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domingo, 20 de setembro de 2009

24 de Agosto – O primeiro dia de trabalho

Felizmente ontem perguntei ao Sr. Cabral a que horas é que “se começava a trabalhar”… Foi com algum espanto que ouvi “às 7.30”.

Por isso mesmo o dia começou pelas 6 da manhã. Tomei o pequeno almoço e fui para o trabalho. Ontem quando íamos para o Miami passámos no escritório e fiquei a saber o caminho. Na realidade também não há muito a saber… 3 minutos a pé separam a casa do escritório (o que é uma vantagem porque o trânsito é caótico)…

O momento da saída de casa, depois de ser alertado para tantas situações, foi um momento difícil… O ter que sair a porta e caminhar durante esses 3 longos minutos, sozinho, até ao escritório… Em Portugal fui alertado diversas vezes para não andar com determinados objectos à vista senão corria o risco de ser assaltado e ontem, o Sr. Cabral, salientou que não deveria andar frequentemente com o computador de casa para o trabalho por isso, com receio, decidi deixar o portátil em casa.

Ao sair fiquei ainda mais nervoso. A 30 metros da porta de casa estavam duas motas da polícia. Pensei “isto é uma zona tão complicada que às 7 da manhã já estão policias na rua”.

Durante o caminho as minhas pernas tremiam… Percebo agora, porque concluo o texto em 5 de Setembro, que esse sentimento se devia a dois factores: i) os inúmeros alertas ouvidos em Portugal e, ii) ao pré-conceito que transportamos na viagem. Cresci com a ideia de que um conjunto de jovens negros na rua não é sinal de muita segurança. Preconceito??? Pode ser… Mas durante a vida acabamos por construir algumas ideias e, com o passar do tempo, tomamo-las como verdades…

Neste caso há uma pequena diferença… Estou em África… Portanto os locais são negros logo é normal que andem em grupos e que falem nas ruas tal como os brancos fazem em Portugal…

Prosseguindo com o meu primeiro dia…

À hora do almoço percebi porque é que estavam dois polícias quase à porta de casa… O responsável número dois da polícia nacional mora no largo e, como tal, quase todos os dias estão lá polícias…

Quanto ao primeiro dia foi normal… Conheci as pessoas, tentei perceber o que faziam e comecei a tentar integrar-me no trabalho e na equipa. Que mais se faz no primeiro dia??? Pede-se algum material essencial para começar a trabalhar. O que é que eu pedi? Canetas, Lápis/Lapiseira, caderno, borracha, post-it’s, clips e penso que nada mais…

O que é que é isto tem de interessante? Quando recebi o caderno fiquei a olhar para ele. A capa denunciava que aquele era um caderno para crianças… Sorri quando o vi e o colega que o entregou, o André, rapidamente se apressou a explicar que estava a entregar aquele porque era o que havia e, para que não restassem dúvidas, mostrou-me o dele que era igual…

Em breve vou actualizar este post com uma fotografia da capa do caderno para que imaginem o quão engraçado foi a situação…

À medida que as horas iam passando, confesso, foi aumentado o receio de sair do escritório ao fim do dia… Mais uma vez o mesmo receio… Um sitio desconhecido, escuro, que mal se conhece… Mas felizmente o Sr. Cabral foi chamar-me para regressarmos os dois a casa… Obviamente que fazer o percurso acompanhado, ainda por cima com alguém que o faz há alguns anos, dá outra confiança e segurança.

Chegado a casa a confirmação de que não me conseguia ligar à internet… Mais umas tentativas e nada… Entretanto já tinham mandado activar uma placa de internet móvel mas não se sabia muito bem quanto tempo demoraria… A segunda noite sem possibilidade de estar durante muito tempo a falar com a minha metade… Essa era a principal angústia…

Quando me fui deitar assustei-me. Entre um dos jipes que está sempre parado lá em casa e a parede estava uma pessoa deitada no chão… Aproximei-me, sem fazer barulho, para tentar perceber o que se estava a passar. Percebi que debaixo da pessoa estava um pequeno colchão de espuma e, afinal, era o guarda de casa. Não percebi a situação e achei-a desumana. Fui deitar-me com um sentimento de estranheza e repulsa porque, em tão pouco tempo, já observei demasiadas situações em que alguns acham que ainda são colonizadores dos outros… Não sei explicar… Ainda existem situações difíceis de perceber. Fiquei cheio de vontade que o outro dia chegasse para falar com alguém próximo, obviamente o Ludgero, sobre a situação.

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