com cerca de 30 anos e uma senhora de cerca de 40 anos. Questionei se o Administrador da Comuna estava e se, caso estivesse, poderíamos falar com ele. O rapaz disse que ele não estava, que tinha ido a M’BanzaCongo, e perguntou ao que vínhamos. Iniciei a explicação e, quase de imediato, a senhora levantou-se, circundou a mesa e apresentou-se. A senhora era a Adjunta do Administrador da Comuna. Explicou-nos que há umas semanas lá tinha estado outra empresa, disse quenão tinha informação que nós iríamos mas que, já que ali estávamos, ia criar as condições necessárias para que fossemos ver o local onde poderia ser efectuada a captação da água.

Foi uma abordagem diferente… Enquanto que em Nkalambata havia uma atitude simpática e amistosa de cooperação e de conversa com os restantes habitantes da Comuna, neste caso, tudo era tratado de forma quase automática e autoritária. Depois desta breve conversa connosco a senhora disparou uma série de ordens para que pudéssemos cumprir a nossa missão.

O “rapaz” que estava ali sentado era afinal o “professor”. A ele pediu que fosse chamar os responsáveis das polícias e que fosse ver se o Soba (normalmente o homem mais velho/respeitado dos aglomerados de casas) do local mais perto estava lá para, se estivesse, ir connosco pelo mesmo caminho que tinha ido há umas semanas com a outra empresa.

Enquanto aguardava pelo resultado das suas indicações falou então um pouco connosco.. Lamentou-se por serem aquelas as condições que tinha a Administração Comunal mas mostrou confiança num futuro melhor…

Viemos cá para fora, de onde a senhora tentava verificar todos os movimentos do “professor”, e percebemos que o agente a quem tínhamos dado boleia seria um dos nossos acompanhantes. Fomos então, de carro, com o “nosso agente” a casa do Soba para que ele nos acompanhasse.

Já com o Soba regressámos à Administração Comunal. Percebia-se que havia uma “agitação” anormal porque agora já havia mais pessoas fardadas por ali…

Para registar o momento, mas com a desculpa do “levantamento que viemos fazer” perguntei à Adjunta do Administrador se poderia tirar fotografias naquele local.

Expliquei que não queria infringir nenhuma regra e que, por isso, pedia a autorização. A senhora compreendeu e disse-me que pela parte da Administração Comunal eu estava autorizado mas que, uma vez que aquele era um espaço da fronteira, teria que ir pedir também autorização ao responsável da Alfândega.

Nesse momento arrependi-me de ter tentado tirar fotografias mas… Não tanto como alguns minutos adiante…

Mais uma vez requereu ao professor que nos acompanhasse para obter essa autorização. Após a indicação um reforço: “aguarde lá pelos senhores e depois acompanhe-os cá novamente”.

Chegados ao “gabinete” do agente da Alfândega (um hall de entrada de uma casa que tinha pouca iluminação e que, para além da secretária do agente, tinha 6 cadeiras plásticas alinhadas à sua frente), confiante na rapidez do processo, eu e o meu colega ficámos em pé à sua frente. O agente apontou para que nos sentássemos e eu respondi que “não vale a pena, é rápido”. De seguida o professor, de forma brilhante, explicou que “a Adjunta pediu para vir aqui com os senhores porque eles vão fazzer um trabalho de captação de água e querem tirar fotografias. A Adjunta autorizou e eles vêm falar com o Sr. Agente”. Nesse momento percebi que a conversa poderia ser muito rápida ou, ao contrário, poderia ser bem demorada… E não só…

De forma pouco amigável o agente perguntou então “O que é que vieram fazer??? Querem tirar fotografias na fronteira Angolana?” e aí sim… Nesse momento arrependi-me profundamente de ter ousado pedir para tirar fotografias…

Nervoso com a situação comecei a tentar explicar e o agente disse “se calhar era melhor sentarem-se”, eu confirmei que sim e ele rapidamente complementou com “Eu bem vos disse que era melhor sentarem”.

Já sentado prossegui então com a explicação. Quem éramos, ao que vínhamos, porque queríamos tirar fotografias ali, etc etc etc…

Já menos ofensivo mas ainda nada amistoso o senhor pediu a nossa identificação. Mais um arrependimento pelo pedido que ousei fazer…

Expliquei que a única coisa que tinha em minha posse, que demonstrasse que trabalhava na empresa era um cartão de visita e, obviamente, o Visto no passaporte. Depois de averiguar sobre a validade dos nosso passaportes e respectivos Vistos, disse então “isso quer dizer que se eu ligar a alguém para confirmar se o que me estão a dizer é verdade, as pessoas do Governo Provincial vão confirmar-me essa vossa história. Vão sabes que vocês aqui estão certo???”. Mais tranquilo respondi então que sim… Toda a história era verdade pelo que não havia nada a temer… Mas, enquanto estabelecia a ligação lembrei-me de “um pequeno pormenor” que poderia causar alguma confusão adicional… Por isso disse de imediato “podem confirmar-lhe que nós teríamos que vir aqui mas ninguém sabe que estamos aqui hoje” e ele, demonstrando pouca preocupação para o que eu estava a dizer, fez sinal para que eu me calasse…

A chamada estabeleceu-se e, mais uma surpresa… O diálogo estava a ser feito em Espanhol… Sabendo que as pessoas que saberiam da eventual obra e que conheciam a empresa, não falavam espanhol, mais uma vez receei pelo que dali resultaria… O senhor perguntou se conheciam a empresa, explicou o que tínhamos dito, etc e após alguns minutos em que era apenas ele a debitar informação consegui perceber que tudo estava a correr bem…

O interlocutor confirmava a versão e, mais engraçado, dizia que nós deveríamos era estar num aglomerado que fazia parte daquela comuna… É verdade… A indicação que nos tinham dado era Comuna do Luvo mas, na realidade, o trabalho seria para fazer no Sumpe, Comuna do Luvo.

O agente desligou o telefone e, automaticamente, tudo mudou… Falava agora para nós com uma simpatia enorme. De imediato pegou nos passaportes e, esticando o braço, fez questão de os entregar.

Depois, de forma simpática, explicou-nos i) que tinham confirmado o que nós tínhamos dito e que sim.. ii) Que poderíamos tirar fotografias ali e ir ao local onde se poderia fazer a captação da água mas… iii) Que nós deveríamos estar no Sumpe e não ali e finalmente…

A cereja no topo do bolo… Algo nervoso perguntou “e como é que vocês vão? Não podem ir sozinhos… Este é um campo minado e não poderão ir sem alguém que vos acompanhe”. Apesar do choque que tive com a expressão “isto é um campo minado”, expliquei que a Adjunta do Administrador já tinha providenciado essas questões com a polícia.
Tivemos ainda tempo para sugerir que visitasse os nossos escritórios quando fosse a M’BanzaCongo e para ficarmos a saber que o agente era de Luanda. Que estava ali apenas a fazer uma “Comissão de Serviço”.

Simpaticamente despedimo-nos e voltámos para a porta da Administração Municipal para, finalmente, iniciar a nossa viagem que já sabíamos que teria que ser feita a pé e que teria que ser longa…

Tempo para uma fotografia no Largo onde os veículos aguardavam o visto da alfândega até entrar/sair do território Angolano e a um e dos edifícios que ficava em frente.



Ainda a conversar sobre o facto de “ser um campo minado”, chegámos à porta da Administração Comunal. Ali aguardavam-nos várias pessoas… A Adjunta do Administrador, o agente a quem tínhamos dado boleia, outro polícia que parecia se ro seu chefe, 2 polícias de farda verde, o professor e o Soba.

Expliquei à Adjunta como tinha corrido a conversa com o polícia da alfândega e ela demonstrou que estava tudo preparado para que rumássemos então em direcção ao local de captação de água. Nessa altura ouvimos então um dos polícias a perguntar “quem é que tinha a arma”

E, mais uma vez, fiquei surpreso.

A acompanhar-nos iria o Soba (para nos levar até lá), 1 agente da segurança pública (vulgo polícia) e 1 guarda fronteiriço e, apesar de sermos 5 pessoas eles perguntam pela arma. Fiquei algo baralhado e, obviamente, preocupado…

Depois de tantas questões logísticas seria só necessário eu levar uma caneca e o meu caderno para tentar registar os elementos necessários. Enquanto fomos à carrinha buscá-los comentámos, eu e o meu colega, que tudo aquilo era muito estranho… Ambos estávamos surpresos mas… Naquele momento nada havia a fazer.

Preferimos considerar que o local de captação de água poderia ser muito próximo da fronteira e que, por isso mesmo, seria necessário todo aquele aparato para que ninguém pensasse que estaríamos ou a entrar no Congo ou a tentar fazer algo “estranho” ainda em território Angolano…

Pelas 7.30 iniciámos, finalmente, a marcha em direcção ao local pretendido.

Devo confessar que fiz o inicio do percurso um pouco a medo… O Capim era muito alto e da minha cabeça não saiam as palavras do agente da alfândega “aquela zona era minada”. Por isso mesmo coloquei-me na terceira posição logo a seguir ao guarda fronteiriço que ia atrás do Soba. Tentei seguir o alinhamento dos seus passos para que não houvesse problema.


Alguns, bastantes, metros adiante comentei o que me tinha dito o Agente fronteiriço e ambos se riram. Nesta altura os restantes elementos tinham ficado um pouco mais para trás… O Soba explicou então que ali não havia minas. Complementou que elas foram colocadas mais perto da estrada e da fronteira.

Fiquei um pouco mais descansado mas, na realidade, o receio não fugiu…

Após o policia reclamar pelo facto do Soba não ter trazido a catana ele explicou que “quando chegaram na minha casa disseram-me que a Adjunta me tinha chamado, não me disseram que era para vir para o mato” e todos nos rimos… Ele tinha razão… A abordagem foi tal como se estivéssemos a convocá-lo para uma reunião….

O Capim era assim:


Prosseguimos então em direcção ao tão desejado local.

Para trás já tínhamos deixado uns bons 2 km’s. Já tínhamos ultrapassado capim e também já tínhamos passado numa picada, totalmente desprezada, mas que ainda se percebia ter sido em tempo o acesso ao local onde iríamos.

Diziam os nossos companheiros de viagem que “tudo isto foi feito pelo Colono. Eles fizeram o poço, tinham a casa das máquinas e potentes bombas para bombear água para as casas do Luvo. A picada era óptima”. Explicavam ainda que “depois foram estragando a canalização e as bombas desapareceram.. agora nada funciona e não temos água na Comuna”.

Mais uma vez uma surpresa… Aquele grupo de homens demonstrava muito apreço pelo que tinha sido feito e, ao mesmo tempo, desilusão pelo facto de tudo não ter sido mantido…

Antes de chegar atravessámos ainda uma zona de grandes árvores, com troncos de diâmetros bem apreciáveis, que parecia totalmente desenquadrada da restante paisagem…

Logo a seguir o local que pretendíamos…

A casa das máquinas, ainda com a inscrição do que penso ter sido a Companhia de Cavalaria 8453, designada como “Os Felinos” que, pressuponho, terão construído aquela infra-estrutura.



Ao lado o poço. No fundo tratava-se de uma nascente onde tinha sido feito um depósito… A água era fresca e límpida. Todos os companheiros de viagem se baixaram e beberam daquela água. Confesso que apetecia. Depois de quase hora e meia a caminhar e do calor já se fazer sentir aquela água revela-se muito refrescante mas, por precaução, não o fiz.

Depois das fotografias da praxe e de mais algumas conversas, chegava a altura de regressar.

Houve ainda tempo para saber que o Soba conhecia toda aquela zona como as palmas das mãos. Para quem sabia, explicava que “noutro tempo” ia dali a pé até ao quartel da FNLA que, todos concordavam, ficaria a uns bons 30 km’s. Explicava-me ainda, apesar de ser longe, onde era o limite do território Angolano.

E regressámos… Agora mais à vontade com o território e com os meus companheiros de viagens tirei mais fotografias…


No percurso tive ainda oportunidade de tirar uma fotografia que, quem conhece Angola, sabe que basicamente só poderia ser daquela zona do país… É o único local onde as populações recolhem o material argiloso (barro) e o misturam de forma a criar um adobe e, depois disso, o cozem em fornos comunitários. Esta é a diferença… Na zona de M’BanzaCongo, as habitações são feitas de adobe cozido… Aqui fica o exemplo de um desses fornos e, na outra fotografia, a demonstração de como a escavação era feita mesmo ali ao lado ou, melhor dizendo, que o forno foi criado na zona onde havia a matéria prima…



E um último registo já mesmo a “chegar à civilização”.


Regressados novamente ao “largo”, ou seja, à zona que antecedia a fronteira física entre Angola e a República Democrática do Congo, questionei os nossos parceiros de viagem se não queriam beber nada. Evidentemente que concordaram e, de imediato, se apressaram a dizer que teria que ser naquele café porque estavam fardados e ali estavam mais resguardados.

Ainda em pé um deles pediu uma cerveja para cada um. Uma Doppel. Depois olharam para nós e perguntaram se também queríamos. Dissemos que não conhecíamos e explicaram que era uma cerveja de meio litro do Congo. Dissemos que não e pediram então 2 Super Bock.

Naquela altura o pedido pareceu-me normalíssimo… Apenas quando comecei a beber e olhei para o relógio é que percebi que estava a beber uma cerveja às 10.30 da manhã. Não que exista uma hora para beber uma cerveja mas, normalmente, não as bebo a essa hora… Naquela altura, confesso, já sentia que tinha passado meio dia porque, para além de ter de acordar tão cedo, fizemos todos aqueles km’s de picada e, como se não bastasse, tivemos ainda 3 horas a pé… Portanto…
Era mais do que justificada…

Aqui fica uma amostra da cerveja Congolesa. 


Foi naquele ambiente social que ficámos a saber algumas coisas novas.

Em primeiro lugar que aquela era uma das zonas do país onde existiam mais cobras.

Segundo contaram, no percurso que fizemos, normalmente, surgem algumas cobras.

E assim ficou esclarecida uma das dúvidas. Porque é que eles tinham levado uma arma? Explicou o guarda fronteiriço que não poderia correr o risco de ir para o meu do mato com 2 cidadãos estrangeiros sem os conseguir proteger porque se algo acontecesse eles seriam os responsáveis. Por isso mesmo ele não admitiria acompanhar-nos sem a arma.

Disseram ainda que ali perto, no sentido contrário ao que tínhamos tomado, existiam centenas de cobras. Não sei se seria verdade mas…

Ficámos ainda a saber que, apesar das boas relações diplomáticas, por vezes existem algumas questões… Parece que há uns tempos um militar Angolano apareceu no Luvo fardado. Tratou de toda a documentação fardado e, só depois disso, vestiu uma roupa civil… Isso originou um problema porque alguém do Congo lhe tinha tirado fotografias fardado e, uma vez em território Congolês, foi preso e acusado de que “ia para o Congo para atacar altos governantes”. Felizmente o problema diplomático foi resolvido…

Ficámos também a saber que, fardados, só os militares da fronteira podem andar no outro país sem ter problemas. Contudo só o poderão fazer numa distância máxima de 5 km após a fronteira… Até essa distância eles poderão ir sem que possuam a documentação de entrada no país…

Por curiosidade perguntámos ainda como era o processo para entrar no Congo e, ao que parece, é extremamente simples – mesmo para nós expatriados. Uma vez que somos cidadãos estrangeiros e estamos autorizados a estar em Angola, bastaria um cartão validado para que pudéssemos andar pelo Congo sem qualquer problema.

Ficámos com vontade mas, infelizmente, não havia tempo para isso…

A informação, para mim, mais curiosa foi o que nos contaram acerca das feiras semanais. Tal como já escrevi, após a zona da Cancela e do largo que já referi, existe uma zona onde se realiza a feira quinzenal (do lado Angolano). Mas, ao contrário do que pensava, essa não é uma feira qualquer… Tal como nos explicaram aquela é uma “feira internacional” porque, para além de haverem cidadãos dos dois países, existem ainda vendedores que vêm de mais longe…

Em relação a Angola explicaram que vinham imensos camiões de Benguela e do Lobito, ou seja, a cerca de 1.000 km (sendo que não são 1.000 km de estrada pavimentada). Fiquei estupefacto… Depois percebi que esse camiões traziam peixe seco. Cada saco de aproximadamente 50 Kg custa cerca de 50 Usd.

Confesso que fiquei muito curioso relativamente a esta feira. Quem sabe se, numa próxima oportunidade, não conseguirei fazer uma visita… Espero que sim…

Acabado o momento de repouso tínhamos ainda um pedido a fazer… Ir, de facto, à fronteira com o Congo. Já tínhamos percebido que estávamos a cerca de 1 km. Queríamos mesmo estar lá e ver…

Amavelmente todos eles disseram que nos acompanhavam. Coube ao agente a quem tínhamos dado boleia ess simpatia. Mais uma vez passámos a zona da Cancela.

Entrámos na carrinha, que estava estacionada no Largo, e lá fomos… Adiante um novo posto de controle. Mais uma vez um aceno dele foi suficiente para que nem abrandássemos. Rapidamente os agentes ali parados se apressaram a tirar os cones que pretendiam demonstrar que aquele era um local de paragem obrigatória.

Passámos pela zona da feira e, pouco tempo depois, estávamos finalmente na fronteira entre Angola e a República Democrática do Congo. À nossa fronte estava uma guarita a indicar que ali era a República de Angola e logo de seguida uma ponte metálica.

Saímos do carro e, vendo o nosso acompanhante, rapidamente os 5 policias ali parados vieram junto a nós para nos cumprimentar. Após uma pequena explicação sobre quem éramos, o que estávamos ali a fazer e o que tínhamos feito naquela manhã, fomos simpaticamente acolhidos naquele grupo de autoridades. O nosso acompanhante apressou a tirar a arma e a dizer-nos que ia aproveitar para cumprimentar uns amigos Congoleses e um dos guardas fronteiriços repetiu-lhe o gesto mas, explicou-nos, para nos levar à zona neutra. Regressou de novo perto de nós e fez-nos sinal para avançarmos na ponte.

Depois explico então que a ponte tinha 9 chapas metálicas e que, por isso mesmo a 5 era a zona neutra. Já parados nessa chapa disse então “estes são os 2 metros da zona neutra”.

E ali estávamos nós… A meio do Rio que faz fronteira entre Angola e o Congo.

E ali estava eu… Num local completamente improvável e, principalmente, de forma totalmente inesperada… Aquilo que parecia ser uma “simples” viagem a M’BanzaCongo estava a revelar-se muito mais interessante do que à partida parecia.

Após alguns minutos por ali a nossa hora tinha chegado. Tínhamos apenas tempo para colocar o agente no seu posto, despedirmo-nos de todas as pessoas e regressar novamente a M’BanzaCongo. Mas antes disso teríamos ainda que parar no Sumpe… Aquele aglomerado que o agente da Alfândega nos tinha indicado…

Essa visita foi acompanhada pelo “professor” para que alguém nos recebesse no Sumpe e nos ajudasse. Pelo caminho cruzamo-nos ainda com a Adjunta do Goernador que estava a regressar de uma conferência direccionada às mulheres da Comuna.

Simpaticamente cumprimentou-nos e perguntou se tínhamos conseguido ver tudo. Confirmámos. Um sorriso enorme surgiu na sua cara…

No Sumpe o trabalho foi simples… Foi apenas verificar que existia um furo feito ao abrigo de um programa da SONANGOL e fazer o levantamento necessário para os trabalhos….

A escola do Sumpe, vista do local onde está o furo


E, para concluir este longo post, duas fotografias da estrada LUVO-M’BANZACONGO que atravessa a comunidade do Sumpe.


quarta-feira, 24 de novembro de 2010

22 de Setembro – Parte II Comuna para visitar: Nkalambata

Sem saber sequer no mapa onde era a Comuna, e acompanhado por um encarregado que tinha chegado à 1 mês aquela província, fizemo-nos à estrada para chegar à Comuna de Nkalambata….

Sabíamos qual era a picada que deveríamos seguir e que ficava a cerca de 30 km da cidade.

A picada, que inicialmente era de terra batida sem grandes buracos, uns km’s adiante passou a ser um pouco “mais severa” e voltou novamente a ter um piso regular…

Já depois de termos passado alguns aglomerados que não sabíamos se seriam ou não o que pretendíamos (porque não tinham placa que os identificassem), e fazer contas para ver se já teríamos ou não ultrapassado os tais 30 km que nos tinham sido dados como referência, percebemos que tínhamos chegado ao objectivo. A confirmação foi dada pela placa:


Nesse momento, confesso, fiquei algo nervoso. Já com 1 ano e um mês de Angola continuo a sentir que não há uma fórmula mágica para abordar as pessoas de forma a que sejamos bem recebidos/interpretados. Bem sei, porque já o percebi das viagens que fiz e já muitos colegas o disseram/demonstraram que fora de Luanda as pessoas são diferentes mas…

Ali estava eu, e um colega, mas que chegaríamos e teríamos que fazer algumas perguntas… Ir procurar locais onde pudesse ser efectuada a captação de água, etc etc etc… E a grande questão era “de que forma é que vamos ser recebidos?”. Não sabia…

Mas… O que tem que ser tem muita força e…

Enquanto fazíamos a manobra para trás, porque tínhamos avançado após a placa a tentar procurar a Sede da Comuna, a Escola ou outra “instituição” a que nos pudéssemos dirigir, perguntámos a uma senhora se seria possível falar com o Administrador da Comuna. Ela, com desconfiança e rapidez, disse que o Administrador não estava mas que estava a Adjunta na casa seguinte e, com a mesma velocidade com que responder, prosseguiu o seu percurso. Avançámos, ainda dentro do carro em direcção à referida casa, e atrás de nós ficava a senhora a olhar para confirmar se iríamos parar na casa correcta.

Parámos.

Do outro lado da vedação 2 senhoras e 3 crianças que pararam a olhar para nós como que a perguntar “quem são estes e o que é que querem”. Vindo da casa surgiu um homem, com os seus cerca de 35 anos, que ficou igualmente a olhar para nós…

Saímos da viatura e perguntámos se a Adjunta do Administrador estava. De imediato o homem disse que sim e fez sinal para transpormos a vedação que separava o espaço da casa da estrada.

As senhoras e as crianças continuavam a olhar-nos como que ainda mais admirados pela nossa presença.

Do interior da casa surgiu então uma senhora, descalça, com cerca de 50 anos. Cordial apresentou-se como Maria, cumprimentou-nos e disse que o Administrador tinha ido à cidade e que, na sua ausência, era ela (adjunta) que o substituía. De seguida perguntou-nos ao que vínhamos.

Explicámos que vínhamos ao abrigo de um programa para a execução de obras de captação, tratamento e água e que necessitávamos de fazer uma visita para percebermos que tipo de intervenção seria necessária.

Nesse momento a D. Maria sorriu passou as mãos pela cabeça e disse que não estava a perceber o que queríamos.. Expliquei que necessitávamos de saber se tinham um poço, um furo, um riacho ou algo semelhante e se, caso tivessem, alguém nos poderia mostrar.

Energicamente abandonou-nos e dirigiu-se ao interior da casa e, já lá dentro, disse então que nos iriam mostrar o que fosse necessário vermos. Regressou então à “porta” (que na prática era um cortinado) e agora tinha a sua mala ao ombro e, enquanto falava, tentava então calçar os sapatos.

Novamente junto a nós dizia, visivelmente contente que “se vocês vêm para nos servir a água temos todo o prazer em ir mostrar-vos o que necessitam”.

Admirado pela “recepção” e também pelo facto da senhora estar a preparar-se para ir connosco disse que não seria necessário ela ir e que bastaria que alguém nos acompanhasse… Confesso que achei que era uma situação demasiado banal para que fosse a senhora a acompanhar-nos mas…

Errado… Mais uma vez estava a utilizar padrões desadequados à realidade…

A senhora explicou-me então que as mulheres da comuna percorrem km’s para conseguir trazer água até casas. Portanto, se nós ali estávamos, queria ser ela a tratar desse assunto…

E só nesse momento consegui perceber a real dimensão do que estava a fazer… Saí do escritório para “avaliar a possibilidade de fazer umas obras” e, naquele mesmo momento, estava a perceber que aquilo que para mim eram “apenas” umas obras, para aquelas pessoas representava uma melhoria muito significativa na qualidade de vida… Nesse momento percebi que, por esse mesmo motivo, era “ridículo” recear a reacção das pessoas à nossa chegada…

Lá fomos então, nós, a D. Maria e o tal homem com quem contactámos inicialmente…

O percurso, de aproximadamente 1 km, foi assim:



Depois de passar um pequeno ribeiro, de passar por diversas hortas, e de algumas conversas muito agradáveis e interessantes com os nossos anfitriões chegámos então ao local desejado… Um poço e uma casa das máquinas. 2 construções que teriam alguns anos mas que estavam em bom estado de conservação. No interior da casa das máquinas não havia máquinas mas o poço tinha água… Percebemos que não era fundo e que, na prática, eram apenas 2 anéis circulares que serviam como depósito da água que ali nascia…

Vista esta parte explicámos que seria necessário armazenar a água junto às habitações, que estavam de onde partimos e cujo desnível para o local onde estávamos era acentuado. Para isso pedimos que nos fossem mostrar um local onde isso pudesse ser contruído. E aí a surpresa… A D. Maria explicou-nos que “perto das casas havia um depósito que ficava também perto do quartel militar dos colonos”… Percebemos então toda a envolvente… Naquela zona havia um quartel militar. Para abastecimento a esse quartel os militares identificaram aquela nascente. Criaram condições para que a água fosse armazenada e depois bombeada até ao quartel… E por isso aquele “poço” e a casa das máquinas…

Pedimos então para ver esse tal depósito….

Pelo caminho, agora já com grande empatia com a D. Maria, houve ainda oportunidade para algumas perguntas…

Em primeiro lugar perante uma “armadilha” para a mosca do sono. Durante metade do percurso de Luanda a M’BanzaCongo existe uma grande quantidade de moscas do sono, também designadas como moscas Tsé-Tsé, e não é conveniente que façamos paragens. Durante essa parte do eprcurso tinha visto algumas destas armadilhas… Agora queria saber como funcionaria mas a D.Maria também não sabia muito bem como funcionavam…


E em segundo lugar quis tentar saber o que teria sido um edifício que ali estava, totalmente degradado. Fiquei então a saber que tinha sido uma igreja protestante. Aqui fica a fotografia.


Chegados ao depósito, cerca de 1 km depois e a mais 200 metros de altura concluímos que aquele era apenas um ponto intermédio entre a captação e o destino final daquela água… O quartel militar… Enquanto analisávamos o depósito a curosidade dos miúdos da escola era grande…


Enquanto íamos em direcção ao antigo quartel militar, tempo ainda para uma fotografia à escola


A entrada do dito quartel, que vulgarmente é designado de Porta de Armas, era uma pequena casa para vigilância que separava duas vias (uma de entrada e outra de saída).

Junto à casa de vigilância uma pedra com inscrições que parecia ser o registo das “companhias” que tinham passado por aquele quartel. Uma fotografia para registo…


E um pormenor das inscrições


Mais um pequeno percurso até ao às construções do quartel…


Durante este percurso a D. Maria mostrou algo que eu, sinceramente, não esperava… Por diversas vezes se referia “aos colonos” de uma forma amigável e, uma vez que já tinha percebido com que tipo de pessoa estava a interagir, disse-lhe sinceramente que receava um pouco a nossa recepção porque muitas das pessoas em Angola não reagiam bem quando confrontados com o passado e agora, ali, percebia que a atitude era diferente… Sorrindo explicou que muitas das pessoas não tinham a verdadeira noção do que os Portugueses tinham feito… Depois exemplificou no caso especifico de Nkalambata… Mesmo após todos estes anos estávamos a ver construções que tinham sido feitas 45 anos antes e que, se tivessem sido mantidas, estariam a proporcionar outras condições de vida aquelas pessoas…

E essa é a realidade…. Com esta visita a esta comuna tive a certeza que nós portugueses muito fizemos por esta terra… Não falo, porque desconheço, como é que as coisas se passavam no período antes da guerra colonial mas constato que muito foi feito para o bem deste país…

E isso, confesso, orgulha-me… Foi um prazer muito grande falar com a D. Maria e perceber que algumas das pessoas mais velhas valorizam a atitude dos “ex-colonos”.
Tivemos ainda tempo para saber que a D. Maria estava a tirar um curso na universidade e, respondendo à nossa pergunta sobre como se dizia o nome da terra, explicou que enquanto que para os Europeus se pronunciava o “M” de M’BanzaCongo, os Africanos diziam apenas BanzaCongo, situação que também se verificava com “Nkalambata” ou “kalambata”.

Chegados ao quartel o pátio e as construções que os militares partilhavam..


Logo ali outra inscrição…


Vendo que a estava ali no chão e que as crianças da escola brincavam sobre ela, sugerimos à D. Maria que guardassem aquela placa porque, sem dúvida, aquilo fazia parte da história daquela comuna. Compreendendo e dizendo que o passado era o que era, deu indicações aos 2 homens que nos acompanhavam agora, para que aquilo fosse guardado…

Em duas paredes dos quartéis as marcas daquilo que penso ter sido duas companhias que passaram por aquele quartel…



Antes do regresso à Comuna houve ainda direito a ums perspectiva geral de Nkalambata


Antes de regressar a M’BanzaCongo, tempo (e autorização) ainda para umas fotografias adicionais de Nkalambata…



E já à entrada de M’BanzaCongo uma perspectiva de um dos vales da cidade


E ainda uma visita aos 3 grupos geradores que alimentam toda a cidade de energia eléctrica…

domingo, 21 de novembro de 2010

22 de Setembro – Parte I “Ver” M'BanzaCongo

À chegada, no dia anterior, estava totalmente desgastado… Para além do impacto físico, assolava-me uma dor de cabeça monumental que me tirava a fome e qualquer capacidade de “raciocínio”…

Por isso mesmo não consegui criticar a situação com que nos deparámos à chegada ao Hotel de MBanzaCongo… Que poderia ser designado de residencial mas… Quando chegámos, apesar da reserva ter sido feita com 3 dias de antecedência, disseram-nos que os quartos (no piso que pretendíamos) já estavam todos ocupados... Disseram-nos que os nossos nomes não constavam na lista e, por isso mesmo, fomos encaminhados para outros dois quartos …

O meu quarto era óptimo… O cansaço era tanto que parecia um maravilhoso quarto de qualquer hotel de 5 estrelas… eheeheheheh

Ao chegar à sala do pequeno almoço, no dia 22, tentámos perceber porque não havia reserva e… Foi simples… Eu tinha uma reserva em nome “Dias” (e não João Dias como tínhamos dito no dia anterior ao funcionário) e o outro quarto estava reservado no nome de um antigo colaborador da empresa (e por isso mesmo o funcionário não encontrava a reserva no nome do meu colega).

Adiante…

Depois de um “pequeno almoço básico” (fiambre, queijo e uma chávena de chá), lá fui eu com o meu colega para o escritório. Sabíamos que haviam alguns processos que tinham que ser entregues com muita urgência e que, por isso mesmo, a nossa “estadia” serviria de auxilio importante…

Depois de um curto percurso e de um “reconhecimento” ao nosso escritório (uma moradia) agendámos uma visita pela cidade para identificar soluções para um trabalho para o qual iríamos apresentar proposta.

Dessa visita resultaram as seguintes fotografias:


Com esta visita percebi o que era, realmente, África… Consegui perceber a grande amplitude que separa Luanda de muitas outras “cidades” do país…

M’BanzaCongo, uma das cidades mais importantes da história desta região de África, é agora “apenas” a capital da Provincia do Zaire.

M’BanzaCongo, que tinha o mesmo nome antes de ter sido rebaptizada São Salvador do Congo após os primeiros contactos com os Portugueses (fase em que se deu também a conversão do manicongo ao catolicismo) foi a capital do Reino do Congo ou Império do Congo. Este foi um reino africano localizado no sudoeste da África no território que hoje corresponde ao noroeste de Angola, a Cabinda, à República do Congo, à parte ocidental da República Democrática do Congo e à parte centro-sul do Gabão.

in http://pt.wikipedia.org/wiki/Reino_do_Congo

Para que melhor se perceba a dimensão deste Reino, aqui fica um mapa que, apesar de ter a inscrição de Namíbia dentro dos limites de Angola, é uma excelente representação


E para quem quiser alargar um pouco os seus conhecimentos sobre o Reino do Congo, aqui fica um blog que me surpreendeu pela qualidade do seu conteúdo:

http://civilizacoesafricanas.blogspot.com/2010/06/o-reino-do-congo-em-finais-do-seculo-xv.html

Apercebi-me que M’BanzaCongo possui alguns icons da história do Reino do Congo o que demonstra a preponderância que possuía nessa época… Futuramente, espero, existirão outros post’s que divulguem um pouco mais da história desta cidade/província.

De volta “à minha viagem/visita”…

M’BanzaCongo mostrou-me uma Angola diferente…. Uma Angola em que a terra é realmente avermelhada e uma terra em que a simplicidade predomina. Face à proximidade dos países vizinhos, Congo e República Democrática do Congo, diziam-me os meus colegas que aqui a cultura tinha muita influência do Congo e que, segundo eles, as pessoas eram mais fechadas…

Pouca interacção tive com pessoas locais pelo que não pude constatar essas informações… Pude foi ver que se contavam pelos dedos de uma mão as ruas asfaltadas… Pude foi verificar que as pessoas se movimentavam essencialmente a pé… Pude foi sentir que aquela Terra Avermelhada que sempre achei característica de África tem uma grande componente argilosa… Pude foi “beber” uma série de coisas que não esperava…

Para a tarde estava então reservada a “primeira surpresa” desta viagem a M’BanzaCongo que, aparecentemente, seria breve e daria para conhecer um pouco a cidade…

Percebemos que seria conveniente efectuarmos um “levantamento” in situ para algumas eventuais obras de captação, tratamento e distribuição de águas em Comunas da cidade…

Bom, “para Português perceber”, tomo a liberdade de estabelecer o seguinte paralelismo:
Portugal               Angola
Distrito                Província
Municipio            Município
Freguesia            Comuna

Sendo que a Província em Angola, diria, tem um grau de autonomia superior a uma Autarquia em Portugal e a Comuna poderá corresponder apenas a um aglomerado de casas.

Detectada a necessidade “Auto propus-me” para essa tarefa…

E daí surge a primeira grande surpresa… Para a tarde agendámos uma visita à Comuna de Nkalambata…

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

21 de Setembro – Uma viagem à província do Zaire

Depois de muitas viagens a uma cidade longiqua onde a empresa possui diversos trabalhos, um dos meus chefes perguntou-me ontem se eu desta vez poderia ir com ele.

Por imensas vezes disse que iria mas acabou sempre por surgir trabalho imprevisto e a viagem foi sempre sendo adiada…

Desta vez disse que iria mas, da parte dele, não havia a certeza se seria para ir ou não… Por isso ficou condicionado a um telefonema a fazer hoje.

O telefonema revelou que seria necessário ir e, pelas 10.30 estávamos a partir… Para onde??? Cidade de M’BanzaCongo, a capital da Provincia do Zaire.

A Provincia do Zaire , a Norte de Angola, cuja identificação se pode ver na figura abaixo, tem área de 40.130 km² e sua população é de aproximadamente 600.000 habitantes.


Um maior detalhe relativamente a esta província:


À partida sabia muito pouco…

Sabia basicamente que a viagem era de 500 km que se percorriam em 8 horas. Que existia um primeiro troço, de aproximadamente metade dessa distância, em que a estrada era uma autêntica picada e que não se fazia em menos de 5 horas.

Quanto à cidade em si sabia apenas que “não havia nada”, “que as pessoas falavam mais Congolês do que Português”, “que a energia eléctrica para toda a cidade era obtida através de grupos geradores”, “que só havia uma estrada alcatroada” e que, para muitos colegas, era um excelente exemplo daquilo a que, vulgarmente, designamos como “fim do mundo”.

Ao entrar no carro para iniciar a viagem tentei fazer um reset total… Predispus-me psicologicamente a 3 dias totalmente diferentes e decidi retirar o máximo possível daquilo que seria, para mim, “uma aventura em Angola”. Foi esse o meu espírito…

A viagem teria o percurso: Luanda – Cacuaco – Barra do Dande – Musserra – N’Zeto – Tomboco e M’BanzaCongo.

Uma vez que já conhecia o percurso até à Barra do Dande (apesar de termos ido por um caminho um pouco diferente), a grande descoberta seria daí para a frente… E foi de facto…

Alguns quilómetros adiante da Barra do Dande começámos então na Picada… Não vale a pena muitos adjectivos…. A “estrada” era assim:



E o que, aparentemente, se revelava uma “estrada” relativamente má, um pouco adiante, revelou-se uma picada (igualmente má):


Ali estava já uma primeira viatura encostada… Para descansar ou por avaria, não soubemos, mas parecia que o Unimog antecipava a dureza da viagem e preferia ficar por ali… Mais perto da cidade…

Uns quilómetros adiante tínhamos então a demonstração de que o percurso não era só feito por viaturas 4x4… Também os Táxis, ou Kandongueiros, ou IACES (expressão oral utilizada para deas Toyota HIACE muito utilizadas como táxis) faziam esta dura viagem…


Variando com os locais em que não existia vegetação, deparávamo-nos com longas extensões de locais com vegetação assim


Como não poderia deixar de ser, durante o percurso também haviam “restos” de avarias e/ou acidentes… Um bom exemplo foi esta MAN (apesar de ser muito semelhante a uma BERLIET – TRAMAGAL) :


Passámos ainda por um bulldozer que, apesar de não termos a certeza se estaria a fazer um trabalho muito bom, lá estava a escarificar o pavimento… No regresso percebemos que sim… Que tínhamos poupado tempo de viagem…


Algures encontrámos ainda aquilo que parecia ser um “ponto de paragem” dos resistentes e corajosos camionistas…


Já com bastantes km’s percorridos soube que os pneus já tinham algumas “marcas” de viagens anteriores… Depois de ver reciei que a viagem não fosse tão rápida como esperava/pretendia mas, felizmente, tudo correu normalmente.



Uma amostra de um dos imbondeiros que vimos…


Houve ainda tempo para registar um local onde um dos nossos colegas de trabalho fez alguns turnos de vigia… Um posto de controle de “outros tempos”…


Um pouco adiante, nas casas azuis da foto, lá estava um outro “posto de controle”. Desta feita era um posto actual onde felizmente o controle era apenas utilizado na designação do local… Digo “felizmente” porque por vezes as abordagens e pretensões dos “controladores” são muito peculiares mas… Mas certamente que nesta viagem (ou regresso) existirá alguma situação digna de relato… A ver vamos…


Mais registos do “peculiar” percurso…



E uma amostra do pó fininho que se levantava à nossa passagem…


Quase a chegar ao N’Zeto uma rocha “característica”. Não só pela sua forma e pela ilusão que cria como também pelo facto de ser o “anúncio” (quando a viagem é feita de Sul para Norte) de que o viajante está próximo do local em que é possível, novamente, re-estabelecer comunicações através de telemóvel…


Finalmente o N’Zeto…

É um dos locais mais referenciados pelos viajantes, e também pelos colegas que estavam em M’BanzaCongo, e por isso mesmo a espectativa era grande… Chegádos lá fizemos uma visita à praia:





E seguimos viagem o que é equivalente a dizer que conhecemos o resto da “Vila”…
Talvez por já ter ouvido diversas referências ao N’Zeto (antigo Ambrizete) eu tenha criado a sensação que seria um local desenvolvido… Infelizmente, com esta viagem, essa ideia desvaneceu-se. O grande factor de diferenciação é a praia… Em tudo o resto é um local como existirão, certamente, muitos outros por Angola... Ruas largas, algumas com passeios outras sem passeios, casas degradadas por falta de manutenção e outras, mais na perifiria, visivelmente mais humildes… Consegue-se perceber que, tal como é hoje, este já foi um ponto estratégico para os viajantes mas, sem dúvida, que a oferta era também bem diferente da que existe hoje em dia…

Aqui ficam algumas fotos do N’Zeto:





Saímos então do N’Zeto em direcção ao nosso destino final… Esta metade do percurso adivinhava-se menos “massacrante”…


Alguns quilómetros adiante estava o primeiro vestígio de guerra que existe em todo o percurso… Mais tarde percebi que era o primeiro e o único… Mais uma demonstração de que, ao contrário do que eu pensava, em Angola não existem vasos de guerra espalhados de 5 em 5 km…


Ainda durante o dia, e ainda há muitos quilómetros de distância de MBanzaCongo, a última oportunidade para uma fotografia… E que “raridade”… Um Embomdeiro que “misteriosamente” nasceu e cresceu sobre uma rocha…


Da restante viagem fica apenas a vontade que os 200 quilómetros passagem rápido porque foram feitos durante a noite… Felizmente sem qualquer tipo de contratempo…
À chegada a MBanzaCongo a surpresa… A percepção não era muito fiável mas percebia-se que a estrada era em terra batida (com bastantes buracos) e que as habitações eram feitas do mesmo material… Material esse que, sem supresa, era “Terra Avermelhada”…

Mas a surpresa maior estava relacionada com o facto de haver uma grande actividade nocturna… Na beira da estrada haviam imensos locais onde era assado choco, ou carne, que estavam colocados lado a lado, e em que as velas e as brasas, criavam uma iluminação peculiar… A comprar, a comer, e a andar, havia imensa gente… E essa foi a grande surpresa.

Eram cerca de 20 horas e, oito horas e meia depois de sair de Luanda, tínhamos chegado a M’BanzaCongo.

Em “jeito de introdução” aqui fica uma imagem área da cidade de M’BanzaCongo que descobri na internet ao pesquisar elementos para complementar este post.


Imagem copiada do blog: http://mbanza-kongo.blogspot.com/

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