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sábado, 16 de outubro de 2010

23 de Agosto – O primeiro ano na Terra Avermelhada

Muito haveria a dizer sobre este primeiro ano na Terra Avermelhada…

Mas o blog tem essa vantagem e objectivo… Registar todas essas “pequenas” coisas que nos vão acontecendo diariamente e que, invariavelmente nos marcam, mas que num momento de balanço anual pouca relevância assumem.

Por isso mesmo a tarefa fica muito mais facilitada e este será um balanço genérico sobre o que sinto, como vejo este país um ano depois e quais as perspectivas futuras.














Em primeiro lugar sinto-me muito feliz. Após 11 meses sozinho na Terra Avermelhada, neste momento já tenho a minha metade junto a mim e, portanto, a vivência torna-se mais fácil e, sem qualquer dúvida, melhor.

Penso que foi perceptível nos textos que fui inserindo no blog mas, apesar de todas as diferenças compreensivas (e de todas as outras que a milhares de km’s de distância não são perceptíveis), realço: A minha metade era mesmo a única coisa que me faltava (daquelas que são possíveis porque, evidentemente, preferia ter cá aqueles amigos especiais, a família, etc) porque Luanda (e Angola) não é um local onde me sinta desenquadrado… Não é um local onde não goste de estar… Evidentemente que poderia ter muitos outros atractivos, que poderia ser mais “europeia” em algumas vertentes e poderia ser muito mais agradável… Mas não é.

Não é mas com o tempo aprendi que não vale a pena “encalhar” nessas inexistências/problemas porque existem muitas outras coisas boas de que podemos tirar partido. Por isso, julgo, o segredo é concentrar a nossa energia nas coisas boas e nas coisas que gostamos realmente de fazer para que possamos sentir-nos bem.










Em segundo lugar, a forma como vejo este país… Não é fácil… Antes de vir imaginava uma cidade completamente destruída, em que havia falta de tudo e em que a insegurança fazia com que as pessoas não saíssem de casa, etc…

Apesar de não estar totalmente longe da realidade, existem algumas diferenças… A cidade está muito degradada, é verdade, e esse é o reflexo de 30 anos de guerra em que as estradas, os edifícios, os jardins, etc não tiveram qualquer manutenção. Não existe, ao contrário do que eu pensava, uma degradação causada pela guerra. Em Luanda existem (nesta altura) 3 ou 4 locais em que a degradação se deve directamente à guerra e são locais muito específicos que, um dia, mostrarei a quem está desse lado…

Contudo, opondo-se a essa degradação, existe uma quantidade (absurda diria eu) de edifícios novos e em construção que pretendem colmatar as necessidades do país. Falo de hóteis, de habitações e escritórios que fazem com que qualquer recém chegado diga “mas esta cidade é um estaleiro”. E é de facto… E aí, apesar dos diversos transtornos que isso provoca, está um dos pontos que considero positivo… A cidade está em permanente mudança e melhoria a uma velocidade que eu nunca tinha visto…

Ao contrário de Lisboa, ou das restantes cidades que conheço, em Luanda tudo está por fazer e, neste momento, tudo está a ser feito e, por isso mesmo, de dia para dia notam-se as mudanças. Digamos que, quem cá está acompanha a evolução da cidade e, consequentemente, do país.

Vemos edifícios a ser derrubados e outros a nascerem. Vemos ruas a serem alargadas, outras a serem criadas e outras a serem reabilitadas. Vemos surgir dia após dia novas ofertas a nível de espectáculos culturais (apesar de serem ainda poucos), ou de actividades de lazer, ou de infra-estruturas de turismo, ou melhorias a nível de acessos à internet, ou de melhorias nas comunicações móveis ou… Ou tudo…

Tudo o que se possa imaginar muda, diria, quase diariamente neste neste país.

Apenas a título de exemplo refiro a não utilização do FAX. Julgo que esse é um excelente exemplo… Enquanto que em Portugal se podem definir diversas fases que, invariavelmente, estão associadas ao avanço tecnológico, em Angola não é assim… Portugal passou de comunicação presencial, à utilização de TELEX, à utilização de FAX culminando com a utilização de e-mail’s. Contudo em muitas áreas o e-mail ainda não é tido como uma forma de comunicação formal… E em Angola?? Basicamente o FAX não é utilizado… O e-mail é a forma de comunicação por excelência (quando todos os interlocutores têm acesso a internet, entenda-se) e tratam-se muitos asuntos presencialmente…

Julgo que este é um exemplo perceptível da velocidade que os processos tomam neste país de forma a obter o tão desejado nivelamento tecnológico com os restantes países.

Para além da vertente tecnológica existe ainda a vertente social… E aí, apesar de não ser à velocidade desejável, começa-se a perceber a actuação das autoridades nesse sentido… A limpeza diária das ruas, o incutir de respeito e civismo nas autoridades, as campanhas de informação relativamente a algumas doenças no país (poleomielite e o VIH) e muitas outras coisas que se sentem a mudar no dia-a-dia…
Sem dúvida qu os slogans são mais que isso… “Pela nova Angola”, “Angola está a mudar”, “Por uma Angola melhor”, “Todos juntos para melhorar a nossa Angola”, parecem frases feitas ou brilhantes tiradas de um publicitário eficaz e se calhar são, mas as mudanças vão-se notando…










E finalmente as perspectivas futuras…
Essas são mais complicadas porque se temos sempre grande dificuldade em antecipar o que será o futuro aqui, em Angola, essa dificuldade cresce exponencialmente.

Existem uma série de aspectos que contribuem para essa dificuldade. Alguns conseguimos controlar mas outros são, de todo, impossíveis de antever…

Um dos factores que, diria, preocupa mais todos os expatriados a viver em Angola é a establidade política mas, para além desse, existe ainda outro que se prende com a “vontade”/possibilidade do governo manter o seu nível de investimento. Tal como já disse em alguns dos textos anteriores em Angola, basicamente, falta fazer tudo mas…

Mas para isso será necessário que o Estado disponibilize as verbas necessárias para que tudo o que falta seja feito… À primeira vista isso não parece uma tarefa muito complicada mas… Uma vez que no último ano, “à sombra da crise financeira mundial”, houve um grande decréscimo de pagamentos (o que originou uma grande crise junto das empresas que continuaram a sua laboração sem que recebessem as verbas acordadas) o receio da continuação/agudização deste problema é grande…

E é por tudo isto que as perspectivas de futuro não são brancas nem pretas… Teremos que esperar para ver o que o futuro nos reserva porque, e essa é uma triste verdade, o comum dos mortais também não consegue antecipar qual será o futuro de outras economias mundiais que, pensávamos, eram sólidas…

Por tudo isso resta-me apenas dizer que, a nível pessoal, as perspectivas futuras são bem mais positivas porque, afinal de contas, estarei com a minha metade.
;)

Para terminar deixo uma música, com uma mensagem forte, que descobri recentemente…
Música: Angola
Interprete: Matias Damásio
Vídeo elaborado por: LKaAngolana
Link: http://www.youtube.com/watch?v=1o90_caqiV8

 

O maior desejo?
Que a estabilidade do país se mantenha de forma a que todos os projectos consolidem e potenciem um maior desenvolvimento do país… Porque este é um país com enorme potencial se, obviamente, os homens assim o quiserem…

2 comentários:

Co-Reporter disse...

Amor, este é o melhor post que já fizeste! Quem já esteve aí ou está, sabe que é tudo verdade! O Sr. Matias Damásio tem razão, é um país que tem tudo para fazer o que quiser.
Quem diria que um ano passaria tão rápido :)

Repórter de Improviso disse...

Obrigado. E é tão verdade como tudo o resto que colocamos... ehehehheeheheh O que querias dizer é que com este conteúdo pode haver muitas pessoas a identificarem-se... ;)
E sim... A música é muito boa.

Já passou mais um ano... Este conseguimos "medi-lo" porque temos a distância como referência...

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