Há lugares diferentes, dias diferentes e pessoas que marcam. Aquele lugar, aquele dia e aquelas pessoas foram tudo isso para nós.
Eles primeiro não queriam ir, porque o tempo não estava perfeito para aquele passeio, mas eu insisti e lá fomos embarcar para o Mussulo no “embarcadouro” do Museu da Escravatura. Mais tarde percebemos que devemos embarcar no que está próximo do Morro Bento, mas esse foi um conhecimento que recolhemos para a próxima vez :)
Fomos com o primeiro rapaz que nos acenou e nos chamou. O preço negoceia-se logo à entrada para o barco, mas fomos enganados ou simplesmente tontos por ter assumido que era ida e volta... A coisa começou a ficar engraçada quando o Lulu recorreu à ligação directa para pôr o barco a trabalhar... trocámos uns olhares cúmplices e um de nós em jeito de brincadeira diz “então isto pega assim, é?” como resposta só tivemos direito a um sorriso!
Lá iniciámos a travessia propriamente dita e quando nos estávamos a aproximar do ponto de paragem definido inicialmente para passar o dia, o BarSulo, o Lulu diz-nos, como se tivesse acabado de dar-se conta “ah, está fechado, têm que ir para o outro bar/restaurante”. Acenámos positivamente sem apresentar qualquer impedimento, mas ele acrescenta “ah, mas para ali são mais X Kwanzas”, quantia que agora não recordamos mas representava um aumento de 50% do preço inicial. Não tivemos outro remédio que não o aceitar, pois a pouco mais de metade da travessia e longe da costa, não estávamos propriamente em posição de negociar...
Enfim... lá atracámos junto ao aldeamento turístico Roça das Mangueiras, um dos poucos da ilha, senão mesmo o único, e aproveitámos para recolher algumas informações e ver as instalações para uma futura estadia no Verão. Daí partimos para ver o resto da ilha, nomeadamente a Contra-costa onde a praia é extensa e maravilhosa.
Ao caminhar pela ilha pudemos observar que algumas vivendas eram do tempo colonial, sendo que algumas, a par com determinadas infra-estruturas, estavam abandonadas. Mas também havia muitas construções novas, com todos os tipos de arquitectura. Havia muitas crianças ao longo da costa que aproveitavam o que outrora tinham sido terraços de casas, ou espaços de algum centro recreativo, para jogar à bola, criando cenários perfeitos para uns quantos disparos fotográficos!
A determinada altura enveredámos pelo meio da ilha, passando pelo bairro onde residem os habitantes constantes e não apenas de fim-de-semana ou férias. É fácil perceber a diferença face aos bairros de Luanda, sobretudo devido à organização presente, mas também ao sossego.
Caminhámos imenso, talvez mais de um kilómetro por um caminho de terra completamente laranja, ou melhor, cor de tijolo, aquela cor tão típica de cá, e eu, co-reporter, senti-me nesse momento mais feliz que nunca desde o primeiro momento que pisei solo angolano, pela sensação de liberdade sentida naquele passeio tranquilo pela ilha.
Até que por fim avistámos a contra-costa propriamente dita. Kilómetros e kilómetros de areia, povoada por muitos caranguejos, palmeiras, aqui e ali estruturas de madeira com peixe a secar e aquele mar maravilhoso, sem regras, agreste e de cheiro forte! O normal para a altura do ano em que estamos, sem nos apresentar qualquer convite a banhos :)
Ficámos por alguns momentos a aproveitar aquele sossego, entre dedos de conversa e, embora a vontade não fosse muita, era hora de regressar que a fome em breve iria apertar.
Já ao chegarmos pertinho do aldeamento o nosso dia estava prestes a mudar e a tornar-se ainda melhor.
No dia anterior eu, co-reporter, tinha chateado o repórter e o Marco porque não pararam o carro para eu pegar numa bebé ao colo e neste dia fiquei estarrecida quando reparo num grupo de bebés e algumas crianças que brincavam junto a uma casa. Com algum receio de ser mal interpretada, fui-me aproximando de forma a poder estar mais perto daqueles meninos e meninas. Vi uma senhora aproximar-se e recordo que para além dos meus olhos interrogativos ainda acrescentei um olá sorridente. A senhora retribuiu e explicou que a menina mais pequenina era a neta e os outros meninos eram vizinhos ali da ilha e que vieram para ali brincar. Estive um bocadinho a falar com ela e a brincar com os meninos, até que chamei o repórter e o Marco para os apresentar.
Sem espaço para grandes hesitações, convidou-nos para ficarmos com a família para almoçar. Claro que ficámos um bocadinho sem jeito, mas nisto chegou o marido a perguntar o que se passava. A senhora não nos deixou sequer responder e disse “estou a convidá-los para ficarem connosco para almoçarem e estão a dizer que não”. Como resposta o marido colocou um braço em torno dos meus ombros e disse “quanto a vocês não sei, mas esta menina vem comigo”.
E pronto... foi um dos melhores almoços e tardes que tivemos. Estávamos longíssimo mas sentimo-nos como se estivéssemos em casa, com os nossos pais, com as nossas famílias, pela forma como a Dª Zinha e o Sr. Né nos trataram e nos fizeram sentir. É impressionante como quando estamos bem o tempo passa realmente a correr, e aquela tarde parecia voar... Entre as brincadeiras com os netos e com os restantes meninos, as conversas familiares, os temas habituais sobre a evolução do pais e como tinham eles próprio sobrevivido a tudo, estava na hora de regressar a Luanda...
Depois da saborosa refeição houve ainda espaço a uns deliciosos momentos partilhados com as crianças que, inadvertidamente, nos proporcionaram aquela tarde divinal…. Como forma de agradecimento aqui ficam algumas fotos desses momentos…
A preferida do repórter...
Na mala levávamos fotografias, recordações, novos amigos, um local para regressar mas, mais que tudo o resto, um sorriso de felicidade por termos vivido aqueles momentos.
2 comentários:
Mais uma fantastica história....
assim fica difícil Angola não estar sempre a mexer comigo, a maneira que se vive aí a vida agrada-me imenso!
Este foi um momento que mexeu connosco Paulo. Foi, de facto, um momento muito especial...
Para as pessoas que "gostam de viver os bons momentos da vida" são momentos como este que nos preenchem...
Isso aliado à vontade que já tens de vir para cá...
Vem... Nós cá estaremos (espero eu) para te apoiar no possível.
Abraço
Enviar um comentário