Tendo em
consideração a data do primeiro post (2 de Setembro de 2009) e o conteúdo deste
blog, que basicamente se dedica ao relato de experiências, de inicialmente um
repórter e agora dos dois repórteres, confesso que nunca imaginei que um ano e
sete meses depois o Noticias da Terra Avermelhada tivesse originado 5.000
visitas.
O nosso
obrigado a todos os que têm acompanhado as nossas vivências.
O nome desta senhora transporta-me para alguns e bons anos
atrás, em que a nossa fidelidade matinal à Antena 1 nos fazia descobrir
cantores assim, ainda ligeiramente desconhecidos das grandes massas.
Andava por aí no 2º ano da faculdade e lembro-me de pensar
que aquele som me transportava para o Brasil, lembro-me de imaginar a infância
desta senhora, certamente riquíssima do ponto de vista cultural e musical por
ter nascido filha dessa musa inspiradora chamada Elis Regina, que cantava livre
como ninguém.
Alguns anos depois continuei fiel e um dia numa visita à
FNAC, com um dos meus primeiros salários, trouxe para casa o álbum homónimo,
que fui riscando e riscando no carro até o meu irmão e o repórter dizerem que
eu desperdiçava cds, que se estragavam, que os poderia gravar e manter os
originais em casa. Não sei porquê mas nunca gostei de cds gravados, gosto de
ter os originais. Mas não me apego de alma e coração a eles, mas sim tento
usufruir deles enquanto e sempre que posso. Não colecciono cds, colecciono
música. E sempre fui assim. Quando comprava um cd não o conseguia colocarna
prateleira, ouvia, ouvia e ouvia, e só consigo ter esse prazer quando abro a
caixa original. Cds guardados são relíquias, não têm vida. Talvez seja por isso
que Iphones, Itunes, etc., nunca me tenham deixado extasiada.
Mas voltando ao tema...
Por essa altura que riscava o cd no carro passava uma novela que tornou emblemática e universal uma canção sua. Admito poder
haver outras canções suas mais poéticas, e que a inserção no soundtrack da
novela lhe tenha dado o impulso e o protagonismo que teve, mas a verdade é que
para quem, como nós, está tão habituado a abraços, partidas e chegadas, esta
canção diz-nos tudo.
Estava ainda longe de sonhar vir para Angola quando a Maria
Rita foi actuar a Portugal e a minha Sylvie me convidou para ir ver o concerto
com ela. 90% da plateia era composta por brasileiros, mas não me senti
estrangeira. Houve muito samba e pé tirado do chão, mas nada superou o momento
em que se começou a ouvir os primeiros acordes e em uníssono se cantou:
“Mande notícias do mundo de lá
Diz quem fica...”
Naquela altura senti que estava a viver um momento lindo,
mas não interiorizei completamente a essência do mesmo, até que as partidas e
as chegadas se tornaram parte integrante e constante da minha vida.
Não há dor como a da partida, aquele abraço que recebemos
cheio de amor e de tristeza, a rogar para que fiquemos, deixando antever a
saudade até ao próximo reencontro. Mas não há alegria maior do que a da
chegada, aquele abraço apertado onde se afoga toda a saudade sentida e se
agradece ao mundo por estarmos ali de novo.
E como não poderia deixar de ser a interpretação desta
canção no Cine foi também o ponto alto da noite.
Para além do grande número de
brasileiros que foram para estar mais perto de casa, havia outro tanto número
de outros imigrantes. Não foi um concerto de massas, já que a casa mal estava
cheia, mas foi muito nosso. Despido de grande ou nenhuma decoração, a Maria
subiu ao palco com toda a sua simplicidade, mas capacidade de encher uma sala
que já por ali viu passar artistas de renome.
E assim fomos para casa, a relembrar as saudades, mas com o
coração e a alma cheia.
A vida cultural em Angola é tão subitamente intensa quanto
escassa, e a semana à qual agora nos referimos está no primeiro dos pólos
opostos acima mencionados.
É sempre com alguma excitação que recebemos a notícia da
vinda de artistas internacionais a Luanda, e há medida que a semana ia
passando, davamo-nos conta que os próximos dias iam ser muito cheios...
chegámos a brincar com a situação e dizer “mas resolveram fazer um pack e
trazê-los todos juntos?”
Quem cá vive percebe o que estamos a tentar transmitir, mas
na verdade de Sexta a Domingo Luanda não ia parar (e Benguela também não),
sendo que o cartaz cultural versava assim:
Sexta-feira:
Laurent Filipe, Miami Beach Club
Sábado: Maria Rita no Cine-Atlântico
Sexta, Sábado e Domingo: Carlos do Carmo na Casa 70. Já se antecipava a
saudade do Fado misturado com o calor do Semba
Como a carteira tem fundo à vista, e o fundo em Luanda é bem
visível, fizémos escolhas, Laurent Filipe e Maria Rita. Achámos insano pagar
mais do que um salário mínimo local para ver o nosso querido Carlos, embora as
imagens que vimos posteriormente quase nos tenham enchido os olhos de lágrimas.
E na Sexta lá cumpri o prometido, saindo a horas mais ou
menos decentes, já que apesar de termos mesa reservada, a confiança do repórter
não era a maior, tendo passado o dia a antecipar a não existência de qualquer
reserva no meu nome. Mas o Wilson não falhou e os dois lugares estavam mesmo à
nossa espera, na primeira linha, junto ao palco.
Para os que não são familiares do Miami Beach, é um espaço
de referência em Luanda, na ilha. Muitos dirão que já o foi mais, o certo é que
as memórias dos reveillons ali passados já percorreram o mundo e não há lugar
que mais tenha ajudado a promover o jazz como este.
Não sabemos se foi ao sabor de um gin tónico que ouvimos o
Laurent e a sua banda, ou se foi a ouvi-lo que saboreámos o gin e a refeição de
marisco, mas sabemos que a noite passou depressa e em ambiente de grande
intimidade, o que sempre acontece quando estamos a disfrutar.
O Laurent partia no dia seguinte para Benguela, para actuar
no festival de jazz, e nós partimos até casa, ainda embalados pelo som vibrante
da sua música, enquanto nos transportamos até à próxima experiência de sons e
sentidos.
Até amanhã, com encontro marcado no Cine-Atlântico.
É esta a realidade Portuguesa. Depois de períodos gloriosos da historia de uma sociedade verificamos que devido a uma "crise economica agora descoberta" Portugal não tem capacidade para a enfrentar de uma forma robusta e, como tal, terá de se submeter às restrições e imposições de terceiros.
É verdade que não é a primeira vez na nossa história e também é verdade que conseguimos rectificar a nossa trajectória mas também é verdade que, em virtude daquilo que já fomos, é rídiculo estarmos agora a passar por tantos sacrifícios.
Na minha opinião isto que hoje se chama crise não é ainda sequer uma amostra daquilo que teremos que passar, digo eu, nos próximos 5 anos. Entraremos numa expiral de dificuldades económicas e mentiras para que "os objectivos sejam cumpridos".
E porquê?
Perdoem-me... Mas estamos agora assim porque temos uma mentalidade muito individual e muito pouco pro-activa. Preocupamo-nos pouco com o bem comum e com o que poderemos construir para um futuro melhor.
Temos preferido, e infelizmente não antecipo que deixemos de preferir, criar condições para os beneficios imediatos, para a arrecadação instantânea e, evidentemente, isso tolda-nos a mente... Não nos permite semear hoje para colher os frutos apenas daqui a 30 anos.
Este é um problema da nossa sociedade e é evidentemente, perdoem-me a sinceridade,um dos motivos pelos quais os nossos políticos não têm conseguido criar medidas estruturantes para o país...
Não apoio o período de Colonização mas custa-me um pouco que agora as coisas sejam postas desta forma....
Há dias que começam tão mal, mas tão
mal, que temos a certeza que a partir daí só pode ser a piorar.
Hoje foi aquele dia, em 8 meses de
permanência em Angola, que nunca devia ter começado.
Reunião às 9h00 na cidade com um
cliente, estando combinado reunir previamente para briefing às 7h45 no Trópico.
Logo, seria necessário sair de Talatona perto das 5h40. Seria mas não
aconteceu. Devido a um contratempo e má interpretação de agendas, o despertador
tocou às 6h25. Algo me dizia que já estava há muito tempo na cama, devido à
mentalização do dia anterior com respeito ao pouco que ia dormir, e realmente
acordei uma série de vezes a partir de uma certa hora. Mas confiada que estava
deixei-me estar. Quando saltei da cama, por ver que o repórter já se estava a
arranjar, perguntei que horas eram, para confirmar que não estava atrasada e
foi aí que senti que o dia devia acabar ali mesmo – 6h50! Com um record
magnífico, à que referir, tomei banho, vesti-me e saí em 7 minutos. Coloquei o
carro a trabalhar e às 7h já estava na estrada. Às 7h30 continuava na estrada,
às 8h00 continuava na estrada, às 9h00 continuava na estrada, e às 9h25 estava
a estacionar por fim o carro à porta do cliente.
A imagem do meu pára-brisas era mais ou
menos semelhante a estas:
Durante todo este período em que estive
parada no trânsito, deslocando-me mais precisamente a uma velocidade de
10km/hr, aconteceu de tudo. Um fornecedor literalmente à porta para fazer uma
entrega e ninguém para o receber (na realidade só era esperado às 10h e
anunciou-se antes das 7h30). Fiquei sem saldo no telemóvel, devido à expiração
do plafond mensal. Um mal ententido na explicação por parte de um fornecedor,
fez com que uma inspectora da alfândega estivesse à espera de um motorista
nosso que eu nunca enviei pois não sabia que o tinha que fazer. Um colega
doente, que fazia com que o departamento estivesse sozinho. E mais não
lembro...
Claro que estacionei em segunda fila,
pois às 9h25 seria impossível encontrar um lugar à minha espera na Marginal.
Escrevi o meu número numa folha A4 e rezei para que os proprietários das
viaturas que tranquei não tivessem que se deslocar antes da minha reunião
acabar.
Reunião finalizada era tempo de seguir
para outra. Aqui era mais fácil, pensei eu. Apenas deslocar-me da Marginal à
Praia do Bispo. Tinha 1h20 para o fazer. Como dizem por cá, sem makas! Ou no
meu país, “seria limpinho”. WRONG! Ora bem, para percorrer a distância de cerca
de 900 metros demorei, nada mais, nada menos que 1h40. E tudo graças a alguma
perícia e transgressões, nomeadamente passar por dentro de uma bomba de
gasolina para conseguir ultrapassar 10 carros!
A reunião foi péssima, ou já não
conhecesse a casa que me estava a receber. E ainda vislumbrei e apertei a mão
ao inferno... para culminar, mesmo no final cai uma daquelas chuvadas que fazem
a cidade parar...
Lá entro no carro com destino ao ponto
de partida e acabar todo o trabalho pendente. Senti que o dia já me pesava nas
costas, nas pernas e na cabeça. Eram 10 para as 2hs e ainda não tinha colocado
nada no estomâgo, com expecção de uns 4 smints. Prometi a mim mesma que ia só
fechar os pendentes e iria para casa dormir e descansar. Mas não fui capaz de
cumprir com a promessa, embora tivesse fechado todos os pendentes... acabei por
continuar sem comer e ficar até às 18h00, com o corpo a implorar descanso.
Chegada a casa despachei muito do que
havia para comer e reflecti sobre o dia em que quebrei o record/proeza que
mantinha em Luanda – ZERO atrasos para reuniões!
Acabando pelo princípio, há dias que
deviam acabar logo quando começam...
Sim, leram bem, os benefícios de
conduzir à esquerda! Estamos habituados, desde o tempo das aulas de condução, a
ouvir falar dos benefícios de conduzir à direita, e como deveríamos sempre
cumprir com esta regra de trânsito. Pois aqui... tudo se inverte, por variadas
razões...
Inicialmente não conduzia muito em
Luanda, e mesmo depois de ter carro, as minhas viagens limitavam-se ao
supermercado ou a passeios de fim-de-semana à cidade. Com a evolução do meu
trabalho essa realidade alterou-se, e agora tenho que ir diariamente à cidade,
fazendo o percurso da Samba ou parte do Rocha, para lá chegar. Foi numa destas
muitas “viagens” que me apercebi que não podia ir contra a corrente... o
repórter várias e várias vezes me tinha dito “já percebeste que por aqui não
deves conduzir à direita, não já?” Mas sempre tentei combater essa situação,
porque achava que deviamos mesmo respeitar a regra básica de trânsito. Claro
está, que depois de alguns dias a fazer o mesmo percurso e presenciar as mesmas
situações, comecei a pensar nas coisas de uma outra forma.
Como ia a escrever, foi numa dessas
viagens que comecei a inumerar as vantagens de conduzir à esquerda, de forma a
convencer-me que, ao passar-me para o outro lado da lei, o estava a fazer de
forma consciente e fundamentada:
1 – Não temos que parar sempre que um
Candongueiro pára em plena via (porque não existem paragens nem bermas);
2 – Não arriscamos atropelar ninguém
que tenta prosseguir a pé pelo passeio mas não consegue pois os carros estão
mal estacionados;
3 – Não ficamos com o carro riscado com
os carrinhos de madeira para transporte de jerricans;
4 – A probabilidade de sermos mandados
parar pela polícia, só porque sim, reduz substancialmente;
5 – Last but not least, conseguimos
ultrapassar pela direita :) Sim, a regra de conduzir pela esquerda tem um senão, como
todos a aplicam, depois quem quer andar mais depressa, tem que ultrapassar
alguns obstáculos...
Depois de muitos meses de ausência de actualizações no Blog os Repórteres estão de volta.
Estão de volta porque...
sentem que têm sido desleixados...
têm saudades de escrever...
gostam de registar os momentos que têm vivido na Terra Avermelhada...
verificam que o Blog tem sido muito consultado nos últimos meses...
Mas também estão de volta porque para além das pessoas mais próximas o terem reclamado (falo do Artur, dos "Paulos Figueiredos", etc), o comentário de um anónimo nos tocou particularmente.
Referimo-nos ao comentário "da L.A." que dizia o seguinte:
"Descobri este blogue há poucos dias. Parece que está descontinuada e
tenho pena. Vivo uma situação semelhante, com a ida da minha metade para
Angola em muito breve prazo. Eu ficarei. Para já. Tantas dúvidas a que
já responderam com os V/ textos...
E assim...sem vos conhecer, espero que estejam bem.
(já
guardei o link do post sobre o sapateiro, para o caso de precisar... e
sobre o local onde se faz estética...). Obrigada pela ajuda que, sem
saberem, estão a dar.
L.A."
Tocou-nos porque sabemos, por experiência própria, o que significa estar a fazer os preparativos para ingressar num desafio que passe por uma estadia relativamente longa em Angola.
Infelizmente, devido à crise que
vivemos actualmente, o número de pessoas que está disponível ou a
preparar-se para viajar até à terra Avermelhada é cada vez maior, o que até se poderá verificar pelo aumento significativo de visitas ao blog a partir de Portugal, e isso dá-nos também uma força adicional.
Afinal de contas poderemos acreditar que o nosso blog pode, de alguma forma, ajudar cada uma dessas pessoas, a saber um pouco mais sobre a realidade que o/a espera e, dessa forma, atenuar o impacto inicial que será, sem sombra de dúvidas, grande.
Gostaríamos de manter a lógica do blog, o registo dos acontecimentos no dia em que ocorreram, e por esse motivo deixaremos alguns post's apenas com o título para que mais tarde os possamos actualizar. Entendemos por bem adoptar este método porque temos inclusivamente alguns post's relativos a 2011 concluídos que não foram ainda publicados porque alguns textos ainda não estavam concluídos...
Evidentemente que relativamente ao ano 2011 algumas histórias, eventualmente interessantes, ficarão por apresentar, mas preferimos deixar de as contar do que não contar nenhuma porque essas não estão contadas.
Mais uma vez pedimos o máximo de contributo de quem "se dá ao trabalho de ler o blog" para que com solicitações, ideias, desafios, curiosidades, possamos tornar o blog mais interessante e interactivo.