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domingo, 18 de outubro de 2009

9 de Setembro – Um “encontro” inesperado

É verdade…

Quando estamos longe “da nossa realidade” qualquer contacto com ela nos causa uma grande felicidade e emoção. Só estando fora do país, por períodos longos entenda-se, é que conseguimos dar valor à emoção que os nossos emigrantes transmitem quando surgem em reportagens televisivas.

Hoje, como sempre, quando fui almoçar a casa sentei-me no sofá enquanto aguardávamos a conclusão da refeição. Sintonizámos na RTP Internacional.
Estava a ser transmitido o programa que dá imediatamente antes do jornal das 13.

Fiquei agradavelmente surpreendido com o que estava a ver. Na televisão actuava um grupo rock em que o vocalista parecia um antigo colega meu de faculdade (O Dadinho para quem o conhece). Uma pessoa com quem desde o primeiro dia na faculdade criei uma relação de amizade e respeito. Por circunstâncias da vida, porque na realidade ele queria seguir algo mais relacionado com realização e cinema (julgo), afastámo-nos e passámos a contactar pontualmente. Foi com enorme felicidade que confirmei que era ele de facto e o vi ali, a actuar com toda a sua garra e determinação.

É por ver que agora, passado tanto tempo de dedicação à música, está a começar a recolher os seus frutos que aqui fica o meu forte abraço para ele. Os meus parabéns e votos de sucesso para mais um desafio Dadinho.
De facto a distância faz com que valorizemos coisas que, provavelmente, para todos os que possam ler este post são banais e insignificantes.

Provavelmente, confesso, se estivesse no meu “habitat natural”, com todas as actividades quotidianas normais e com um contacto normal com a minha família e amigos, não daria qualquer tipo de relevância a este facto. Isto é algo em que, nos últimos dias, tenho vindo a pensar…

A agitação quotidiana em que vivemos, penso, faz-nos desvalorizar pequenas coisas… Faz com que, em muitas circunstâncias, valorizemos coisas superficiais… Coisas que naquele momento nos dão prazer ou felicidade mas, daí a algum tempo, já passaram…

Basicamente começo a achar que, por vezes, andamos a fazer várias corridas de 100m porque as maratonas dão muito trabalho…

31 de Agosto – Transporte de Valores

Quando me começo a adaptar à vivência da cidade surgem sempre coisas novas…

Neste momento faço todo o percurso casa-trabalho, a pé, sem grandes receios. Já percebi que não estou permanentemente a passar por potenciais ladrões e, portanto, tudo começa a ser mais fácil…

Mas, por vezes, existem pequenos pormenores que me relembram, de imediato, tudo o que senti nos primeiros dias…

Hoje, após o almoço, regressava com um colega ao escritório. Sobre a passadeira vi, ainda ao longe, uma carrinha branca. Um típico “forgão” americano que me chamou a atenção porque, para além de ser diferente, metade estava estacionado sobre o passeio…

Nada de anormal. Provavelmente alguém quis ir ao banco, porque no prédio do gaveto existe uma agência bancária, e encostou ali a carrinha por um bocadinho. Quando chegámos à zona da passadeira, vimos se viria algum carro (porque aqui nenhum condutor respeita o outro condutor, quanto mais um peão) e, a meio da passadeira olho em frente. Fico quase apavorado quando percebo o que está à minha frente. Dois homens pequenos e magros, cada um com a sua metralhadora (diria que é um modelo bastante antigo porque parte era de ferro preto e outra parte era de madeira), encostados à parede. Tentei pensar no que se estaria a passar e, porque estávamos à frente de um banco, pensei que se tratava de um assalto. Nesse momento relembro-me que a carrinha estava mal estacionada e percebo o motivo quando vejo um homem na carrinha a passar algo a outro que estava cá fora…

Corro o risco de não conseguir transmitir o que vi mas o que ele estava a passar tinha o aspecto daquelas embalagem de papel higiénico que se vendem nas Cash-and-Carry, ou seja, 36 rolos dispostos numa forma rectangular e envolvidos por plástico… Mas não era papel higiénico… Eram notas… Uma quantidade enorme de notas… Só nesse preciso momento percebi o que se estava a passar e consegui organizar ideias.

Aquela “carrinha branca” era a carrinha que designamos de “transporte de valores”, os senhores com as metralhadoras eram os senhores que em Portugal não saem da carrinha para, caso sejam assaltados, o prejuízo ser reduzido à quantia que está fora do carro, e os outros dois senhores que carregavam os “pacotes” de notas são os senhores que, em Portugal, saem do carro com um saco na mão e entram na agência bancária.

Desengane-se quem pensa que aquela era uma operação única e que, pelo facto de ser uma grande quantidade de dinheiro, a situação foi especial.

Desenganem-se porque i)a moeda é fraca e, portanto, rapidamente se fala de muitos milhares de KZ e ii) aquele era o procedimento habitual para prevenirem assaltos.

E eu era uma pessoa que ia a passar naquele preciso momento e que se espantou com aquele cenário todo… Ah, e devo ter sido o único a ficar espantado, porque para todos os transeuntes era uma situação normal…

De facto, quando acho que já percebo qual é a realidade e que tipo de coisas são normais por estas bandas, eis mais uma situação que me relembra que aqui se vive duma forma diferente.

Nem melhor, nem pior… Apenas diferente.

30 de Agosto – O primeiro fim-de-semana (Parte 2)

Hoje fui à praia, de nome Cabo Ledo. Num género de recepção de boas vindas (mais uma), que muito bem me soube, o Ludgero e a Andreia levaram-me à praia… É engraçado porque quando me disseram que era a 160km eu fiz uma exclamação de, quase, rejeição… Não me parecia que fizesse muito sentido fazer tantos km’s para ir à praia, ainda por cima quando já sabia que alguns colegas iam à praia à ilha… De qualquer forma, uma vez que eles conhecem a realidade acedi, com muito prazer, ao convite que me estavam a fazer. Havia apenas uma condição: “por causa do trânsito teríamos que sair pelas 8.00h”.

De facto ainda bem que saímos por volta das 8.30. Apanhámos algum trânsito a sair da cidade e, cálculo, se fosse mais tarde perderíamos ainda mais tempo… À saída da cidade muitas barracas, lixo, carros abandonados, pessoas a venderem garrafas de água, comida e muitas outras coisas à beira da estrada (pois… a comida ali junto à estrada a ser “atacada” pelo pó da terra avermelhada).

Mais à frente uma feira onde, pelos vistos, tudo se consegue comprar. Estávamos na, julgo que famosa, “Feira de Benfica”. Uma feira montada de uma forma rudimentar, como quase tudo por aqui, mas organizada… Já se conseguia perceber que em cada cubículo se vendia um determinado produto… Vendia-se de tudo… Tapetes, comida, objectos para decoração de casa, roupas, e muito mais.

Nessa zona mais uma grande surpresa… Pessoas a venderem, também à beira da estrada, peixe. Algum que se percebia que era fresco e outro que era peixe seco… Se o “fresco” já me fez alguma confusão imagine-se o seco…

Prosseguimos a viagem e depois de passada toda esta confusão entrámos “noutro país”. Uma estrada que me recordou a “Route 66” dos Estados Unidos. Uma estrada essencialmente recta (excepção feita à dezena de curvas que podem apanhar desprevenidos os menos conhecedores da estrada) em que à volta se vê uma vegetação rasteira e seca. Toda essa “mancha monótona” é cortada por árvores particulares. Embondeiros!! Árvores de grande diâmetro de folha caduca. Observando de longe, o seu fruto, a Múcua, parece uma ratazana pendurada pelo rabo…

Finalmente as primeiras fotos do blog…



























Informação na Wikipedia em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Baob%C3%A1

Durante todo o percurso existem, em quantidade apreciável, diversas carcaças de viaturas e restos de carga de camiões que caíram e que já ninguém conseguiu aproveitar… Após cada acidente os veículos que passam vão parando para ver se “existe algo nos destroços que interesse”. Como resultado fica à beira da estrada, ou onde a viatura se imobilizou, a estrutura. Apenas a estrutura sobra…

Depois de atravessar uma pedreira e prosseguir num caminho em muito mau estado a praia… Na minha opinião uma praia é uma praia pelo que esta não é muito diferente de qualquer outra… É um sitio calmo e agradável com uma boa vista… Uma excelente forma de passar metade de um fim-de-semana, que foi o que me aconteceu hoje….
















Fonte: www.angola-saiago.net/g-araopinto1.html

Ah, voltando ao início, recordando quando disseram que a praia ficava a 160 km riu-me sozinho… Agora parece-me que percorremos apenas 30 ou 40 km. Só pode ser o factor escala a funcionar (país maior, maiores distâncias, estradas mais rectas e com maior visibilidade, maiores velocidades, menos tempo) e também o facto de o tempo parecer que passa mais devagar…

Assim foi o meu primeiro, excelente, fim-de-semana.

29 de Agosto – O primeiro fim-de-semana (Parte 1)

Hoje começou o meu primeiro fim-de-semana por estas bandas. Ontem estava particularmente cansado, porque a semana revelou-se, ao contrário do que esperava, intensa. Tudo é novo e, na realidade, tudo é diferente. Horário, ambiente, pessoas, metodologias, ritmos de trabalho e tudo o resto que possamos imaginar. Relativamente ao trabalho, propriamente dito, resumiu-se à fase de adaptação. Integração na equipa e preparação dos elementos base para o trabalho que pretendo desenvolver.

À tarde o Ludgero e a Andreia vieram buscar-me a casa e andámos a deambular pela cidade. Fomos ao Jumbo (tinha que comprar algumas coisas que acabei por deixar em Portugal devido ao excesso de peso) e depois tive a oportunidade de começar a perceber “o mapa” no terreno. É sempre bom quando alguém que conhece o terreno anda connosco e nos mostra. Sendo pessoas amigas é duplamente positivo. Acabei por sentir que andava a passar com eles e o impacto do que ia vendo foi atenuado.

Contudo tive oportunidade de ver a realidade efectiva… Pobreza nas ruas e muito mais… Lixo, desorganização, buracos e claro, o pó avermelhado em todo o lado. Mas vê-se ainda algo mais… Enormes e modernos edifícios que irrompem do chão e terminam bem acima do nível dos prédios mais antigos. À sua volta edifícios velhos alguns descuidados outros degradados… Estes novos edifícios, reflexo da intenção de modernização do país (e usufruto do ouro negro), são autênticas ilhas na zona que os circunda… Totalmente desenquadrados... Eventualmente daqui a alguns anos estes, que agora refiro desenquadrados, poderão ser apontados como os dinamizadores de uma nova arquitectura que mudou a cidade… Hoje, não tenho dúvida, estão desenquadrados…

Desenquadrados de tal forma que um deles, de uma empresa que me escuso referir porque é demais evidente, tem um enorme ecrã que se consegue ver a uns quilómetros de distância… As fotografias terão que ficar para quando for possível…

Relativamente à questão da insegurança, para a qual fui tantas vezes alertado em Portugal, felizmente, não vi nem senti nada. Foi a primeira vez que saí “dos trilhos diários” e tudo correu sem qualquer sobressalto… Espero que assim continue…

Para terminar o dia um jantar num restaurante calmo em que se pode descansar, conversar e comer umas belas iguarias. Mais um mimo dos meus amigos…

Foi um primeiro dia de repouso interessante e reconfortante…

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