A vida cultural em Angola é tão subitamente intensa quanto
escassa, e a semana à qual agora nos referimos está no primeiro dos pólos
opostos acima mencionados.
É sempre com alguma excitação que recebemos a notícia da
vinda de artistas internacionais a Luanda, e há medida que a semana ia
passando, davamo-nos conta que os próximos dias iam ser muito cheios...
chegámos a brincar com a situação e dizer “mas resolveram fazer um pack e
trazê-los todos juntos?”
Quem cá vive percebe o que estamos a tentar transmitir, mas
na verdade de Sexta a Domingo Luanda não ia parar (e Benguela também não),
sendo que o cartaz cultural versava assim:
Sexta-feira:
Laurent Filipe, Miami Beach Club
Sábado: Maria Rita no Cine-Atlântico
Sexta, Sábado e Domingo: Carlos do Carmo na Casa 70. Já se antecipava a
saudade do Fado misturado com o calor do Semba
Como a carteira tem fundo à vista, e o fundo em Luanda é bem
visível, fizémos escolhas, Laurent Filipe e Maria Rita. Achámos insano pagar
mais do que um salário mínimo local para ver o nosso querido Carlos, embora as
imagens que vimos posteriormente quase nos tenham enchido os olhos de lágrimas.
E na Sexta lá cumpri o prometido, saindo a horas mais ou
menos decentes, já que apesar de termos mesa reservada, a confiança do repórter
não era a maior, tendo passado o dia a antecipar a não existência de qualquer
reserva no meu nome. Mas o Wilson não falhou e os dois lugares estavam mesmo à
nossa espera, na primeira linha, junto ao palco.
Para os que não são familiares do Miami Beach, é um espaço
de referência em Luanda, na ilha. Muitos dirão que já o foi mais, o certo é que
as memórias dos reveillons ali passados já percorreram o mundo e não há lugar
que mais tenha ajudado a promover o jazz como este.
Não sabemos se foi ao sabor de um gin tónico que ouvimos o
Laurent e a sua banda, ou se foi a ouvi-lo que saboreámos o gin e a refeição de
marisco, mas sabemos que a noite passou depressa e em ambiente de grande
intimidade, o que sempre acontece quando estamos a disfrutar.
O Laurent partia no dia seguinte para Benguela, para actuar
no festival de jazz, e nós partimos até casa, ainda embalados pelo som vibrante
da sua música, enquanto nos transportamos até à próxima experiência de sons e
sentidos.
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