Perante a necessidade de integração de um dos novos elementos da equipa, ficou guardada para os dias 2 e 3 uma viagem a Malange.
Até esta altura eu ainda não tinha tido oportunidade de, profssionalmente, ir visitar outras províncias. Sendo esta uma altura oportuna aceitei o convite/desafio com todo o gosto.
O nosso sicerone era o colega que está responsável por todas as obras naquela província.
A saída ficou combinada para as 6 da manhã e foi a essa hora que partimos. Havia a necessidade de sair da cidade antes das 6.15 devido ao intenso trânsito que existe diariamente. Logo no inicio do percurso o nosso sicerone sugeriu que, à vinda, passássemos por alguns pontos “turísticos” para que ficássemos a conhecer e, logo naquele momento, o roteiro ficou perfeitamete traçado. O objectivo era ir por um percurso (Luanda – Dondo – Ndalatando – Cacuso – Lombe - Malange) e regressar por outro (Malange – Lombe - Calandula – Pungo Andongo – Dondo – Luanda).
Porquê? Para além dos percursos e paisagens, queríamos ver as “famosas” quedas de água de Calandula e as Pedras Negras de Pungo Andongo.
Partimos então em Direcção ao Dondo e senti, pela primeira vez, que estava a entrar na selva. No percurso para Benguela tinha passado por curtas extensões de selva mas agora, a dimensão era diferente.
Aqui ficam 3 fotografias que pretendem demonstrar a paisagem que acompanha o percurso. Mais uma vez as fotografias foram tiradas em andamento pelo que, algumas, não são perfeitamente nítidas…
Passámos então o “famoso Morro do Binda”. Um local que pela sua grande inclinação e curvas muito apertadas se torna um verdadeiro perigo para os condutores mais desatentos/descuidados e, por isso mesmo, se revela um grande cemitério de sucata. Aqui fica um excelente relato sobre este local, com direito a fotografias bem elucidativas: http://comicaginario.blogspot.com/
À passagem por este local muita sucata se vê. E para além de restos retrocidos de aço? Um camião totalmente atravessado na estrada com um jovem ao volante. “Foi mesmo agora” disse eu, enquanto o colega que conduzia o carro tentava apenas passar na “nesga de berma de estrada” que sobrava entre a vegetação e a traseira do camião. Depois de dizer isto ocorreu-me então que poderia já ter sido há algumas horas e que o jovem estava apenas ali, como sempre acontece com os carros acidentados, para “levar alguma coisa interessante para casa”.
Dois carros seguiam atrás de nós e em frente vinha outro. Ainda tímido acabei por não pedir para pararmos para registar o momento. Agora arrependo-me, como é óbvio mas, nada há a fazer… Umas centenas de metros mais à frente, após uma curva, um autocarro descia já a velocidade reduzida. O camião iniciou o seu despiste muito antes do local onde foi imobilizado e ramos e bocados de árvore estavam no chão. Informámos então o condutor do cenário que estava adiante e ele questionou “mas consigo passar?”. Não, não consegue, dissemos nós. Agradecido ele prosseguiu em frente com ar de desânimo de quem antecipa que vai ficar ali algumas horas até que consiga passar. Nós, em sentido contrário, prosseguimos a viagem em direcção a Malange…
Antes de Malange Ndalatando. E antes de Ndalatando uma “operação STOP”. Já sabíamos que iríamos parar, na melhor das hipóteses, uma vez. Esta foi caricata. O agente mandou-nos encostar e pediu os documentos. Depois de os ter na mão foi até à traseira do carro e ali ficou cerca de dois minutos. Pelo retrovisor tentava perceber o que ele fazia proque pegava na carta, depois no papel do seguro, depois no livrete em apenas breves segundos. Dirigiu-se então para perto do condutor e ali permaneceu mais algum tempo. Sinceramente já estava com alguma vontade de rir mas, passado algum tempo quase não aguentava. Perguntou ao meu colega, apontando para a carta de condução, “o que é?”. O meu colega explica então “Data de emissão: XX-XX-1998. É quando foi emitida” (Como é óbvio, se o agente perguntou o que era não ficou a perceber com o “é quando foi emitida” mas…) e depois prosseguiu “Válida até 07-02-2022, ou seja, é válida ainda mais 12 anos”.
Perante aquele cenário tive alguma dificuldade em conter-me mas teve que ser…
Contente e perfeitamente elucidado, simpaticamente, o agente agradeceu e desejou-nos uma boa viagem. Um balanço positivo da primeira paragem porque, para além da perda dos minutos de paragem ganhámos então mais uma estória para contar.
Uns bons km’s mais à frente a chegada a Ndalatando. Pelo que tinha ouvido falar pensei que seria já “uma cidade” com visíveis sinais de desenvolvimento. Por isso mesmo a minha surpresa quando, vendo este cenário, o meu colega disse “chegámos a Ndalatando”.
Do outro lado da estrada em que parámos um colorido “estabelecimento comercial”.
E, prosseguindo viagem em direcção ao centro de Ndalatando, fomos então vendo as habitações da zona periférica da cidade.
De Ndalatando em direcção a Malange mais paisagens distintas das que vi por estas terras até ao momento. Uma paisagem muito mais verde e, desta feita, com vegetação de menor porte. Aqui fica uma ilustração de uma parte significativa do percurso
Enquanto “devorávamos km’s” mais uma operação de STOP. Tinhamos sido alertados para que “mesmo que estivesse tudo em ordem, seriamos sempre abordados a “contribuir”” e aqui estava o exemplo. Depois de verificados os documentos (sabe-se lá com rigor, apesar de termos a certeza que tudo estava correcto), o pedido para mostrar o triângulo e, depois de o ver, então uma conversa amiga no sentido de “ajudar a malta”. Assim fizemos e prosseguimos o caminho.
A 20 km da entrada de Malange novamenet um polícia a fazer sinal para pararmos. De imediato começámos a comentar “Outra vez?”, “Não chegava já?”, “3 operações na mesma viagem?” e só depois percebemos que o sr. Estava a pedir boleia… É verdade… O agente queria boleia para chegar a Malange. Ele tinha sido deixado ali de manhã (com este calor abrasador), fez o seu trabalho de patrulha, e agora, perto da hora de almoço, teria que providenciar boleia para voltar novamente à esquadra. Foi mais um momento de alegria e risota e prosseguimos em direcção a Malange, agora com 4 “tripulantes” no nosso “navio”.
Depois de fazermos uma visita às obras, e antes da hora do jantar, o “descanso dos guerreiros”. Já estávamos em movimento quase há 12 horas e a tarde ainda estava quase a meio. Fomos então dormir um pouco.
Uma vista geral do meu quarto:
Um pormenor da “minha secretária”:
(os mais atentos dirão que é painel de cofragem… É verdade… É mesmo painel de cofragem)
Amanhã será a viagem de regresso com visita de alguns pontos turísticos… Confesso que tenho alguma ansiedade por iniciar a viagem. Veremos se à chegada a Luanda estou desiludido…
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