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sábado, 19 de setembro de 2009

23 de Agosto – A chegada (Parte 2)

Era um largo grande e agradável. Dividido em 2 rectângulos por uma estrada que passa no meio, esse largo tinha, e tem, um jardim, um parque infantil e um recinto de jogos (futebol e basquete).

Quando saímos do carro apareceu o segurança da casa, o que me surpreendeu porque não sabia que tínhamos segurança em casa. O segurança disse de imediato: “o chefe já está acordado e pediu que eu o fosse avisar quando chegassem”. E lá foi avisar o, quem eu pensava ser, Sr. Cabral.

De uma forma desportiva surge-me então um homem com barba e cabelo branco que aparentava ter 60 anos. À primeira impressão tratava-se dum homem muito sério, rígido e rigoroso. Recebeu-me duma forma amigável, explicou-me onde seria o meu quarto (num anexo da casa porque os três quartos estavam por agora ocupados) e disse-me “bom, agora certamente quer ir descansar um pouco não é?”. Perante esta pergunta, e consciente que se dormisse umas horas iria ficar mole e desconfortável o resto do dia, disse-lhe que tencionava dormir só à tarde.

Ele explicou-me que pensava ir a um bar de praia, onde se encontrava com os amigos ao domingo e que, se eu quisesse, pretendia levar-me. Passaríamos lá a manhã, almoçávamos e à tarde regressaríamos a casa para descansar.

A proposta pareceu-me agradável e concordei… Pelas 8.30 saímos de casa…

No caminho fui vendo a realidade da cidade… Em quase todas as estradas que passámos confirmei a ideia que recolhi na viagem do aeroporto para casa. A cidade era, de facto, desorganizada, caótica e degradada. As pessoas conduziam duma forma “agressiva” e anárquica e procuravam, em qualquer metro disponível, um espaço para ultrapassar, para virar, ou para fazer uma manobra qualquer. Um bom exemplo disso foi verificar, na Marginal, quatro vias com carros a formar um fila. Ao avançar, sobre o passeio, percebemos mais à frente que tudo era causado por um acidente numa estrada à esquerda da marginal. O engraçado da questão é que, para essa estrada, da Marginal, poderia apenas virar-se em duas via, ou seja, as outras duas bloqueavam, desnecessariamente, o trânsito que pretendia seguir em frente.

Na Baixa da cidade, a parte mais nobre, percebe-se o que já foi este país… A arquitectura dos edifícios coloca-nos de imediato nos anos 60 e 70. Enquanto íamos avançando ia imaginando como seria viver aqui antes da independência. Julgo não me enganar muito se disser que, antes de 74, a vida era muito melhor nas “províncias” do que na “metrópole”. Certamente que terei oportunidade de indagar sobre isto…

Passámos então a manhã no Miami, o bar de praia, que estava a ser limpo depois de uma noite de música brasileira ao vivo. Nessa manhã, ainda meio “cacimbado”, tudo para mim era novo… As minhas primeiras horas por cá revelaram-se muito interessantes porque foram partilhadas com um amigo do Sr. Cabral. Uma pessoa muito cativante, um autêntico contador de histórias que decidiu deixar a arquitectura em Portugal (depois de trabalhar muitos anos no gabinete do Arq. Taveira) para ter uma vida mais descontraída e calma ao ritmo de África.

Depois de almoço regressámos a casa e descansei até próximo das 18 horas.

Ao deitar, para atenuar o impacto da distância e “esquecer” a impossibilidade de falarmos, li as frases que a Patricia colocou nas duas fotografias que me entregou para trazer. Depois disso, com o coração cheio, uma noite calma a preparar o meu primeiro dia de trabalho.

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