Depois do merecido descanso, porque após a longa e cansativa viagem já tinha feito mais 60 km de picada, foi novamente dia de visitar uma outra Comuna.
Esta, a Comuna do Luvo, tinha algumas características peculiares… Estava a cerca de 60 km de picada, era um local onde os meus colegas nunca tinham ido mas, principalmente, por se tratar de uma Comuna que fazia província com a República Democrática do Congo e por esse ser um local onde se fazia uma feira internacional todos os fins-de-semana… Sendo que uma semana é em território Angolano e na semana seguinte é em território Congolês.
Uma vez que o dia teria que ser suficiente para visitarmos 2 Comunas (uma a 60 km da cidade e outra a cerca de 90) a partida foi pelas 5 da manhã. O quarto era o mesmo porque não entregámos a chave com receio que os quartos fossem ocupados e depois não tivéssemos nenhum quarto disponível para nós…
Partimos em direcção ao Luvo e até aproximadamente metade do caminho nada de novo. Uma picada, como tantas outras, aqui e ali alguns aglomerados de casas e ainda algumas escolas e centros de saúde. Tal como já tinha visto noutras viagens, também aqui se viam grupos de crianças a fazer o seu percurso escola casa. Neste caso, havendo uma única estrada, era mais fácil perceber a quantidade de crianças que se movimentavam.
Difícil era perceber que, em alguns casos, elas teriam que fazer um percurso de 2 ou 3 horas a pé para que conseguissem concluir o percurso.
A cerca de meio do percurso a primeira surpresa… Depois de já termos passado um ou dois postos de controle um dos polícias mandou-nos parar. Antecipámos que seriamos alvo de mais uma das “inspecções” habituais que, na prática, não trariam novidade nenhuma… Mas desta vez não foi assim… O agente mandou-nos parar, de imediato, perguntou se estávamos a ir para o Luvo. Confirmámos e logo questionou se não nos importávamos de levar um dos seus colegas que ia entrar de serviço.
Aceitámos… Era de facto o nosso destino e, obviamente, um polícia no carro seria a garantia de ausência de problemas nos eventuais postos de controle seguintes…
Ainda com muitos quilómetros pela frente ficámos a saber que o agente era de MBanzaCongo mas que só ia de 3 em 3 dias a casa, que aquele era o seu “quartel” e que se deslocava para a fronteira porque esse era também um serviço daquele quartel…
Tentámos explicar ao que íamos e ele rapidamente concordou que era um bom motivo para irmos à Comuna.
Depois da experiência vivida em Nkalambata confesso que a ansiedade devido ao tipo de recepção era bem menor. Percebi que a água era um bem escasso para aquelas pessoas e que, por isso mesmo, qualquer pessoa que os pudesse ajudar seria bem recebido.
Depois dos efectivos 60 km em picada, que foram mais um excelente teste de resistência, chegámos finalmente a uma zona que se percebia ser “a fronteira”.
Depois de uns pequenos casebres que tinham como pretensão ser cafés, havia uma “guarita” junto a uma cancela. Após essa cancela algumas construções antigas (quase todas bem conservadas) e alguns camiões estacionados num grande largo formado pelas construções existentes.
O policia que estava na guarita olhou para a nossa carrinha, enquanto falava com o motorista de um carro que ele tinha abordado, porque não percebia porque nos aproximávamos com tanta confiança para ultrapassar a cancela mas, no interior da nossa carrinha, tínhamos o agente a quem estávamos a dar boleia a dizer para avançarmos e apitarmos para ele levantar a cancela. Depois de olhar para o interior da carrinha, vendo o cumprimento do colega, de imediato subia a cancela para que passasemos. Avançámos e estacionámos também nesse largo.
Talvez como forma de agradecer a boleia a agente que transportámos logo nos explicou onde nos deveríamos dirigir…
Depois de subir alguns degraus entrámos numa sala. À nossa frente estavam dispostas 2 mesas compridas onde estavam sentadas duas pessoas. Um rapaz com cerca de 30 anos e uma senhora de cerca de 40 anos. Questionei se o Administrador da Comuna estava e se, caso estivesse, poderíamos falar com ele. O rapaz disse que ele não estava, que tinha ido a M’BanzaCongo, e perguntou ao que vínhamos. Iniciei a explicação e, quase de imediato, a senhora levantou-se, circundou a mesa e apresentou-se. A senhora era a Adjunta do Administrador da Comuna. Explicou-nos que há umas semanas lá tinha estado outra empresa, disse quenão tinha informação que nós iríamos mas que, já que ali estávamos, ia criar as condições necessárias para que fossemos ver o local onde poderia ser efectuada a captação da água.
Foi uma abordagem diferente… Enquanto que em Nkalambata havia uma atitude simpática e amistosa de cooperação e de conversa com os restantes habitantes da Comuna, neste caso, tudo era tratado de forma quase automática e autoritária. Depois desta breve conversa connosco a senhora disparou uma série de ordens para que pudéssemos cumprir a nossa missão.
O “rapaz” que estava ali sentado era afinal o “professor”. A ele pediu que fosse chamar os responsáveis das polícias e que fosse ver se o Soba (normalmente o homem mais velho/respeitado dos aglomerados de casas) do local mais perto estava lá para, se estivesse, ir connosco pelo mesmo caminho que tinha ido há umas semanas com a outra empresa.
Enquanto aguardava pelo resultado das suas indicações falou então um pouco connosco.. Lamentou-se por serem aquelas as condições que tinha a Administração Comunal mas mostrou confiança num futuro melhor…
Viemos cá para fora, de onde a senhora tentava verificar todos os movimentos do “professor”, e percebemos que o agente a quem tínhamos dado boleia seria um dos nossos acompanhantes. Fomos então, de carro, com o “nosso agente” a casa do Soba para que ele nos acompanhasse.
Já com o Soba regressámos à Administração Comunal. Percebia-se que havia uma “agitação” anormal porque agora já havia mais pessoas fardadas por ali…
Para registar o momento, mas com a desculpa do “levantamento que viemos fazer” perguntei à Adjunta do Administrador se poderia tirar fotografias naquele local.
Expliquei que não queria infringir nenhuma regra e que, por isso, pedia a autorização. A senhora compreendeu e disse-me que pela parte da Administração Comunal eu estava autorizado mas que, uma vez que aquele era um espaço da fronteira, teria que ir pedir também autorização ao responsável da Alfândega.
Nesse momento arrependi-me de ter tentado tirar fotografias mas… Não tanto como alguns minutos adiante…
Mais uma vez requereu ao professor que nos acompanhasse para obter essa autorização. Após a indicação um reforço: “aguarde lá pelos senhores e depois acompanhe-os cá novamente”.
Chegados ao “gabinete” do agente da Alfândega (um hall de entrada de uma casa que tinha pouca iluminação e que, para além da secretária do agente, tinha 6 cadeiras plásticas alinhadas à sua frente), confiante na rapidez do processo, eu e o meu colega ficámos em pé à sua frente. O agente apontou para que nos sentássemos e eu respondi que “não vale a pena, é rápido”. De seguida o professor, de forma brilhante, explicou que “a Adjunta pediu para vir aqui com os senhores porque eles vão fazzer um trabalho de captação de água e querem tirar fotografias. A Adjunta autorizou e eles vêm falar com o Sr. Agente”. Nesse momento percebi que a conversa poderia ser muito rápida ou, ao contrário, poderia ser bem demorada… E não só…
De forma pouco amigável o agente perguntou então “O que é que vieram fazer??? Querem tirar fotografias na fronteira Angolana?” e aí sim… Nesse momento arrependi-me profundamente de ter ousado pedir para tirar fotografias…
Nervoso com a situação comecei a tentar explicar e o agente disse “se calhar era melhor sentarem-se”, eu confirmei que sim e ele rapidamente complementou com “Eu bem vos disse que era melhor sentarem”.
Já sentado prossegui então com a explicação. Quem éramos, ao que vínhamos, porque queríamos tirar fotografias ali, etc etc etc…
Já menos ofensivo mas ainda nada amistoso o senhor pediu a nossa identificação. Mais um arrependimento pelo pedido que ousei fazer…
Expliquei que a única coisa que tinha em minha posse, que demonstrasse que trabalhava na empresa era um cartão de visita e, obviamente, o Visto no passaporte. Depois de averiguar sobre a validade dos nosso passaportes e respectivos Vistos, disse então “isso quer dizer que se eu ligar a alguém para confirmar se o que me estão a dizer é verdade, as pessoas do Governo Provincial vão confirmar-me essa vossa história. Vão sabes que vocês aqui estão certo???”. Mais tranquilo respondi então que sim… Toda a história era verdade pelo que não havia nada a temer… Mas, enquanto estabelecia a ligação lembrei-me de “um pequeno pormenor” que poderia causar alguma confusão adicional… Por isso disse de imediato “podem confirmar-lhe que nós teríamos que vir aqui mas ninguém sabe que estamos aqui hoje” e ele, demonstrando pouca preocupação para o que eu estava a dizer, fez sinal para que eu me calasse…
A chamada estabeleceu-se e, mais uma surpresa… O diálogo estava a ser feito em Espanhol… Sabendo que as pessoas que saberiam da eventual obra e que conheciam a empresa, não falavam espanhol, mais uma vez receei pelo que dali resultaria… O senhor perguntou se conheciam a empresa, explicou o que tínhamos dito, etc e após alguns minutos em que era apenas ele a debitar informação consegui perceber que tudo estava a correr bem…
O interlocutor confirmava a versão e, mais engraçado, dizia que nós deveríamos era estar num aglomerado que fazia parte daquela comuna… É verdade… A indicação que nos tinham dado era Comuna do Luvo mas, na realidade, o trabalho seria para fazer no Sumpe, Comuna do Luvo.
O agente desligou o telefone e, automaticamente, tudo mudou… Falava agora para nós com uma simpatia enorme. De imediato pegou nos passaportes e, esticando o braço, fez questão de os entregar.
Depois, de forma simpática, explicou-nos i) que tinham confirmado o que nós tínhamos dito e que sim.. ii) Que poderíamos tirar fotografias ali e ir ao local onde se poderia fazer a captação da água mas… iii) Que nós deveríamos estar no Sumpe e não ali e finalmente…
A cereja no topo do bolo… Algo nervoso perguntou “e como é que vocês vão? Não podem ir sozinhos… Este é um campo minado e não poderão ir sem alguém que vos acompanhe”. Apesar do choque que tive com a expressão “isto é um campo minado”, expliquei que a Adjunta do Administrador já tinha providenciado essas questões com a polícia.
Tivemos ainda tempo para sugerir que visitasse os nossos escritórios quando fosse a M’BanzaCongo e para ficarmos a saber que o agente era de Luanda. Que estava ali apenas a fazer uma “Comissão de Serviço”.
Simpaticamente despedimo-nos e voltámos para a porta da Administração Municipal para, finalmente, iniciar a nossa viagem que já sabíamos que teria que ser feita a pé e que teria que ser longa…
Tempo para uma fotografia no Largo onde os veículos aguardavam o visto da alfândega até entrar/sair do território Angolano e a um e dos edifícios que ficava em frente.
Ainda a conversar sobre o facto de “ser um campo minado”, chegámos à porta da Administração Comunal. Ali aguardavam-nos várias pessoas… A Adjunta do Administrador, o agente a quem tínhamos dado boleia, outro polícia que parecia se ro seu chefe, 2 polícias de farda verde, o professor e o Soba.
Expliquei à Adjunta como tinha corrido a conversa com o polícia da alfândega e ela demonstrou que estava tudo preparado para que rumássemos então em direcção ao local de captação de água. Nessa altura ouvimos então um dos polícias a perguntar “quem é que tinha a arma”
E, mais uma vez, fiquei surpreso.
A acompanhar-nos iria o Soba (para nos levar até lá), 1 agente da segurança pública (vulgo polícia) e 1 guarda fronteiriço e, apesar de sermos 5 pessoas eles perguntam pela arma. Fiquei algo baralhado e, obviamente, preocupado…
Depois de tantas questões logísticas seria só necessário eu levar uma caneca e o meu caderno para tentar registar os elementos necessários. Enquanto fomos à carrinha buscá-los comentámos, eu e o meu colega, que tudo aquilo era muito estranho… Ambos estávamos surpresos mas… Naquele momento nada havia a fazer.
Preferimos considerar que o local de captação de água poderia ser muito próximo da fronteira e que, por isso mesmo, seria necessário todo aquele aparato para que ninguém pensasse que estaríamos ou a entrar no Congo ou a tentar fazer algo “estranho” ainda em território Angolano…
Pelas 7.30 iniciámos, finalmente, a marcha em direcção ao local pretendido.
Devo confessar que fiz o inicio do percurso um pouco a medo… O Capim era muito alto e da minha cabeça não saiam as palavras do agente da alfândega “aquela zona era minada”. Por isso mesmo coloquei-me na terceira posição logo a seguir ao guarda fronteiriço que ia atrás do Soba. Tentei seguir o alinhamento dos seus passos para que não houvesse problema.
Alguns, bastantes, metros adiante comentei o que me tinha dito o Agente fronteiriço e ambos se riram. Nesta altura os restantes elementos tinham ficado um pouco mais para trás… O Soba explicou então que ali não havia minas. Complementou que elas foram colocadas mais perto da estrada e da fronteira.
Fiquei um pouco mais descansado mas, na realidade, o receio não fugiu…
Após o policia reclamar pelo facto do Soba não ter trazido a catana ele explicou que “quando chegaram na minha casa disseram-me que a Adjunta me tinha chamado, não me disseram que era para vir para o mato” e todos nos rimos… Ele tinha razão… A abordagem foi tal como se estivéssemos a convocá-lo para uma reunião….
O Capim era assim:
Prosseguimos então em direcção ao tão desejado local.
Para trás já tínhamos deixado uns bons 2 km’s. Já tínhamos ultrapassado capim e também já tínhamos passado numa picada, totalmente desprezada, mas que ainda se percebia ter sido em tempo o acesso ao local onde iríamos.
Diziam os nossos companheiros de viagem que “tudo isto foi feito pelo Colono. Eles fizeram o poço, tinham a casa das máquinas e potentes bombas para bombear água para as casas do Luvo. A picada era óptima”. Explicavam ainda que “depois foram estragando a canalização e as bombas desapareceram.. agora nada funciona e não temos água na Comuna”.
Mais uma vez uma surpresa… Aquele grupo de homens demonstrava muito apreço pelo que tinha sido feito e, ao mesmo tempo, desilusão pelo facto de tudo não ter sido mantido…
Antes de chegar atravessámos ainda uma zona de grandes árvores, com troncos de diâmetros bem apreciáveis, que parecia totalmente desenquadrada da restante paisagem…
Logo a seguir o local que pretendíamos…
A casa das máquinas, ainda com a inscrição do que penso ter sido a Companhia de Cavalaria 8453, designada como “Os Felinos” que, pressuponho, terão construído aquela infra-estrutura.
Ao lado o poço. No fundo tratava-se de uma nascente onde tinha sido feito um depósito… A água era fresca e límpida. Todos os companheiros de viagem se baixaram e beberam daquela água. Confesso que apetecia. Depois de quase hora e meia a caminhar e do calor já se fazer sentir aquela água revela-se muito refrescante mas, por precaução, não o fiz.
Depois das fotografias da praxe e de mais algumas conversas, chegava a altura de regressar.
Houve ainda tempo para saber que o Soba conhecia toda aquela zona como as palmas das mãos. Para quem sabia, explicava que “noutro tempo” ia dali a pé até ao quartel da FNLA que, todos concordavam, ficaria a uns bons 30 km’s. Explicava-me ainda, apesar de ser longe, onde era o limite do território Angolano.
E regressámos… Agora mais à vontade com o território e com os meus companheiros de viagens tirei mais fotografias…
No percurso tive ainda oportunidade de tirar uma fotografia que, quem conhece Angola, sabe que basicamente só poderia ser daquela zona do país… É o único local onde as populações recolhem o material argiloso (barro) e o misturam de forma a criar um adobe e, depois disso, o cozem em fornos comunitários. Esta é a diferença… Na zona de M’BanzaCongo, as habitações são feitas de adobe cozido… Aqui fica o exemplo de um desses fornos e, na outra fotografia, a demonstração de como a escavação era feita mesmo ali ao lado ou, melhor dizendo, que o forno foi criado na zona onde havia a matéria prima…
E um último registo já mesmo a “chegar à civilização”.
Regressados novamente ao “largo”, ou seja, à zona que antecedia a fronteira física entre Angola e a República Democrática do Congo, questionei os nossos parceiros de viagem se não queriam beber nada. Evidentemente que concordaram e, de imediato, se apressaram a dizer que teria que ser naquele café porque estavam fardados e ali estavam mais resguardados.
Ainda em pé um deles pediu uma cerveja para cada um. Uma Doppel. Depois olharam para nós e perguntaram se também queríamos. Dissemos que não conhecíamos e explicaram que era uma cerveja de meio litro do Congo. Dissemos que não e pediram então 2 Super Bock.
Naquela altura o pedido pareceu-me normalíssimo… Apenas quando comecei a beber e olhei para o relógio é que percebi que estava a beber uma cerveja às 10.30 da manhã. Não que exista uma hora para beber uma cerveja mas, normalmente, não as bebo a essa hora… Naquela altura, confesso, já sentia que tinha passado meio dia porque, para além de ter de acordar tão cedo, fizemos todos aqueles km’s de picada e, como se não bastasse, tivemos ainda 3 horas a pé… Portanto…
Era mais do que justificada…
Aqui fica uma amostra da cerveja Congolesa.
Foi naquele ambiente social que ficámos a saber algumas coisas novas.
Em primeiro lugar que aquela era uma das zonas do país onde existiam mais cobras.
Segundo contaram, no percurso que fizemos, normalmente, surgem algumas cobras.
E assim ficou esclarecida uma das dúvidas. Porque é que eles tinham levado uma arma? Explicou o guarda fronteiriço que não poderia correr o risco de ir para o meu do mato com 2 cidadãos estrangeiros sem os conseguir proteger porque se algo acontecesse eles seriam os responsáveis. Por isso mesmo ele não admitiria acompanhar-nos sem a arma.
Disseram ainda que ali perto, no sentido contrário ao que tínhamos tomado, existiam centenas de cobras. Não sei se seria verdade mas…
Ficámos ainda a saber que, apesar das boas relações diplomáticas, por vezes existem algumas questões… Parece que há uns tempos um militar Angolano apareceu no Luvo fardado. Tratou de toda a documentação fardado e, só depois disso, vestiu uma roupa civil… Isso originou um problema porque alguém do Congo lhe tinha tirado fotografias fardado e, uma vez em território Congolês, foi preso e acusado de que “ia para o Congo para atacar altos governantes”. Felizmente o problema diplomático foi resolvido…
Ficámos também a saber que, fardados, só os militares da fronteira podem andar no outro país sem ter problemas. Contudo só o poderão fazer numa distância máxima de 5 km após a fronteira… Até essa distância eles poderão ir sem que possuam a documentação de entrada no país…
Por curiosidade perguntámos ainda como era o processo para entrar no Congo e, ao que parece, é extremamente simples – mesmo para nós expatriados. Uma vez que somos cidadãos estrangeiros e estamos autorizados a estar em Angola, bastaria um cartão validado para que pudéssemos andar pelo Congo sem qualquer problema.
Ficámos com vontade mas, infelizmente, não havia tempo para isso…
A informação, para mim, mais curiosa foi o que nos contaram acerca das feiras semanais. Tal como já escrevi, após a zona da Cancela e do largo que já referi, existe uma zona onde se realiza a feira quinzenal (do lado Angolano). Mas, ao contrário do que pensava, essa não é uma feira qualquer… Tal como nos explicaram aquela é uma “feira internacional” porque, para além de haverem cidadãos dos dois países, existem ainda vendedores que vêm de mais longe…
Em relação a Angola explicaram que vinham imensos camiões de Benguela e do Lobito, ou seja, a cerca de 1.000 km (sendo que não são 1.000 km de estrada pavimentada). Fiquei estupefacto… Depois percebi que esse camiões traziam peixe seco. Cada saco de aproximadamente 50 Kg custa cerca de 50 Usd.
Confesso que fiquei muito curioso relativamente a esta feira. Quem sabe se, numa próxima oportunidade, não conseguirei fazer uma visita… Espero que sim…
Acabado o momento de repouso tínhamos ainda um pedido a fazer… Ir, de facto, à fronteira com o Congo. Já tínhamos percebido que estávamos a cerca de 1 km. Queríamos mesmo estar lá e ver…
Amavelmente todos eles disseram que nos acompanhavam. Coube ao agente a quem tínhamos dado boleia ess simpatia. Mais uma vez passámos a zona da Cancela.
Entrámos na carrinha, que estava estacionada no Largo, e lá fomos… Adiante um novo posto de controle. Mais uma vez um aceno dele foi suficiente para que nem abrandássemos. Rapidamente os agentes ali parados se apressaram a tirar os cones que pretendiam demonstrar que aquele era um local de paragem obrigatória.
Passámos pela zona da feira e, pouco tempo depois, estávamos finalmente na fronteira entre Angola e a República Democrática do Congo. À nossa fronte estava uma guarita a indicar que ali era a República de Angola e logo de seguida uma ponte metálica.
Saímos do carro e, vendo o nosso acompanhante, rapidamente os 5 policias ali parados vieram junto a nós para nos cumprimentar. Após uma pequena explicação sobre quem éramos, o que estávamos ali a fazer e o que tínhamos feito naquela manhã, fomos simpaticamente acolhidos naquele grupo de autoridades. O nosso acompanhante apressou a tirar a arma e a dizer-nos que ia aproveitar para cumprimentar uns amigos Congoleses e um dos guardas fronteiriços repetiu-lhe o gesto mas, explicou-nos, para nos levar à zona neutra. Regressou de novo perto de nós e fez-nos sinal para avançarmos na ponte.
Depois explico então que a ponte tinha 9 chapas metálicas e que, por isso mesmo a 5 era a zona neutra. Já parados nessa chapa disse então “estes são os 2 metros da zona neutra”.
E ali estávamos nós… A meio do Rio que faz fronteira entre Angola e o Congo.
E ali estava eu… Num local completamente improvável e, principalmente, de forma totalmente inesperada… Aquilo que parecia ser uma “simples” viagem a M’BanzaCongo estava a revelar-se muito mais interessante do que à partida parecia.
Após alguns minutos por ali a nossa hora tinha chegado. Tínhamos apenas tempo para colocar o agente no seu posto, despedirmo-nos de todas as pessoas e regressar novamente a M’BanzaCongo. Mas antes disso teríamos ainda que parar no Sumpe… Aquele aglomerado que o agente da Alfândega nos tinha indicado…
Essa visita foi acompanhada pelo “professor” para que alguém nos recebesse no Sumpe e nos ajudasse. Pelo caminho cruzamo-nos ainda com a Adjunta do Goernador que estava a regressar de uma conferência direccionada às mulheres da Comuna.
Simpaticamente cumprimentou-nos e perguntou se tínhamos conseguido ver tudo. Confirmámos. Um sorriso enorme surgiu na sua cara…
No Sumpe o trabalho foi simples… Foi apenas verificar que existia um furo feito ao abrigo de um programa da SONANGOL e fazer o levantamento necessário para os trabalhos….
A escola do Sumpe, vista do local onde está o furo
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