Depois de quase um mês e meio em casa, em que recebi todos os mimos possíveis e imaginários da família e amigos, eis que chegou a hora de vencer mais um obstáculo e rumar à África do Sul para o meu novo projecto. Mais uma vez é necessário fazer as malas, partir, mas... principalmente despedirmo-nos de quem fica...
Nos últimos dias e mais precisamente quando se aproximava o meu regresso a África, a minha mente esteve muitas vezes retida sobre determinados pensamentos e ideias, mas sobretudo sobre as razões que nos levam a abandonar o nosso país, a nossa pátria e ir lutar, vencer e viver o dia a dia num local longínquo.
Isso levou-me a perceber que, embora de uma forma não tão evidente e constante, não só a moda se regenera, os hábitos e as tendências migratórias também.
Actualmente, e sempre que é lançada uma nova colecção de moda, apercebemo-nos que há sempre um estilo dominante que já o foi noutra época do passado. Claro que adaptados ao presente e com as devidas modificações introduzidas pela necessidade de inovar e actualizar, mas há sempre aspectos que foram utilizados em tempos. Muitos exemplos se poderiam dar, os mais recentes, entre outros, são as calças Skinny, as ombros das camisas e casacos levantados, as saias tipo tulipa, as botas com atilhos, etc...
Com a vida, e a necessidade de mudança de país, ocorre exactamente o mesmo. Claro que sempre houve e sempre haverá movimentos migratórios entre todos os países, mas também há tendências... Recorrendo a um passado recente, é fácil recordar a grande corrente emigratória que Portugal viveu durante o Estado Novo e o período que sucedeu a revolução de Abril. Com limitações ao nível do desenvolvimento cultural e económico, devido ao regime anti-democátrico e totalitário que ditava leis e impedia o progresso social, muitos foram obrigados a procurar novas formas de vida fora do país. Alguns tentaram a sorte mais perto, sendo França, Inglaterra, Suíça, Alemanha e Luxemburgo, os destinos mais procurados, e os mais destemidos aventuraram-se para bem mais longe... EUA, Canadá, Venezuela, Brasil, Argentina... as razões que os assistiram na escolha, não as sabemos, mas a coragem e a necessidade de ter uma vida melhor, superaram a saudade, a distância e todos os factores contrários à mudança.
Depois... depois veio um período de estabilidade e crescimento económico incrível, onde nos habituámos a viajar, a comer fora, a disfrutar de uma série de prazeres da vida. Durante anos ninguém falava em necessidades de emigrar, habituámo-nos sim a receber, muita gente, de muitos países, e acreditamos inocentemente que assim permaneceríamos para todo o sempre. A expressão vacas gordas era a palavra de ordem... eu nunca vivi profissionalmente durante este período, confesso que gostava de ter vivido ou talvez não... não sei... mas cresci profissionalmente no pós-vacas gordas, e recordo todos os momentos em que me lembraram que esse período já não existia, que não dava para isto, que não dava para aquilo...
E chegou o dia em que tive, perdão, tivemos que tomar uma decisão com a minha e nossa vida. Sabíamos que as coisas não iam melhorar e que mesmo que o período das vacas magras, perdão, macérrimas ou anoréticas, passasse, as vacas gordas nunca iriam voltar ou, caso voltem, não será em tempo útil para nós! E partimos... primeiro o repórter, depois fui eu. E somos oficialmente parte da nova tendência migratória, novamente aqueles que se vêm obrigados a procurar uma nova forma de vida num outro país. Mas claro está... a tendência é diferente da anterior. Este movimento migratório é composto por licenciados que, na sua generalidade não conseguem arranjar emprego na sua área ou, conseguindo, ganham miseravelmente (sendo que muitas vezes trabalham, mas não existe salário) para o dinheiro que gastaram aos pais na Universidade, pelo que estudaram, pelo que sabem ou tão simplesmente, pelas capacidades que têm e podem utilizar em proveito do seu país!
Os países de destino nem sempre se repetem, outros sim, mas na sua maioria, Angola, Brasil, Moçambique, Singapura, Dubai... a lista seria imensa!
Nós... para quem nos “lê” é um dado adquirido, para quem só agora aqui chegou, escolhemos Angola! E partir foi tão difícil... deixamos tantas coisas para trás... família, amigos, casa, objectivos, a união e a proximidade da nossa cultura, de tudo aquilo com o qual nos identificamos... é como ser arrancado de algo ao qual sempre estivemos ligados... mas no fundo temos um objectivo maior, o ir à procura de uma vida melhor, na esperança que a experiência recompense o sofrimento causado pela distância e separação.
E no fundo somos duas pessoas com sorte, porque apesar de tudo podemos lutar pelos nossos objectivos, ainda que longe, mas podemos!
Nem sempre a realidade é assim... À nossa volta há sempre pessoas que se esforçam e por uma outra razão não conseguem alcançar o seu sonho, seja profissional seja pessoal. Não consigo descrever-vos a dificuldade que tenho em aceitar a realidade crua de algumas circunstâncias que nos impedem de alcançar os nossos objectivos por mais que nos esforcemos e hoje tocou-me o coração uma mensagem que recebi de uma das pessoas mais talentosas que conheço.
Ele tem um sonho, tem o talento e toda a criatividade necessária para o alcançar, mas não o pode tornar realmente verdadeiro porque lhe falta uma componente indispensável, que nos dias que correm é ainda mais difícil de obter... e o sonho, o objectivo dele, não se resolve “facilmente” como o nosso...
Não tenho a capacidade financeira para te ajudar, mas tenho sim a capacidade humana para divulgar o teu magnífico trabalho sempre que possa!
Tenho a certeza que todo o teu esforço, empenho, criatividade e capacidade de inovação serão mais cedo ou mais tarde reconhecidos de forma a que o teu sonho possa ser alcançado e aquilo que hoje é algo pontual na tua agenda, se torne o teu ambiente diário!
Por tudo isto não deixem de visitar esta página que recomendo vivamente:
Mas, para vos aguçar a curiosidade, deixo só alguns dos muitos trabalhos já realizados:
Para o final deixei a minha malinha que me foi oferecida com carinho e que vai passear muito por Luanda e arredores... fiquem atentos aos próximos posts... ;)
No fundo... no fundo é só um obstáculo a vencer... o mais difícil está aí dentro de ti, o mérito e a criatividade! Isso sim, pouca gente tem...
6 comentários:
Muito bom! Mais uma vez se constata que o termo Repórteres de Improviso começa a não fazer justiça à vossa escrita! Continuem assim! Abraço de uma pessoa que talvez... se junte a vocês e aos milhares de outros portugueses que estão em Angola e Moçambique, vamos a ver... é como vocês dizem, não dá para prever ou planear a nossa vida daqui a seis meses quanto mais a 2 anos.
Muito bem, desejo-lhe felicidades mas, tenha quidado e não se afaste muito do local onde fixar residencia, ´que é para não ver um policia a impedir a sua livre circulação.
Um abraço
Paulo: Infelizmente é a verdade... Cada vez mais a expressão Carpe Diem é real... Pondera bem o que pretendes fazer que nós, espero eu, por cá estaremos.
Abraço
Caro José Sousa.
Obrigado por se juntar a nós.
Não sei de onde nos acompanha mas, pela expressão, diria que é de Angola...
Tem toda a razão...
Mas julgo que o Paulo ainda não consiga perceber o alcance da sua dica. É preciso por cá estar...
ehehheeheheh
Abraço
Olá Paulo e José,
Embora com alguma distância face a este post datado de Outubro, estou novamente a regressar... a Luanda!
Obrigada pelos vossos comentários, é sempre um prazer saber que a nossa escrita chega a alguém e pode ser útil! Esperamos conseguir continuar a publicar agora com mais frequência, cumprindo a promessa da actualização do blog :)
Cumprimentos,
Có-reporter
Hehehehe!!! Pensava eu que estava a falar com a Co-repórter e afinal estava a falar com o Repórter. Caríssimos Repórteres, como eu acho que a vossa partilha de experiências e perspectivas é muito interessante e enriquecedora para mim e, penso eu, para os outros leitores que sigam o blog, faço questão de contribuir com algum feed-back no papel de fiél seguidor, apoiar-vos e incentivar o vosso trabalho! Continuem! Aguardo ansiosamente pelos próximos post's. Grande abraço para os dois!
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