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segunda-feira, 20 de setembro de 2010

31 de Julho – Luanda Jazz Festival

Este era um evento ao qual desejávamos há muito assistir juntos pelo que os bilhetes foram comprados com muita antecedência para evitar que perdêssemos a oportunidade. Seria (pensávamos nós 2 meses antes) o primeiro grande evento a que assistiríamos juntos em Luanda. Acertámos.

O cartaz era de renome, muito embora uma das cabeças de cartaz, Diana Reeves, tivesse que ser substituída por outro convidado, devido à impossibilidade de comparência.

Inicialmente não era a nossa escolha, mas acabámos por trocar os bilhetes previamente adquiridos para Domingo, pelos de Sábado, sem sabermos que surpresas nos poderiam ser reservadas.

Com alguma logística à mistura, lá fomos com ajuda deixar o carro à porta do Cine Atlântico para evitar constrangimentos no final do espectáculo, e regressámos a casa do Nuno onde nos esperava um vasto manjar composto por iguarias nacionais e não só... entre muitos dedos de conversa, gargalhadas e as brincadeiras do Dudu, lá se estava a aproximar a hora do primeiro concerto.

Quando chegámos demos uma volta pelo recinto e não podemos deixar de reparar na boa organização do evento, ao mesmo tempo ficámos agradavelmente surpreendidos por perceber que, apesar do elevado preço dos bilhetes (sendo elevado tendo Portugal como referência mas normal para os preços praticados em Luanda), todos os consumos no interior do recinto estavam abaixo da média praticada em Luanda. Quando nos dirigimos ao palco principal, o Cine propriamente dito, a Lura já estava a ensaiar. Era a primeira convidada a actuar. O espaço era agradável, com lugares sentados que em tempos serviam para ver projecções ao ar livre.

O concerto foi bom e contribuiu para animar aquele início de noite. Seguia-se uma actuação no palco secundário de um músico nacional, e da nossa parte, uma pausa para uma gulosice. Fomos comprar um geladito e eis que a co-reporter tem um regresso ao passado ao ver a indicação de um dos sabores “Arroz Doce”!

Sem pensar muito pedimos os dois uma bola de Arroz Doce. Ao que a proprietária do espaço pergunta “Já conhecem?” A co-reporter responde por ambos ao dizer “eu já, mas ele não”.
Naquele preciso momento tanto a interrogação da proprietária como a resposta da co-reporter deixaram-nas a ambas intrigadas e a conversa tinha forçosamente que continuar até se desvendar os mistérios na cabeça de ambas :)

A senhora prosseguiu: “se conhece só pode ser de Portugal e de um sítio, a zona da Costa da Caparica, porque eu era a única a fazê-los”. Lá está, tudo tem uma explicação!

Depois dos pais da Co-repórter se mudarem de Lisboa, passaram a frequentar no Verão uma geladaria na Marisol, motivados sobretudo pelo gelado de Arroz Doce. Passado um certo tempo a geladaria mudou de donos e durante algum tempo não foi possível encontrar gelado de arroz doce. Até que o voltaram a encontrar em plena rua dos Pescadores. Primeiro numa geladaria pequena e depois na Prime, o paraíso para os amantes de gelados :)

Até que o gelado de arroz doce desapareceu por completo e se resignaram...

Em breves instantes a senhora contou a história do prisma de quem a viveu… Basicamente as diversas tentativas não deram certo e agora cá estava, em Luanda. Ainda não tinha estabelecimento aberto mas vendia desde sua casa para fora e não nos negava uma simples bola, bastava aparecermos por lá! Dona Milú, não se preocupe que vamos ser bons clientes!!! Deixe o calor apertar!!

Ao sabor do nosso geladito assistimos ao concerto do Gabriel Tchiema e regressámos aos nossos lugares para ver o sul-africano Georges Gwangwa. Guiados pelo conhecimento de uma fã sentada ao nosso lado, ficámos a saber que era o melhor músico de Jazz africano e que no Lisboa Capital da Cultura foi o artista convidado pela organização para abrir o evento.

Realmente a actuação correspondia na perfeição ao que a senhora nos acabava de dizer, e o Georges animava com a sua banda todos os presentes, colocando o público bem expectante para a actuação seguinte.

E eis senão quando, a percepção que ambos tínhamos começado a ter ao longo do desenrolar da noite, se começa a reforçar. As três filas atrás de nós estavam ladeadas de guardas que impediam qualquer pessoa de se sentar e na fila atrás de nós haviam 3 ou 4 lugares almofadados. Algum tempo depois de ter brincado com a possibilidade do Presidente da República poder aparecer e sentar-se a 3 metros de nós, alguns membros da organização começaram a colocar carpetes vermelhas na entrada lateral que dava acesso à zona VIP o que nos leva a dizer, “ele deve vir aí”, e o outro meio descrente, “achas? Não...”

Continuámos a assistir ao concerto e eis que as dúvidas se dissipam... uma fila de seguranças irrompe pelo cine com o presidente e os seus convidados no meio. Tomam os lugares atrás de nós, ficando o presidente tão perto ao ponto de lhe podermos estender a mão para o cumprimentar.

O que é que isto terá de especial? Muitos que estão longe poderão não o perceber, mas houve tempos em que isto seria de todo impossível. O presidente da República de Angola estava ali, num evento público, com os seus ténis calçados (e com o seu engomado fato), a assistir ao evento no meio de tantos outros cidadãos, sem camarote presidencial, muito embora com as suas medidas de segurança.

Foi saudado pelo Georges Gwangwa, que agradeceu a sua presença, e estava rodeado de familiares e convidados, todos animados a assistir ao espectáculo. Saiu por breves instantes, enquanto não subia ao palco o cabeça de cartaz da noite.

Após a subida ao palco do George Benson, a noite nunca mais foi a mesma. O público entrou em apoteose com o seu soul e poucas foram as pessoas que permaneceram sentadas. O concerto foi fenomenal, sem uma única paragem, com as músicas a sucederem-se em catadupa, cada uma com mais vibração que a anterior. No final do espectáculo, o entertainer fez a pergunta que já se esperava, tendo em conta a figura presente “vamos perguntar ao nosso presidente se ele quer mais uma?” E sorrindo o Presidente, que permanecia de pé, fez sinal afirmativo para delícia dos presentes.

Com o objectivo de evitar a “confusão” à saída do Presidente tentámos antecipar a nossa saída… Ao sair vimos todo o aparato habitual (e normal) nas deslocações do Presidente (5 viaturas iguais, ambulância, militares armados e polícias). Entrámos no carro, que estava a cerca de 50 metros da porta principal do Cine Atlântico, e nos primeiros 2 metros de marcha atrás surgiu de imediato um polícia a gritar “Pare o carro, pare o carro, o Presidente vai sair”. Tentei abrir a janela e argumentar mas rapidamente desisti…

Tinha substimado a regra de ouro que tanto já tinha ouvido falar…

Por ali aguardámos os cerca de 20 minutos que o Presidente demorou a sair e, depois da sua saída, lá fomos nós calmamente para casa reconfortados com os belos momentos e com mais uma história para contar…

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