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terça-feira, 8 de setembro de 2009

22 de Agosto - O dia da viagem

Uma primeira breve justificação…

Quando cheguei comecei a registar, escrevendo, o que sentia, o que ia presenciando, etc. Agora, com a ideia do blog, surgiu a necessidade de interligar e sequenciar esses textos com outros que entretanto estou a criar… Só agora começo a colocar coisas relativas aos meus primeiros momentos em África porque não tinha nenhum texto dos últimos momentos da despedida…

Uma segunda breve justificação…

Vim sem máquina fotográfica. Depois de tantas histórias que ouvi achei que o melhor era não trazer máquina fotográfica porque, segundo alguns conselhos, “até no aeroporto me podiam ficar com ela”. Assim que cheguei arrependi-me… Tudo isto para dizer o que? Só daqui a algum tempo é que poderei complementar os textos com imagens do que descrevo…

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Após uma semana muito emotiva e sentimental eis que chegou o dia da viagem.

E, sem nomeações porque os sentimentos não se resumem em palavras, fica um forte e apertado abraço (ou quando aplicável, um beijo) a todos que sabem que, pelos mais diversos motivos, apesar da distância, foram, são e serão importantes para mim.

Após o check-in (em que, basicamente, tive que “refazer” as malas para tentar reduzir os 10kg em excesso e minimizar a módica quantia de 25€/kg de excesso) e algum tempo de espera chegou o momento… Era a altura de dar o passo na direcção do avião e rumar ao novo destino.

A despedida foi, obviamente, muito intensa e emotiva. Até ao momento em que nos levantámos para a despedida todos estávamos “controlados” mas, assim que nos levantámos, começaram a correr as lágrimas da despedida. Mesmo com as formas de comunicação que existem hoje em dia, a distância física causa-nos “bastante sofrimento”.

Depois de me despedir dos meus pais, da Paula e do Chico, despedi-me da Patrícia já mais perto da passagem para a zona de embarque. Depois de tantas coisas que ultrapassámos juntos e de tantos momentos partilhados, a despedida é sempre mais dura… E foi, sem dúvida, o mais duro e o que mais me custa relatar…

Depois de ouvir “última chamada para o voo…”, despedimo-nos pela última vez e segui para a zona de embarque. Para a zona de embarque errada porque para os voos profissionais a TAP tem (eu não fazia ideia) uma entrada especial que, penso, designam de Green. Duma forma simplificada era apenas um longo e estreito corredor directo para a zona de detecção de metais… Sem filas de espera… O verde das laterais desse corredor davam um impacto diferente ao momento, ou então resultava do facto de estar mais sensível… Não sei…

Esse foi o momento em que, definitivamente, estava sozinho. A partir daquele momento estaria, fisicamente, realmente sozinho. Por sentir isso, por sentir que a partir daí muita coisa seria diferente, ao longo desse corredor por, pelo menos três vezes, parei. Olhei para trás e acenei. No topo do corredor, do outro lado das portas, a uns 30 metros, estavam todos a acenar… Chegado ao fim do corredor, uma curva e os detectores de metais…

Via-se de tudo. Pessoas que tinham vindo à “metrópole” fazer compras e estavam carregadas de coisas, pessoas que iriam trabalhar na construção civil, pessoas que, provavelmente, iriam regressar após umas férias e, também, uma ou duas pessoas que, como eu, seria a primeira vez que iriam fazer aquele trajecto. Em alguns casos o olhar denunciava o “aperto da despedida”.

Após a verificação dos meus elementos a primeira situação caricata, ainda em Portugal e já estava a começar? Uma senhora com +/- 46 anos falava, bastante alterada, ao telefone e dizia que “Mas como é que é possível?? Eu estou aqui com a avó (ao lado estava uma senhora sentada com os seus quase 80 anos) e tu estás a dizer-me uma coisa dessas??? Como é que é possível??? E agora???”. Apesar da curiosidade que tive, confesso, prossegui o meu caminho em direcção ao autocarro.

Com a chegada do autocarro junto do avião percebi a “fúria” da senhora quando disse “e vais perder o avião por causa de 200€??? Desculpa mas eu não vou perder este voo.”. Provavelmente algum menino/a veio à metrópole e decidiu que queria levar tudo o que gostava… Pode até ter levado mas, certamente, foi noutro voo porque o check-in já estava fechado desde o primeiro telefonema que ouvi…

A viagem foi normal… Apenas uma situação que me causou alguma surpresa. Ao meu lado ia uma jovem negra. Algumas vezes falava com uma menina que ia à minha frente, acompanhada dos pais e da irmã e, outras tantas vezes falava também com a mãe da dita menina… Não estava a perceber até que, ao chegar, comentava que tinha visto luz em casa. Contente dizia que a família estava à espera dela e que, por isso mesmo, já toda a gente se tinha levantado lá em casa… Só aí percebi… Sim, por vezes sou bastante lento… A jovem era “empregada” daquele casal e tinha vindo a Portugal acompanhar a família durante as férias. Seria uma espécie de “ama” das crianças.

Considero apenas esta situação digna de registo porque me causou bastante surpresa… Não imaginava que ainda existissem pessoas tão dedicadas a um “patrão”, obviamente que não espero que ela o tenha feito porque lhe apeteceu mas, ter alguém com 24 ou 25anos a trabalhar a 100% para uma família era algo que pensava já não existir.

Será que passadas duas semanas (estou a complementar este texto a 6 de Setembro de 2009) ainda penso da mesma forma???

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