O nome desta senhora transporta-me para alguns e bons anos
atrás, em que a nossa fidelidade matinal à Antena 1 nos fazia descobrir
cantores assim, ainda ligeiramente desconhecidos das grandes massas.
Andava por aí no 2º ano da faculdade e lembro-me de pensar
que aquele som me transportava para o Brasil, lembro-me de imaginar a infância
desta senhora, certamente riquíssima do ponto de vista cultural e musical por
ter nascido filha dessa musa inspiradora chamada Elis Regina, que cantava livre
como ninguém.
Alguns anos depois continuei fiel e um dia numa visita à
FNAC, com um dos meus primeiros salários, trouxe para casa o álbum homónimo,
que fui riscando e riscando no carro até o meu irmão e o repórter dizerem que
eu desperdiçava cds, que se estragavam, que os poderia gravar e manter os
originais em casa. Não sei porquê mas nunca gostei de cds gravados, gosto de
ter os originais. Mas não me apego de alma e coração a eles, mas sim tento
usufruir deles enquanto e sempre que posso. Não colecciono cds, colecciono
música. E sempre fui assim. Quando comprava um cd não o conseguia colocarna
prateleira, ouvia, ouvia e ouvia, e só consigo ter esse prazer quando abro a
caixa original. Cds guardados são relíquias, não têm vida. Talvez seja por isso
que Iphones, Itunes, etc., nunca me tenham deixado extasiada.
Mas voltando ao tema...
Por essa altura que riscava o cd no carro passava uma novela que tornou emblemática e universal uma canção sua. Admito poder
haver outras canções suas mais poéticas, e que a inserção no soundtrack da
novela lhe tenha dado o impulso e o protagonismo que teve, mas a verdade é que
para quem, como nós, está tão habituado a abraços, partidas e chegadas, esta
canção diz-nos tudo.
Estava ainda longe de sonhar vir para Angola quando a Maria
Rita foi actuar a Portugal e a minha Sylvie me convidou para ir ver o concerto
com ela. 90% da plateia era composta por brasileiros, mas não me senti
estrangeira. Houve muito samba e pé tirado do chão, mas nada superou o momento
em que se começou a ouvir os primeiros acordes e em uníssono se cantou:
“Mande notícias do mundo de lá
Diz quem fica...”
Naquela altura senti que estava a viver um momento lindo,
mas não interiorizei completamente a essência do mesmo, até que as partidas e
as chegadas se tornaram parte integrante e constante da minha vida.
Não há dor como a da partida, aquele abraço que recebemos
cheio de amor e de tristeza, a rogar para que fiquemos, deixando antever a
saudade até ao próximo reencontro. Mas não há alegria maior do que a da
chegada, aquele abraço apertado onde se afoga toda a saudade sentida e se
agradece ao mundo por estarmos ali de novo.
E como não poderia deixar de ser a interpretação desta
canção no Cine foi também o ponto alto da noite.
Para além do grande número de
brasileiros que foram para estar mais perto de casa, havia outro tanto número
de outros imigrantes. Não foi um concerto de massas, já que a casa mal estava
cheia, mas foi muito nosso. Despido de grande ou nenhuma decoração, a Maria
subiu ao palco com toda a sua simplicidade, mas capacidade de encher uma sala
que já por ali viu passar artistas de renome.
E assim fomos para casa, a relembrar as saudades, mas com o
coração e a alma cheia.
2 comentários:
Este texto tocou-me profundamente e confesso que vieram-me lágrimas aos olhos, pois as partidas e chegadas, as despedidas e reencontros vão ser uma realidade na minha vida e da minha futura cara metade muito em breve infelizmente....
Um abraço aos repórteres que de improviso nada têm.
Paulo, faz tempo que escrevi este texto e agora que o Repórter o publicou, li-o de novo e as lágrimas também me vieram fazer companhia.
No outro dia perguntavam-me para uma entrevista na rádio como matava as saudades, e respondi, as saudades não se matam, não desaparecem, quanto muito atenuam-se. Só no momento daquele abraço da chegada é que nos sentimos perto de quem amamos e esquecemos as saudades que nos afogaram o coração enquanto estávamos longe.
Um abraço da repórter
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