Páginas do TerraAvermelhada.blogspot.com

sábado, 26 de fevereiro de 2011

12 de Novembro – Canceladas celebrações 11 de Novembro nos EUA

Foi a festa que ficou estragada e algo mais....

Naquele dia o repórter acordou não tão cedo como habitualmente, mas ainda assim cedo :), e foi trabalhar enquanto eu, co-repórter, fiquei a aproveitar a caminha e a ponte que tinha sido concedida para dormir mais um bocadinho. Naquele início de dia nunca adivinharíamos o que se tinha passado do outro lado do Atlântico, mais a Norte. Na realidade já tinha acontecido na véspera do feriado, mas os comuns dos mortais só tiveram conhecimento alguns dias depois, na semana seguinte.

Na realidade nada podia fazer prever o que aconteceu e a infeliz coincidência da data daquela decisão. Bom, nada fazia prever não é necessariamente verdade. Depois de alguns acontecimentos passados muitas coisas podiam acontecer entre elas esta, mas realmente, e não querendo substituir-nos a juízos mais indicados, não só a data foi infeliz como também a forma como tudo se processou.

E o que se sucedeu foi que o Bank of America cancelou, justo nas vésperas do feriado, todas as contas que a Embaixada de Angola tinha junto daquela instituição. Ora bem, isto em si já constitui um problema pela forma sem aviso desta decisão, se acrescentarmos o facto da Embaixada não ter naquele país mais contas abertas junto de outras instituições financeiras e como tal ficar impossibilitada de movimentar qualquer quantia de dinheiro, a coisa complica-se. Se por fim tivermos em consideração que haviam eventos programados, festejos para a comunidade Angolana nos EUA de forma a poderem celebrar também elas a independência do seu país, artistas como a Yola Semedo que se deslocaram para lá, fornecedores e serviços que foram contratados, pessoas mobilizadas, que tinham que ser pagos a tempo e horas e deixaram de poder ser, originando assim o cancelamento das celebrações, ficamos perante um problema grande e sério.

Terá sido tudo isto que passou pela cabeça dos diplomatas Angolanos nos EUA, do Governo e do Presidente. Imaginamos que mais ainda terá passado, como a humilhação de transmitir a mensagem de cancelamento para quem aqueles momentos de festejos seriam uma aproximação a casa, ao país e às famílias que se encontram longe, ou tão simplesmente a distracção que habitualmente não têm ou não podem ter. Por tudo isto a situação foi tomada a peito, foi interpretada, julgada, demorou a ser comunicada oficialmente mas quando foi deu origem a reportagens em jornais e telejornais nacionais e internacionais, a artigos de opinião, a muitas conversas onde se falava da mensagem transmitida pelo Governo Angolano que incluia a palavra retaliação.

Por norma, eu, co-reporter, acredito na bondade das pessoas no principio de que todos são inocentes até se provar o contrário, por isso sempre estive em crer que o Bank of America não tinha realmente noção do dia que se aproximava e não considerou isso na sua decisão. Por outro lado também não entendeu o alcance da mesma em todos os níveis, e foi por tudo isto que a situação se transformou num incidente diplomático. Daquele dia em diante, o Bank of America não era o culpado, os culpados passaram a ser os Americanos, de uma forma generalizada, e também o seu Governo.

Recordo perfeitamente o email que recebi de uma amiga que trabalha em Londres a perguntar “É verdade que está aberta uma crise diplomática entre Angola e os EUA, porque fecharam as contas da embaixada angolana e agora o Governo Angolano ameaça responder na mesma moeda ou pior?” Nas palavras desta minha amiga, resultantes possivelmente de notícias que tinha lido ou ouvido, já nem sequer existia o Bank of America, nem qualquer menção ao Feriado da Independência, a situação foi abreviada mas sobretudo ampliada.

Na realidade, pouco mais se soube publicamente sobre o incidente, mas as consequências essas continuam a ser esperadas e, poderão não ser apenas para os americanos...

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

11 de Novembro – Feriado: Dia da Independência

Embora se diga que Angola tem muitos feriados, o que comparativamente a Portugal faz com que o número dos mesmos seja inferior, este será sem dúvida, na nossa opinião, o feriado mais importante que se celebra no país, sobretudo se considerarmos o seu passado e história recente.

É certo que a luta pela independência começou muito antes, e há feriados que assinalam esses marcos na história de Angola, já referidos por nós em posts anteriores, mas o 11 de Novembro marca efectivamente o dia da Liberdade e o fim oficial do colonialismo.

Este ano a celebração do feriado, que costuma ser seriamente engalanada, assumia especial importância pois festejava-se o 35º aniversário da Independência. Cerca de duas semanas antes a cidade começou a “vestir-se” e preparar-se para o evento. Por toda a cidade foram espalhados cartazes, luzes e anúncios anunciando o número 35 como marco histórico. Foram concluídas algumas obras de reabilitação nas zonas que conduziam aos principais locais dos festejos. (Sim, nós portugueses achamos que só no nosso país é que isto acontece mas começamos a perceber que as obras de campanha e festejos andam mesmo pelo mundo fora!).

Contudo havia um facto que ameaçava retirar assistência aos festejos. O feriado iria calhar numa quinta-feira e foi concedida tolerância de ponto pelo Governo. Dessa forma antecipava-se que muito mais que celebrar o feriado, muita gente aproveitasse o fim-de-semana prolongado para viajar ou visitar as províncias. E a realidade é que na véspera do feriado o trânsito caótico em todas as principais artérias de saída/entrada da cidade indicava isso mesmo, a cidade iria estar deserta nos dias seguintes. Passamos desde já a explicar – Deserta nunca estaria, na verdadeira acepção, mas este adjectivo aplica-se por comparação à quantidade de gente que habitualmente circunda por Luanda.

Infelizmente nós iriamos mesmo ser dos poucos que permaneceriam na cidade. Apesar de eu, co-reporter, ter tido tolerância de ponto, o reporter não teve igual sorte, o que em dizer, inviabilizou a possibilidade de irmos até terras mais longínquas :)

Mas nem tudo é mau, no dia 11 tivémos a cidade toda para nós, não havia filas para nada, aproveitámos para despachar algumas coisas que tinhamos pendentes e fomos para um belo almocito num dos libaneses da cidade. A bem dizer fomos embuchar muita gordurinha com um Kebab do tamanho do mundo no Al-Amir, enquanto assistiamos na televisão às celebrações do 11 de Novembro por todo o território angolano, muitas vezes distraídos pelas conversas agitadas em árabe. Não nos recordamos com exactidão, mas durante aquela hora e pouco que ali estivémos foram inauguradas para cima de muitas estradas, pontes, escolas, hospitais, centrais hidrícas, em muitas províncias angolanas. Oxalá houvessem muitos 11 de Novembros durante todo o ano... mas pelo menos já é um começo!

Mas afinal estamos para aqui a falar, a falar, entenda-se, a escrever, a escrever... e não falámos ainda do feriado do ponto de vista histórico. Se analisarmos minuciosamente a independência não foi proclamada no dia 11, mas sim no dia 10 de Novembro, contudo para produzir efeitos a partir do dia seguinte. Por essa razão foi assinalado o dia 11 como dia da independência.

Melhor explicando, após o fim da ditadura em Portugal, com o golpe de estado de 25 de Abril de 1974, criaram-se perspectivas para a independência de Angola e de outros estados coloniais. Os novos governos portugueses constituídos no pós-revolução, foram iniciando negociações com os três principais movimentos de libertação angolanos (MPLA - Movimento Popular de Libertação de Angola, FNLA - Frente Nacional de Libertação de Angola e UNITA - União Nacional para a Independência Total de Angola), e dando assim origem a um período de transição para a implantação de um regime democrático em Angola (iniciado como o Acordo de Alvor, assinado a 15 de Janeiro de 1975).

No dia 10 de Novembro de 1975, o Alto Comissário e Governador-Geral de Angola, o Almirante Leonel Cardoso, em nome do Governo Português, proclamou a independência de Angola. Desta forma transferia a soberania e o domínio até então mantido por Portugal, para o Povo Angolano, o que ocorreria de forma efectiva a partir do dia 11 de Novembro. O facto de transferir a soberania para o Povo Angolano era uma forma de dizer e deixar claro que a mesma não era transferida para nenhum movimento político em particular. Muitas discussões já se tiveram em redor desta decisão e, sinceramente, não queremos analisar os factos por muitas e variadas razões, apenas transmiti-los. Foi com estas palavras que o Almirante proclamou a independência (transcrição de parte do discurso):

"E assim Portugal entrega Angola aos angolanos, depois de quase 500 anos de presença, durante os quais se foram cimentando amizades e caldeando culturas, com ingredientes que nada poderá destruir. Os homens desaparecem, mas a obra fica. Portugal parte sem sentimentos de culpa e sem ter de que se envergonhar. Deixa um país que está na vanguarda dos estados africanos, deixa um país de que se orgulha e de que todos os angolanos podem orgulhar-se".

Ainda assim controlo de Angola foi dividido pelos três maiores movimentos de libertação, então denominados grupos nacionalistas MPLA, UNITA e FNLA, pelo que a independência foi proclamada de forma unilateral pelos três.

O MPLA, que à data controlava a capital, Luanda, proclamou a Independência da República Popular de Angola por volta das 23h00 do próprio dia 11 de Novembro de 1975, através do seu presidente, Agostinho Neto, dizendo, "diante de África e do mundo proclamo a Independência de Angola”. Com estas palavras chegava ao fim à luta empreendida pela independência iniciada no dia 4 de Fevereiro de 1961, com a luta de libertação nacional, estabelecendo o governo em Luanda com a Presidência entregue ao líder do partido.

Já Holden Roberto, líder da FNLA, proclamava a Independência da República Popular e Democrática de Angola cerca da meia-noite do mesmo dia 11 de Novembro, no Ambriz, na província do Bengo.

Nesse mesmo dia, a independência foi também proclamada no Huambo, por Jonas Savimbi, líder da UNITA.

Contudo apenas prevaleceu como independência reconhecida internacionalmente, a que foi proclamada pelo MPLA, passando assim a FNLA e a UNITA, a partidos da oposição.

Esta divisão partidária e de luta pela governação do país antevia os acontecimentos que se sucederam, mas para a história ficou o 11 de Novembro como o dia da Independência de Angola.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

10 de Novembro – Angola Vs SL Benfica

 
Apesar da polémica criada pela comunicação social devido à deslocação do SL Benfica a Luanda, sobretudo por causa do momento sensível da época, houve, de facto, espectáculo…

Isso mesmo… Houve espectáculo…

Não só o protagonizado pelos jogadores no relvado mas também o que o que o povo Angolano fez para receber, acompanhar e saudar os atletas do “Glorioso”.

O jogo, agendado para celebrar os 35 anos de independência da República de Angola, decorreu em ambiente de grande festa… A chegada do Benfica ao aeroporto teve fortes medidas de segurança, tal como seria de esperar, mas apenas porque a afluência foi grande… Não porque se receasse que algo fosse acontecer…

Durante todo o dia a romaria foi grande para o estádio… Havia música, “comes e bebes” e muita alegria enquanto aguardavam pelo inicio do jogo que se realizou no novo Estádio de Luanda, o Estádio 11 de Novembro.

Para a história fica um 0 – 2 num jogo interessante mas, como diria o Rui Santos, sem grande intensidade… Para a história fica também o motivo de orgulho e festa que é, para o Povo Angolano, a vinda do SL Benfica.

Aqui fica uma notícia do “lançamento” do jogo:

domingo, 20 de fevereiro de 2011

7 de Novembro – Chá de Caxinde - Relembrar o presente com recurso ao passado – Luanda 18 anos depois

Este foi um daqueles Domingos sem expectativas nenhumas. Não tínhamos nada planeado e iríamos aproveitar o dia à medida que ele fosse decorrendo.

Eu, co-reporter, finalmente consegui dormir até às 10h00 da manhã! Acho sinceramente que foi um record que estabeleci em Luanda, que deixou o repórter feliz da vida :)

Depois de acordarmos, pôr-mos a conversa em dia com a famelga e comermos um belo de um pequeno almoço fora de horas, que é o mesmo que dizer, já perto da hora de almoço, saímos à rua à procura de algo para fazer!

Infelizmente começámos a pensar que a sorte não estava do nosso lado. Fizemos um périplo pelos espaços de exposições da Trienal, Globo, UNAP e Museu Nacional de História Natural e nada... tinha terminado o primeiro ciclo de exposições e estavam na fase de interrupção até ao segundo ciclo que inicia em meados de Novembro. Mas a visita ao Museu não foi totalmente perdida. Os mais atentos e fieis leitores deste blog já saberão de uma das minhas paixões no que respeita à cidade de Luanda, o prédio da Cuca!! Foi dos primeiros locais que vi quando cheguei à cidade e sempre andei a chatear o repórter para recolher fotografias do prédio e com o prédio! Ora nem mais... o Museu fica no extremo oposto do Largo do Kinaxixe (ou Kinaxixi, como prefirirem), e a oportunidade era a ideal, sem trânsito, sem movimento, com bastante luz natural e bem posicionados, tínhamos o cenário perfeito para os disparos fotográficos pretendidos!

Aqui ficam apenas dois dos registos recolhidos deste belo conjunto arquitectónico e cénico, na minha modesta opinião:




E uma brincadeira do repórter...


Regressamos a casa, tratámos de alguma lida doméstica, perdão, não deveria colocar o verbo tratar no plural, mas sim no singular...  e já com o estômago a pedir reforço fomos até ao Cais de 4 para um almoço tardio. Em Luanda há vários sítios bons para se comer e estar, mas talvez o Cais de 4 seja um dos que melhor conjuga estes dois verbos! A vista é magnífica, sem dúvida a melhor que se pode ter da Baía de Luanda, a comida, sem ter direito a uma estrela Michelin, é muito boa também, o que faz com que seja o local ideal para um almoço relaxado ou um jantar romântico. (Desculpem não utilizar o factor preço, mas sinceramente, em Luanda... não tem relevância... depois de algum tempo percebemos que só existe caro e muito caro, e depois de outro tanto tempo acabamos por perceber que, infelizmente, esse é mesmo o padrão...)

Ao final da tarde, e aproveitando o tempo livre que antecedia o clássico Porto-Benfica, fomos até ao Chá de Caxinde ver um filme, integrante do programa da trienal. O nome era sugestivo, O Miradouro da Lua, sem dúvida um dos principais monumentos paisagísticos dos arredores de Luanda, e representava a primeira co-produção lusoangolana, realizada no ano de 1992, marco histórico importante para este país.


Antes do filme iniciar fomos brevemente conduzidos pela história do mesmo, bem como por aquela que o antecedeu e acompanhou, através do próprio realizador, Jorge António, que se encontrava na sala.

Um pequeno aparte, o Chá de Caxinde é uma organização que assume extrema importância em Luanda do ponto de vista de divulgação cultural. Para além do cine-teatro onde se podem assistir a projecções de filmes e documentários, concertos, peças de teatro, existe também uma livraria e editora, um local para a prática de danças tradicionais e internacionais, um bar e um restaurante. É por exemplo neste local que se pode assistir aos concertos da Banda Maravilha, uma das mais conceituadas bandas de música popular angolana, todas as segundas-feiras! Mas em breve falaremos desta experiência em primeira pessoa.

Continuando...

O Jorge António falou da experiência de realizar um filme numa altura conturbada, como a do ano de 1992, em que decorreram as primeiras eleições livres em Angola, da escassez de recursos, do improviso na condução do filme, em que basicamente a gravação das cenas se ia desenrolando à medida das possibilidades existentes e das ideias que iam surgindo, mas chamou também a atenção para a Luanda de 1992. Segundo o realizador, aquele filme permitiria aos presentes não só recordar e reconhecer lugares da cidade, como perceber as diferenças que a separam dos dias de hoje. Algumas das pessoas que já visionaram o filme e conhecem a cidade actual, chegaram mesmo a perguntar-lhe “mas vocês tiraram os carros das ruas para filmarem as cenas de rua?” Todos os presentes sorriram perante tal afirmação, e o realizador reiterou “acreditem que não retirámos absolutamente nada, Luanda era mesmo assim, sossegada e praticamente sem carros”.

Por último apresentou-nos ainda uma das “actrizes” do filme que estava presente na sala, a Dª Custódia, para quem pediu uma salva de palmas. A Dª Custódia era uma senhora da casa dos 60, que aparentava ter alguma ligação prévia de amizade com o Jorge António, tendo a sua participação no filme sido improvisada, daí as aspas em torno da palavra “actrizes”.

De imediato ficámos com vontade de falar com ela e colocar-lhe uma série de perguntas... mas aguardaríamos pelo final do filme para saber se era possível...
O filme tem início em Lisboa, saltando à vista nomes aos quais estamos habituados, Vítor Norte, João Baião, João Cabral, Joaquim Paulo e José Meireles. Desde logo se percebe um pouco da história e a forma como se vai desenrolar. João Cabral é o actor principal, assumindo o mesmo nome, que vai partir em busca do pai que não vê desde criança, o qual vive em Luanda! A mãe, a veterana Isabel de Castro, embora um pouco incomodada com a viagem do filho, acaba por se resignar à ideia.
Na viagem de avião o João conhece a Sol, uma estudante angolana a regressar de férias, que viria a revelar-se uma ajuda preciosa em Angola. Aqui começam os pormenores que tornam o filme interessante com estes 18 anos de distância. O João, a par com outras pessoas, acende um cigarro dentro do avião. Pode parecer algo estranha a minha surpresa perante tal facto, mas nunca assisti a algo semelhante e nunca voei com tal permissão. Agora percebo a insistência dos avisos em todos os voos, afinal há ainda muita gente na actualidade que se recorda do tempo em se podia fumar num avião.

Mas o filme começa realmente a ganhar interesse a partir do momento em que o João aterra em Luanda no 4 de Fevereiro. O repórter ainda se lembra de uma parte antiga do aeroporto que se vê no filme, eu já não, mas há coisas que nos provocam risos de cumplicidade aos dois e a todos os presentes.

O João, perante a ausência do pai no aeroporto e a oferta de boleia da Sol e do irmão que a tinha ido buscar, diz: Não se preocupem, eu apanho um táxi! Não só a Sol e o irmão se desatam a rir, como todos nós também. Táxi em primeiro lugar é o nome dado aos Kandongueiros, as carrinhas Hiace que transportam as pessoas, em segundo lugar táxi, tal como se conhece habitualmente, é algo que não existia naquela época. E hoje... bom, existe uma empresa de táxis, mas os serviços são só por pedido antecipado e às vezes nem assim.

Depois existem uma série de lugares visitados no filme que nos fazem reviver a cidade. Por coincidência, a primeira rua em que o João vai à procura do pai é quase a nossa rua actual, o que nos faz trocar um comentário cúmplice e esboçar um sorriso. Já a rua onde a Sol mora tem um significado enorme para mim e para o repórter, a segunda morada onde o João vai à procura do pai é onde o repórter trabalha, aliás, a casa é ao lado do escritório do repórter... Há também uma série de locais marcantes, alguns que ainda existem e funcionam, outros não, entre outros o Hotel Panorama, actualmente abandonado, o cine Miramar, o bar /discoteca Pandemonium, o terraço do trópico, o Elinga Teatro.

O filme é marcado por uma série de encontros e desencontros na busca pelo pai, e é entre esses encontros e desencontros que ocorrem os passeios comuns como a visita ao Mussulo, em que os barcos parecem ser os mesmos dos dias de hoje, e às praias a seguir a Benfica, perto das Palmeirinhas.

E claro que o Jorge António tinha razão, Luanda era mesmo uma cidade diferente da dos dias de hoje, sem o trânsito frenético e caótico ao que estamos habituados, tudo parecia ser muito mais tranquilo.

Como acaba... não vamos contar, apenas vos podemos dizer que acaba aqui, com o João a gritar aos sete ventos que vai ficar...


Miradouro da Lua

No fim, e porque a curiosidade matava a respeito da rua onde o João vai à procura do pai na segunda morada que lhe deram, dirigimo-nos à Dª Custódia que nos confirmou. Era mesmo a rua onde o repórter trabalha! Contou-nos algumas peripécias sobre o filme e o nosso sexto sentido estava certo. A Dª Custódia era amiga do realizador, porque aparentemente um dos filhos e o Jorge estudavam juntos em Lisboa e, nas palavras da própria “O Jorge estava sempre a dizer: oh cota, um dia hás-de aparecer num filme meu, vais ver! E eu sempre a rir, até que um dia me apareceu na casa de Luanda com a malta toda e disse: oh cota, é hoje que vais aparecer! E assim foi, foram filmando e ficaram todos a dormir lá em casa” finalizando com uma gargalhada saudosista.

Há dias assim... em que temos muita sorte por poder viver momentos destes, relembrar o presente e visitar um passado recente!

E para quem quiser acompanhar a obra da Associação Cultural e Recreativa Chá de Caxinde, aqui fica o link: http://www.chadecaxinde.net/

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

29 de Outubro – Porque nem tudo são rosas, neste caso, pérolas…

Depois de muita expectativa e de chatear o repórter para comprar os bilhetes, tinha chegado o grande dia, o dia do concerto da Pérola!! O meu regresso não podia ter ocorrido em melhor data, precisamente no dia que antecedia o espectáculo que há muito esperava para ver.

Passei a semana a falar do mesmo, a cantarolar as músicas que mais gosto, e a sexta-feira passou a correr na antecipação da noite que se avizinhava.

Fiz os possíveis para sair a horas do trabalho e chegar cedo à cidade, para ainda termos tempo de trocar de roupa e comer qualquer coisa. Entre outras coisas tontas, como guardar um registo fotográfico da alegria com o bilhete na mão :)

Ora bem, lá saímos em direcção ao Cine Atlântico onde o espectáculo teria lugar e, claro está, com pouco tempo de antecedência, a fila já era interminável e tivemos que recorrer à simpatia para conseguir um lugarzito em frente de uma garagem de forma a estacionarmos o carro.

Para ser sincera nunca pensei que a Pérola movesse tantas multidões. Todos os acessos ao Cine Atlântico estavam cheios de pessoas, pelo que a aproximação à porta de entrada se tornava difícil. Foi nesse momento que percebemos que as coisas estavam complicadas. Não só a fila para entrar era imensa que lhe perdiamos o fim, como havia imensa confusão motivada não só pelo facto de muita gente não ter bilhete e querer ainda comprá-lo, sendo que muitos tentavam a sorte procurando entrar sem bilhete, mas também pela aparente inexperiência de quem estava a controlar a entrada.

O repórter começou a ficar nervoso pela confusão instalada e chegou mesmo a sussurrar ao meu ouvido “daqui a pouco estas pessoas passam-se todas e não sei o que é que vai acontecer”. Embora também achasse que isso fosse possível, tal era o nível crescente de ansiedade por parte de quem aguardava, a excitação de ver a Pérola ao vivo fazia com que tolerasse a situação e tentasse retirar aquelas ideias da cabeça do repórter. Mas não... a minha excitação não chegou para acalmar aquelas pessoas todas e Infelizmente ele tinha razão... em menos de nada e sem sabermos bem como, começam os atropelos, os gritos, as pessoas a correrem, a tentarem fugir e a empurrarem e tivémos que ir na corrente enquanto tentávamos perceber o que se estava a passar... só foi possível quando ouvimos os latidos fortes de vários cães, uma rapariga a gritar que tinha medo, e vislumbrámos um dos polícias de intervenção a atiçar os cães contra as pessoas. Por sorte um casal agarrou-nos no braço e disse “venham para aqui”! O “para aqui” era um sítio mais resguardado, onde as pessoas que aguardavem na fila se conseguiam desviar daquela confusão.

Mas... nem tudo são rosas e num acesso de nitidez o repórter põe a mão ao bolso e apenas me transmitiu as palavras que mais me custaram ouvir e nas quais não queria acreditar “olha, já está, os bilhetes já eram”, seguido de uma série de impropérios, mas nada havia a fazer... para nós a Pérola já não ia cantar...

PS: Na segunda-feira seguinte a caminho do trabalho, quando já estava ligeiramente restabelecida do que tinha ocorrido, oiço um colega dizer “epá, parece que o concerto da Pérola foi com power”, e pronto... a segunda-feira que já é um péssimo dia, ficou ainda pior...

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...