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quinta-feira, 28 de outubro de 2010

14 de Setembro – Deambulando por outros Blog’s IV

Depois das “descobertas” anteriores, publico agora o resultado de uma pesquisa antiga sobre as experiências e sentimentos na Terra Avermelhada…

Estas pesquisas têm como objectivo ver do quê e de como se fala desta terra. É aqui que estou e, por isso mesmo, quero saber o que se diz na internet sobre o país.

Este blog que divulgo tem um relato delicioso. Infelizmente “já está encerrado” mas tem diversos post’s que aconselho. O blog chama-se Recados de Angola mas deixo o link directo para um dos relatos:


É incrível porque, enquanto lia, imaginava-me a viver aquela situação. Em primeiro lugar as perguntas… Todas as pessoas perguntam sempre sobre os assaltos em Luanda eu, tal como o “bloguista”, felizmente, ainda não tive nenhum problema… Mas existem, sem dúvida…

Depois toda a restante descrição é fantástica…

E para concluir? Para concluir aquele toque “naïf” do rapaz musculado… Fantástico…

Divirtam-se e até à próxima divulgação…

terça-feira, 26 de outubro de 2010

9 de Setembro – Co-repórter regressa subitamente a Lisboa

A vida está permanentemente a ensinar-nos o quanto as coisas podem correr diferente do que esperávamos e, para quem acredita que as pessoas são, por natureza, de boa índole, a menos que a sua integridade ou segurança seja ameaçada, e afinal os seus escrúpulos se revelam em malícia e ausência de educação e moralidade, custa a aceitar que determinadas situações possam ocorrer.

Sem entrar em grandes pormenores sobre o que aconteceu, eu, co-reporter, tive que regressar subitamente a Lisboa. Neste momento o meu regresso é temporário, só até voltar a entrar com o pé direito. Acho que antes me devo ter esquecido de fazê-lo :) só dessa forma é explicável o que aconteceu, mas não importa!

Estes dias de ausência vão-me permitir assimilar e consolidar uma série de ideias e voltar novamente para esta terra avermelhada, da qual aprendi a gostar, cheia de força!

Ao contrário do que possam imaginar, nenhuma porta se fechou, eu é que decidi, e agora vejo que em muito boa hora, fechar uma janela, para abrir uma porta grande, pela qual vou entrar a direito, sem mais olhar para trás!

No meu mundo, e naquele que vou dar a conhecer junto com o repórter aos nossos filhos, não há lugar a repressão, falsidade e ameaças e, caso haja, só vão contribuir para os tornar mais fortes e fazê-los vencer.

Por estes dias vão ficar novamente apenas na companhia do repórter, que me prometeu ter o blog actualizado quando eu regressasse!

Tenho que confessar-vos que vou sentir muitas saudades de muita coisa, da paracuca, do gin tónico (ok… também o posso beber noutros sítios, mas não é a mesma coisa!), do Mufete, das conversas com a minha querida Crecheu, das visitas ao Lu e à Andreia, das piadas do Fernandino, do “Ok” do Tobias, do Bamboo e das meninas Cingalesas, da calma do Fifi (piadola quanto ao nome), de observar a cidade à noite desde a ilha, até do trânsito caótico de Luanda, mas sobretudo de ti, do teu abacinho ensonado de manhã, da tua desorganização e peguicite aguda, da tua pancinha, de ti!

Encontramo-nos daqui a pouco, umas milhas mais a Sul…

Até já

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

4 de Setembro – A cor da diferença ou a diferença da cor

Nunca fui racista, nem xénofoba. Aliás, não soube o significado dessas palavras até atingir uma certa idade, creio que em determinadas notícias de jornal ou telejornal.

Entrei para a escola aos 5 anos e a minha primeira amiga foi a Maria. A Maria era a Maria, apenas ela. Negra, de cor, preta, eram palavras às quais nunca atribuí qualquer sentido. Um dia alguém chamou a Maria de preta e eu pensei que lhe estavam a chamar isso porque o tom de pele dela era diferente, como quem atribui qualquer outra alcunha, a minha era a gorda, será fácil perceber porquê. A Maria passou a ser a preta, eu a gorda, e continuámos a brincar como sempre. Na minha escola havia várias crianças com a cor da Maria, e havia várias crianças gordas. Eu não sofri nem a Maria sofreu. É um facto que durante muito tempo quis ser magra como a Maria, mas nunca me perguntei se a Maria queria ser da minha cor. Porquê? Porque para mim a cor da Maria ou a minha cor não nos fazia melhores ou piores, simplesmente diferentes.

Um dia, na nossa primeira comunhão, percebi que a família da Maria era diferente da minha. Eram mais lá em casa, tinham outros hábitos e costumes e a minha mãe explicou-me que os pais da Maria eram de outro país, onde a cultura era diferente e eu senti uma certa alegria por conhecer uma pessoa realmente diferente.

Desde cedo que a Maria me fez perceber que existiam pessoas diferentes muito perto de nós, mas no fundo iguais.

Mais tarde a minha mãe mudou de emprego e os patrões eram indianos, de cultura hindu. Eles tinham hábitos muito mais diferentes do que até então conhecia. Com eles fiquei a saber que mesmo dentro de um só país existem diferenças culturais muito distintas. Apesar de não sermos da mesma cultura, eles convidavam-nos várias vezes para as celebrações deles, e nós para as nossas. Houve momentos muito divertidos, muitas interrogações de parte a parte. Não vieram a ser as pessoas mais correctas do mundo e a minha mãe sofreu com a situação, mas foram eles os responsáveis pelos seus actos, não a cor e a cultura que receberam dos pais, dos avós, dos antepassados.

Depois disso tive um namorado muçulmano, partilhei casa com uma taiwanesa, com um muçulmano, com mexicanas e mexicanos, com franceses e espanhóis. Tivemos imensas discussões sobre o que nos separava e nos aproximava, mas nunca sobre o que estava certo ou errado. O importante era perceber o porquê de determinados hábitos, valores, atitudes e objectivos. A minha vida enriqueceu.

Por tudo isto me custa imenso e me repugna alguém ser julgado pela pele que tem, pela cultura que lhe foi transmitida, pelos actos dos seus familiares ou similares. Sou capaz de compreender tudo na vida, menos isso. Se algum avô do meu tetravô escravizou ou maltratou alguém em alguma parte do mundo, onde está a minha responsabilidade nessa situação? Se alguém da minha família ou da minha cultura tiver praticado algum crime, onde está a minha responsabilidade nessa situação? Se alguém me quiser julgar, que seja por não lamentar o que se passou. E isso não acontece, lamento e repudio toda e qualquer forma de domínio sobre um povo, sobre uma pessoa, ou qualquer acto de vandalismo, seja em que país for. Nesse caso, a única coisa que resta é julgaram-me pelos meus actos, porque até agir sou igual a qualquer outra pessoa do mundo.

Não sei se a cor faz alguma diferença, mas sei que o mundo ganha muito mais em diferença pela variedade de cores que nele existem.

sábado, 23 de outubro de 2010

7 de Setembro – Acontecimento: Aumento de preços em Moçambique

O Governo resolveu a agitação criada devido ao aumento dos combustíveis de uma forma simples…

Cancelou os aumentos e garantiu subsídios…

Tendo em consideração que uma situação semelhante já ocorreu, resta saber até quando é que o país vai viver sem os aumentos e quando é que o governo não vai, novamente, voltar com a sua palavra atrás…

A Noticia:

O ministro do planejamento de Moçambique, Aiuba Cuereneia, anunciou nesta terça-feira que o preço do pão no país voltará ao que era antes de um reajuste que provocou violentos protestos no país na semana passada.

Em comunicado, o ministro disse que o preço anterior do produto será mantido com a introdução de subsídios. Antes disso, o governo moçambicano tinha dito que a alta dos preços era “irreversível”.

O preço do pão havia subido para o equivalente a US$ 0,20 em um país onde o salário médio do trabalhador é US$ 37 ao mês. Agora, o pão voltará a custar US$ 0,14.
Cuereneia também disse que o governo moçambicano deve restaurar os subsídios à água, cujo preço deve ser reduzido em 50%.

Crise de abastecimento

O súbito aumento nos preços de produtos básicos gerou três dias de protestos violentos na ex-colônia portuguesa do sudeste da África.

Segundo dados do governo, 13 pessoas morreram durante as manifestações, e há centenas de feridos e de presos.

Representantes do governo afirmaram recentemente que manter os preços de alimentos estáveis no país é difícil porque a maior parte dos produtos é importado.

O ministro da indústria e comércio, Antonio Fernando, disse à BBC que a meta do governo é aumentar a produção de trigo no país, que atualmente produz somente 30% do que consome.

Segundo analistas, a escalada dos preços foi, em parte, causada por um declínio de 33% do valor do metical, moeda moçambicana, em relação ao rand Sul-Africano. A África do Sul é uma das principais exportadores de produtos ao país.

Soma-se a isso um aumento no preço do trigo por causa da seca e dos incêndios na Rússia, uma das principais produtoras do mundo. A situação no país levou o governo russo a proibir até 2011 a exportação do cereal.

Cerca de 70% da população de Moçambique vive abaixo da linha de pobreza.

Link:
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2010/09/100907_mocambique_pao.shtml

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

2 de Setembro – Blog está de Parabéns: 1º Aniversário

Esta é, inevitavelmente, uma data especial…

Afinal de contas faz hoje um ano que publiquei o meu primeiro texto no complexo e gigante mundo da blogosfera… A data marca, simbolicamente, a minha chegada a Angola.

Uma mudança de país, de vida e de realidade… E esse foi o verdadeiro motivo da escrita. Pretendia ir registando e partilhando sentimentos com quem deixei em Portugal… Consegui-o…

Sinceramente, se naquela data alguém me tivesse perguntado, eu nunca acreditaria que hoje estaria aqui novamente a escrever. Durante todos estes dias, passados (quase na totalidade) na Terra Avermelhada muita coisa aconteceu… Muitos momentos de alegria e brincadeira, imensos e intensos momentos (ou diria horas) de trabalho, outros de saudade e também alguns de sofrimento…

A vida é exactamente isso… Uma mistura de acontecimentos, vivências e experiências que nos fazem crescer…

Aos relatos colocados no blog dei sempre uma visão realista… A minha visão realista…

Julgo que é evidente que muitas coisas ficaram por dizer… Umas por falta de tempo, outras por falta de capacidade para as registar, outras por insensibilidade para perceber que aconteceram e outras, obviamente, porque não são para escrever…
Tentei sempre dar uma visão realista mas imparcial… No fundo é isso que tento ser no meu dia-a-dia.

Contudo vou agora abdicar dessa imparcialidade…

Passando a ser parcial não posso deixar de agradecer a quem deixei em Portugal mas, também, a quem conheci e me acompanha em Angola.

Obviamente que falo da minha metade e da família mas também dos amigos especiais que “lutam” para que permaneçamos em contacto e me dão força. Mas também terei que falar de quem me recebeu… Um amigo com quem não estava há cerca de 3 anos e me recebeu como se tivéssemos estado juntos há 2 semanas… De uma namorada desse amigo (à data) que nunca me tinha visto e me recebeu da mesma forma… E não ficaria bem comigo mesmo se não agradecesse também aos meus colegas de trabalho que desde o primeiro minuto se preocuparam comigo, promoveram a minha integração, me apoiaram nas mais diversas situações… Também a eles (incluindo ao grupo de novos colegas que chegou em Fevereiro deste ano) o meu muito obrigado.

Foi por todos vocês que esta aventura se tornou tão enriquecedora aos mais variados níveis…

E quanto ao aniversário do Blog??? Que seja o primeiro de alguns… Tantos quantos os que eu permanecer na Terra Avermelhada…

Quanto ao futuro ninguém poderá ter certezas mas a realidade é que gostaria de estar por cá durante mais algum tempo…

Quanto ao blog??? Continua a aguardar sugestões e questões para que possa ser mais interessante e interactivo. Em breve serão 3.000 visitas mas parece até um monólogo… Felizmente agora a duas vozes… ;) ;) E ora aí está um belo nome para um blog… “Monólogo a 2 vozes”… ehehhehehehe

2 de Setembro – Acontecimento: Aumento de preços em Moçambique

Após os tumultos iniciais verificados em Moçambique, devido ao aumento dos preços de bens, o dia de hoje revelaria a gravidade da situação.

A comunidade internacional demonstrava particular interesse no inicio do dia pois esse poderia ditar o que se passaria nos seguintes…

Aqui fica um “excelente ponto de situação” feito por um gestor a viver em Maputo:

http://www.jornaldenegocios.pt/home.php?template=SHOWNEWS_V2&id=441711


Veremos o que acontecerá nos próximos dias…

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

1 de Setembro – O aumento dos combustíveis

Este era um dia aparentemente normal… Mais um primeiro dia de um novo mês…

Só no escritório percebi que, afinal de contas, era o primeiro dia de um aumento significativo no preço dos combustíveis.

Por casualidade tinha que ir tirar umas fotografias a um local e o carro estava na reserva. Não sabendo concretamente onde era o local fui com um dos motoristas da empresa que, apesar de estar sempre bem informado, me disse que ”isso ainda não é para já, mas confirmamos agora nas bombas”.

Estacionado o carro fomos logo informados que “Gasolina a 60 Kuanzas” (aproximadamente 60 cêntimos de Dólar Americano) quando, no dia anterior, era a 40 Kuanzas. Perspicaz logo o meu companheiro de viagem lhe disse “Então mano, deviam colocar aí um papel para as pessoas saberem” e ele, encolhendo os ombros e com um sorriso tímido, simulando o movimento das palavras com o dedo a sair da boca, responde “Temos indicações para não fazer isso. É para ser através do Boca-a-Boca”.
Ora aqui está uma “excelente ideia” pensei… Através do “boca-a-boca” tardará a consciencialização do aumento…

A realidade é que desde que cheguei se se fala de aumento do combustível e por vezes se especula que será para estabilizar nos 150 Kuanzas, ou seja, que seria para nivelar com o preço internacionalmente aceite… Mas hoje é o dia em que se deu o passo inicial para esse eventual aumento…

Aqui fica o recorte do Jornal de Angola:



Surpreendentemente vi, ao almoço, as notícias sobre os acontecimentos em Moçambique…

Aparentemente trata-se do mesmo motivo mas com outros aumentos adicionais…

terça-feira, 19 de outubro de 2010

28 de Agosto – We believe We can Fly - Força Angola

A vinda do R. Kelly a Angola estava rodeada de polémica, envolvendo duas produtoras de eventos, a Step, da Karina Barbosa, e a Casablanca, do Rikinho.

Polémicas à parte, os bilhetes já os tínhamos em casa, guardadinhos para o grande dia! Por diversas razões, comprámos os bilhetes para o espectáculo promovido pela Step em conjunto com a Unitel, o qual tinha por objectivo transmitir uma mensagem de apoio à selecção angolana de basquetebol que ia competir no Mundial da Turquia, daí o nome escolhido pelos organizadores: Força Angola!

A noite prometia! Não só iríamos ver aquele que tinha sido considerado, nos seus tempos áureos, o rei do Hip Hop, como poderíamos ver um conjunto de bons artistas nacionais, nomeadamente, Pérola, Big Nelo e Armi Squad.

Eu, có-reporter, tinha andado a semana a cantarolar as músicas do R. Kelly e da Pérola e, chegados a Sábado, o entusiasmo ia aumentando progressivamente. Ao longo do dia a agitação e os preparativos na zona envolvente ao estádio dos Coqueiros ia aumentando, e por via dos mesmos fomos mais cedo para lá. Conforme seria de esperar para um evento destes, tudo estava extremamente bem organizado e foi com muita facilidade que nos dirigimos à bancada, não sem antes solicitar a t-shirt do evento, laranja, a cor da Unitel, e com a mensagem adjacente: Força Angola!

Como bons espectadores que somos vestimos a camisola, afinal de contas estávamos ali para apoiar! A maioria fez o mesmo criando um efeito de uma imensa onda laranja em todo o estádio, da qual fazíamos parte!

And... let the show begin...

Armi abriu o espectáculo, com uma equipa de peso, literal e não literalmente, fazendo animar o público e trouxe a primeira surpresa da noite, Yuri da Cunha, que deu um cheirinho da sua música bem ritmada. Depois veio o Big Nelo levando o público feminino a suspirar cada vez que levantava a t-shirt e mostrava o 6 pack  Mas surpresa para mim foi quando cantou o seu hino, como lhe intitulou, em que todas as gerações presentes entoaram o Karga de fio a pavio, sem se perderem, sem se enganarem numa única palavra da canção! Gostando ou não, é impossível ficar indiferente àquela energia gerada! O Big Nelo trouxe ainda dois convidados, os Kuduristas Presidente Gasolina e Príncipe Ouro Negro, que arrancaram muita risada de todos os presentes.

Por último, no âmbito dos artistas nacionais, a Pérola, linda como sempre, cantou todos os hits do seu álbum mais recente que guardo religiosamente. Estas eu e o repórter já sabíamos e cantámos com os demais :)

Depois da Pérola terminar a sua actuação houve um pequeno compasso de espera e eis que entra o R. Kelly, igual a si mesmo, sem pretenciosismos, sem acessos de estrela, próximo dos presentes, dando início à actuação com uma rapsódia dos seus raps mais conhecidos enquanto nos dirigia incentivos “Everybody make some noise!!!!”, levando os presentes ao delírio.

Pelo meio houve muitas baladas a deixar antever a forma como iria terminar o concerto, com aquela canção que era também o seu hino e o de muita gente por este mundo fora.

Quando começaram a ser tocados os primeiros acordes, houve uma onda de emoção que nos percorreu a todos sem excepção, e todos acreditámos durante aqueles minutos que era possível voar, voar para longe, sobretudo junto daqueles que amamos. Estou certa que não foi só naqueles minutos que acreditámos, mas durante muito mais tempo... espero sinceramente que continuemos todos a acreditar! O R. Kelly contribuiu para isso e nós agradecemos da melhor maneira que podíamos, cantando a céu aberto todos os versos da canção. Creio que de certa forma a resposta acabou por o surpreender, parando de cantar para nos ouvir e cruzando as mãos sobre o peito, inclinando-se para o público em jeito de agradecimento, abanando ligeiramente a cabeça alternando entre o incrédulo e o emocionado.

Aqueles minutos em que eu e o repórter nos abraçámos, ouvimos e cantámos que era possível voar, pareceram eternos mas, mais importante que isso, deram-nos um banho de força e energia, não sendo todos os dias que nos sentimos assim longe de casa.

Momentos como este são para preservar nas nossas memórias e nos nossos corações.

E para que não o esqueçamos, aqui fica o registo para podermos continuar a acreditar que somos capazes de voar....

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

28 de Agosto – “Pula” na sola do sapato

Em Luanda, entre muitas outras coisas, há algo que temos que ter sempre presente e que já foi por nós referido. Quando procuramos algum local e solicitamos informações, não esperemos chegar lá na primeira tentativa!

No entanto, esta busca pelo local desejado, pode por vezes ser mais proveitosa do que alguma vez imagináramos.

Quando eu, co-reporter, vim para Luanda, não tive tempo ou paciência para colocar os meus sapatos a arranjar. Seja por preguiça, seja simplesmente por querer aproveitar o tempo de forma muito mais útil, trouxe cerca de 4 pares de sapatos com capas gastas, perdão, gastíssimas.

Ora apresentava-se o primeiro desafio, encontrar um sapateiro em Luanda. Se repararem, esta não é propriamente uma actividade que esteja disponível a cada esquina. Em Lisboa, e apesar de ser um negocio já existente em todos os centros comerciais, vou ao sapateiro onde a minha mãe vai, que por sua vez lhe foi indicado por uma vizinha, a quem outra vizinha lhe tinha indicado, e assim sucessivamente...

Recorrendo a esse princípio, isto é, que é sempre preferível perguntar a alguém que aparente já tenha solicitado serviços a um sapateiro, coloquei a questão a uma colega de trabalho. Como seria de esperar ninguém responde é no número tal da avenida ou rua X, ao lado da loja Y... A indicação que me deu foi, “acho que há um na Avenida de Portugal, perto da Embaixada de Portugal, talvez em frente, mas chegando lá perguntas”.

Bom... assim fizemos numa tarde de Sábado, já antecipando algumas tentativas para encontrar tal sítio. Em frente à Embaixada de Portugal não havia nada parecido com um sapateiro, apenas uma farmácia. Entrei e perguntei se sabiam onde havia um sapateiro, que supostamente seria daquele lado da Avenida. Indicam-me que é mais abaixo, a seguir a algo que agora não recordo o que era. Fui descendo até perto do local indicado e vejo uma espécie de sapataria/lavandaria/loja de bugigangas e pergunto se o sapateiro era ali, já meio descrente. As raparigas respondem-me que não, que havia um por ali mas não era bem um sapateiro, mas que tinham a sensação de existir um bom mas não ali mesmo, até que me acompanham à porta e colocam a questão a uma amiga ou cliente que ia a passar. Esta senhora indicou-me um sítio completamente oposto, apontando para um local que eu não conseguia sequer visualizar, certamente devido à minha miopia... Mas lá fui, com o repórter já com um deficit de paciência :)

Ao chegarmos perto do local que me parecia ter sido indicado pela senhora deparamo-nos com algo diferente do sapateiro que arranja sapatos, mas sim com uma mini-fábrica de calçado artesanal. Pensei de imediato que não tinha explicado correctamente à senhora os meus propósitos e perguntei com algum receio “fazem concertos de sapatos?” O rapaz respondeu prontamente que sim, de todos os tipos, capas, solas, meias solas, o que se quisesse e pediu para mostrar o que era para arranjar.

Ok, neste momento os meus olhos luziram! Quanto mais o rapaz falava mais descansada eu ficava. Tínhamos acordado só deixar dois pares e passaríamos a deixar os outros dois mediante a forma como se viria a apresentar o conserto dos primeiros. Estávamos um pouco expectantes em relação ao preço mas os 1000 Akz (cerca de 8,5 euros) que nos pediu não pareceram extremamente caros em comparação com os preços que estávamos habituados...

A coisa processou-se de maneira engraçada. O rapaz, que parecia ser o responsável pelo local, deu-nos o contacto dele e fixou o nome do repórter. E diz, “João, tu ligas para mim para saberes se estão prontos e passas cá para vir buscá-los quando puderes!”. E pronto, criou-se ali uma empatia que viríamos a cultivar das vezes seguintes, e que me deixou a mim, có-reporter, com à vontade para lhe perguntar uma série de coisas sobre as sandálias em exposição.

À entrada do local estavam um conjunto de sandálias de couro em exposição, que eles fabricavam diariamente à medida que iam vendendo. Havia um conjunto de artesãos que trabalhavam ali, à frente de quem passasse, havendo trabalhos em várias fases.

Coloquei várias questões, se era possível fazer um tamanho específico de um modelo exposto, se tinham mais modelos, e ele responde com uma curiosidade, que era possível fazer qualquer sandália, desde que trouxéssemos ou indicássemos qual o modelo pretendido para se poder reproduzir naquele material. Os preços, sem serem necessariamente baratos, eram simpáticos, o que nos fez pensar em óptimas prendas de Natal! :)

Nas visitas seguintes fomos deixando e recolhendo alguns pares, que entretanto se tinham estragado com o uso em Angola, e acabámos por descobrir através do Moreno (o nome do dono do negócio), que nas traseiras trabalhava um costureiro e alfaiate, algo que também procurava porque tinha umas calças com necessidade urgente de bainha e um pano de tecido que adquiri no primeiro dia em Luanda e que pretendia transformar numa saia ou num vestido!

O próprio Moreno levou-nos ao senhor em causa e apresentou-nos. Era incrível a quantidade de modelos de roupa que o senhor fazia, bastava levar o tecido, do padrão pretendido, tirar as medidas e ele transformava no modelo escolhido!

Mas palpita-me que em breve teremos material para um novo post relacionado com pano de tecido e roupa tradicional! :)

Voltando ao Moreno e aos sapatos...

Depois de amadurecer uma determinada ideia para umas sandálias, eu, có-reporter, na minha primeira incursão sozinha por Luanda a conduzir, fui visitar o Moreno para levantar umas sandálias que tinha deixado a arranjar e encomendar um determinado modelo. Acertei com ele alguns detalhes, discutimos ideias, possibilidades, em que um dos artesãos também foi consultado, fiz um esboço em papel (mediante e limitado às minhas capacidades reduzidas de desenho) e pronto, chegámos ao modelo final. Regressei a casa com as minhas sandalecas e ansiosa por ver as que iriam ser feitas!!!

Eis que uns bons dias mais tarde e, já em Portugal (pois tive que regressar a Lisboa), ao arrumar as mesmas sandálias que tinham estado a arranjar reparo numa inscrição pequena na sola: Pula! Não pude deixar de me rir. Pula era a forma como quem arranjou as capas das sandálias nos identificou. Pula é o nome que em Angola se dá aos estrangeiros residentes. E o resultado foi este:


PS: Num post seguinte falaremos da origem das sandálias de couro, e da sua presença em Luanda, que está ligada à história recente de Angola, e não só... stay tuned!

domingo, 17 de outubro de 2010

27 de Agosto – Porque estão sempre presentes…

Aqui fica o meu/nosso obrigado.

Pela terceira vez consecutiva estão em momentos que irão marcar a nossa vida (para além de todos os outros momentos que temos partilhado)...

Pouco mais há a dizer do que: Obrigado. É bom partilhar estes momentos convosco.

Abreijos

sábado, 16 de outubro de 2010

23 de Agosto – Alguns dos anúncios deste último ano…

Neste último ano a quantidade de horas passadas em frente à televisão reduziu significativamente (aspecto que é inversamente proporcional às horas passadas à frente do computador) contudo existem alguns anúncios publicitários que associo a este primeiro ano passado na Terra Avermelhada.

Para partilhar e, também, para mais tarde recordar, aqui ficam esses mesmos anúncios:

BFA - Mongolé
Link: http://www.youtube.com/watch?v=GemUxke4CK8&feature=related



BFA - Spot divulgado imediatamente antes do Jornal da Noite na RTP Internacional
Link: http://www.youtube.com/watch?v=8jpNm3fSK8M&feature=related



BLUE
Link: http://www.youtube.com/watch?v=r0Xx6jJfDsA&feature=related



NOCAL –
Link: http://www.youtube.com/watch?v=rN0nQ0KwBF8&feature=related



MOVICEL – Lançamento de Cartões Pré-Pagos
Link: http://www.youtube.com/watch?v=CGiwClRL9kA&feature=related



Aproveito o título do post para lançar um desafio/fazer um pedido… Se, por mero acaso, alguma das pessoas que vão ler este blog conseguir encontrar o anúncio (creio que existe apenas de rádio) da cerveja NGola ficaria imensamente grato que me indicassem onde o poderei obter… Refiro-me ao anúncio que, em apenas 30 segundos, retracta de uma forma, diria, fotográfica o que se vê/sente nas ruas da Angola de hoje…

23 de Agosto – O primeiro ano na Terra Avermelhada

Muito haveria a dizer sobre este primeiro ano na Terra Avermelhada…

Mas o blog tem essa vantagem e objectivo… Registar todas essas “pequenas” coisas que nos vão acontecendo diariamente e que, invariavelmente nos marcam, mas que num momento de balanço anual pouca relevância assumem.

Por isso mesmo a tarefa fica muito mais facilitada e este será um balanço genérico sobre o que sinto, como vejo este país um ano depois e quais as perspectivas futuras.














Em primeiro lugar sinto-me muito feliz. Após 11 meses sozinho na Terra Avermelhada, neste momento já tenho a minha metade junto a mim e, portanto, a vivência torna-se mais fácil e, sem qualquer dúvida, melhor.

Penso que foi perceptível nos textos que fui inserindo no blog mas, apesar de todas as diferenças compreensivas (e de todas as outras que a milhares de km’s de distância não são perceptíveis), realço: A minha metade era mesmo a única coisa que me faltava (daquelas que são possíveis porque, evidentemente, preferia ter cá aqueles amigos especiais, a família, etc) porque Luanda (e Angola) não é um local onde me sinta desenquadrado… Não é um local onde não goste de estar… Evidentemente que poderia ter muitos outros atractivos, que poderia ser mais “europeia” em algumas vertentes e poderia ser muito mais agradável… Mas não é.

Não é mas com o tempo aprendi que não vale a pena “encalhar” nessas inexistências/problemas porque existem muitas outras coisas boas de que podemos tirar partido. Por isso, julgo, o segredo é concentrar a nossa energia nas coisas boas e nas coisas que gostamos realmente de fazer para que possamos sentir-nos bem.










Em segundo lugar, a forma como vejo este país… Não é fácil… Antes de vir imaginava uma cidade completamente destruída, em que havia falta de tudo e em que a insegurança fazia com que as pessoas não saíssem de casa, etc…

Apesar de não estar totalmente longe da realidade, existem algumas diferenças… A cidade está muito degradada, é verdade, e esse é o reflexo de 30 anos de guerra em que as estradas, os edifícios, os jardins, etc não tiveram qualquer manutenção. Não existe, ao contrário do que eu pensava, uma degradação causada pela guerra. Em Luanda existem (nesta altura) 3 ou 4 locais em que a degradação se deve directamente à guerra e são locais muito específicos que, um dia, mostrarei a quem está desse lado…

Contudo, opondo-se a essa degradação, existe uma quantidade (absurda diria eu) de edifícios novos e em construção que pretendem colmatar as necessidades do país. Falo de hóteis, de habitações e escritórios que fazem com que qualquer recém chegado diga “mas esta cidade é um estaleiro”. E é de facto… E aí, apesar dos diversos transtornos que isso provoca, está um dos pontos que considero positivo… A cidade está em permanente mudança e melhoria a uma velocidade que eu nunca tinha visto…

Ao contrário de Lisboa, ou das restantes cidades que conheço, em Luanda tudo está por fazer e, neste momento, tudo está a ser feito e, por isso mesmo, de dia para dia notam-se as mudanças. Digamos que, quem cá está acompanha a evolução da cidade e, consequentemente, do país.

Vemos edifícios a ser derrubados e outros a nascerem. Vemos ruas a serem alargadas, outras a serem criadas e outras a serem reabilitadas. Vemos surgir dia após dia novas ofertas a nível de espectáculos culturais (apesar de serem ainda poucos), ou de actividades de lazer, ou de infra-estruturas de turismo, ou melhorias a nível de acessos à internet, ou de melhorias nas comunicações móveis ou… Ou tudo…

Tudo o que se possa imaginar muda, diria, quase diariamente neste neste país.

Apenas a título de exemplo refiro a não utilização do FAX. Julgo que esse é um excelente exemplo… Enquanto que em Portugal se podem definir diversas fases que, invariavelmente, estão associadas ao avanço tecnológico, em Angola não é assim… Portugal passou de comunicação presencial, à utilização de TELEX, à utilização de FAX culminando com a utilização de e-mail’s. Contudo em muitas áreas o e-mail ainda não é tido como uma forma de comunicação formal… E em Angola?? Basicamente o FAX não é utilizado… O e-mail é a forma de comunicação por excelência (quando todos os interlocutores têm acesso a internet, entenda-se) e tratam-se muitos asuntos presencialmente…

Julgo que este é um exemplo perceptível da velocidade que os processos tomam neste país de forma a obter o tão desejado nivelamento tecnológico com os restantes países.

Para além da vertente tecnológica existe ainda a vertente social… E aí, apesar de não ser à velocidade desejável, começa-se a perceber a actuação das autoridades nesse sentido… A limpeza diária das ruas, o incutir de respeito e civismo nas autoridades, as campanhas de informação relativamente a algumas doenças no país (poleomielite e o VIH) e muitas outras coisas que se sentem a mudar no dia-a-dia…
Sem dúvida qu os slogans são mais que isso… “Pela nova Angola”, “Angola está a mudar”, “Por uma Angola melhor”, “Todos juntos para melhorar a nossa Angola”, parecem frases feitas ou brilhantes tiradas de um publicitário eficaz e se calhar são, mas as mudanças vão-se notando…










E finalmente as perspectivas futuras…
Essas são mais complicadas porque se temos sempre grande dificuldade em antecipar o que será o futuro aqui, em Angola, essa dificuldade cresce exponencialmente.

Existem uma série de aspectos que contribuem para essa dificuldade. Alguns conseguimos controlar mas outros são, de todo, impossíveis de antever…

Um dos factores que, diria, preocupa mais todos os expatriados a viver em Angola é a establidade política mas, para além desse, existe ainda outro que se prende com a “vontade”/possibilidade do governo manter o seu nível de investimento. Tal como já disse em alguns dos textos anteriores em Angola, basicamente, falta fazer tudo mas…

Mas para isso será necessário que o Estado disponibilize as verbas necessárias para que tudo o que falta seja feito… À primeira vista isso não parece uma tarefa muito complicada mas… Uma vez que no último ano, “à sombra da crise financeira mundial”, houve um grande decréscimo de pagamentos (o que originou uma grande crise junto das empresas que continuaram a sua laboração sem que recebessem as verbas acordadas) o receio da continuação/agudização deste problema é grande…

E é por tudo isto que as perspectivas de futuro não são brancas nem pretas… Teremos que esperar para ver o que o futuro nos reserva porque, e essa é uma triste verdade, o comum dos mortais também não consegue antecipar qual será o futuro de outras economias mundiais que, pensávamos, eram sólidas…

Por tudo isso resta-me apenas dizer que, a nível pessoal, as perspectivas futuras são bem mais positivas porque, afinal de contas, estarei com a minha metade.
;)

Para terminar deixo uma música, com uma mensagem forte, que descobri recentemente…
Música: Angola
Interprete: Matias Damásio
Vídeo elaborado por: LKaAngolana
Link: http://www.youtube.com/watch?v=1o90_caqiV8

 

O maior desejo?
Que a estabilidade do país se mantenha de forma a que todos os projectos consolidem e potenciem um maior desenvolvimento do país… Porque este é um país com enorme potencial se, obviamente, os homens assim o quiserem…

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

22 de Agosto – Já existem actividades de lazer!!!

Quando o repórter me disse que um colega estava a organizar uma espécie de torneio de paintball e que nos tinha convidado, a minha primeira resposta foi: “Uhmmm, não estou muito para aí virada, mas vamos, tu participas e eu fico a ver”. Deves deves... era o que eu pensava!

Até ao dia propriamente dito, a organização foi sendo progressivamente alterada, até se transformar num Domingo radical, com programa completo, para colaboradores da empresa do repórter, familiares e afins.

Para ser sincera, na véspera começou-me logo a doer o corpo quando me apercebi que nos tínhamos que levantar às 7h00 da matina, mal sabia o que estava para vir!!!

Depois de ultrapassarmos 2 pontos de encontro que permitiriam reduzir a quantidade de carros a deslocarem-se para o local que nos estava a deixar na expectativa, lá se iniciou a excursão com destino à Quinta do Destino :) perdoando desde já a redundância!

A Quinta do Destino é uma espécie de resort que fica nos arredores de Luanda, com todo o tipo de serviços, desde equipamentos desportivos, local para a prática de desportos radicais, piscina, jacuzzis, espaço para conferências, salão para realização de eventos, e o alojamento é feito em bungallows de várias dimensões. Segundo nos informaram no local, foi um espaço idealizado para acolher a selecção angolana de futebol durante a realização do CAN 2010, contudo a sua construção não foi concluída a tempo de servir esse propósito. Agora é um espaço utilizado não só para alojamento, mas para a realização de eventos, jantares temáticos, actividades radicais, entre outros.

À chegada fomos recebidos por colaboradores da empresa que iria coordenar o dia, a Sector 7, dedicada à realização de actividades radicais, que nos encaminharam para a primeira etapa: pequeno-almoço!!! Segundo os mesmos, iríamos precisar de reforço :)

Ultrapassada a primeira etapa com distinção, ou não fôssemos todos bons garfos, passámos à segunda: apresentação de todos os intervenientes.

Foram momentos engraçados porque a coordenadora das actividades inicialmente pediu que nos apresentássemos e posteriormente, numa espécie de actividade de team building, cada um de nós tinha que apresentar quem estava ao seu lado, conforme a memória deixasse! No final tínhamos um grupo composto por angolanos, cubanos e portugueses, das mais variadas cidades, dos mais variados sectores de actividade e, no caso dos não nacionais, com distintos períodos de permanência em Angola, o ponto que nos unia a todos.

Seguiu-se a separação em equipas, em que os repórteres ficaram afastados mas sem terem que competir entre eles. Vá lá... safámo-nos!

Depois de alguns jogos para estabelecer empatia (foto seguinte) entre os membros da mesma equipa, ao mesmo tempo que faziam estalar gargalhadas sonoras, deu-se mais uma divisão, em que a minha equipa era uma das primeiras a jogar paintball. Assim que manifestei a minha vontade em não participar, foi-me devolvido um comentário desafiante por parte da coordenadora, seguindo-se um conjunto de olhares interrogativos por parte dos meus colegas, que no seu conjunto questionavam a minha coragem para enfrentar o jogo... pronto... que se lixe... se amanhã não me mexer, paciência...


E cá está o resultado! Muita garra para enfrentar os adversários :)

A Equipa da Co-Repórter (Equipa Serra da Chela):


Depois de muitos tiros disparados, de terminar o gás da pistola obrigando-me à rendição, e de dois abrasões nas costas provocados pelos disparos da equipa contrária, e muita transpiração, era tempo de ceder o campo à equipa do repórter e respectiva equipa adversária, e passar à escalada e slide!

E agora a Equipa do Repórter (que se revelou muito bem táctica e estrategicamente e, nos 5 jogos feitos, aniquilou toda a equipa adversária…)


À nossa espera estava uma estrutura metálica, a qual era necessário escalar por uma parede de corda, no cimo da qual poderíamos então disfrutar do prémio final, deslizando até ao solo!

A Co-repórter a subir a torre


E o Repórter a preparar-se para iniciar a descida:


A maioria conseguiu, outros nem por isso, quanto a mim, teria voltado a repetir não fosse a hora de almoço ter chegado. Quem diria que a manhã passaria tão rápido?!

Sendo buffet, tivemos a oportunidade de experimentar uma série de pratos típicos nacionais, muitos já conhecidos, outros nem tanto, e foi aí que se deu um momento insólito. Os membros da minha equipa, todos angolanos ou há muito mais tempo que eu em Angola, incitaram-me a comer uma iguaria presente, de aspecto muito duvidoso, que dá pelo nome de catatos. Ora bem... sob a máxima de que há sempre uma primeira vez para tudo e que não iria então morrer sem experimentar aquilo que insistiam ser tão bom, ainda pensei em perguntar o que era, mas ao olhar uma vez mais para eles, demovi-me de o fazer e retirei decidida uns 4 para o prato. Três ficaram no mesmo sítio onde os tinha colocado, e um deles só desceu pelo esófago porque não fui capaz de impedir o seu curso depois de o meter à boca e preferi engoli-lo. Não, definitivamente não era bom como diziam, segundo os meus parâmetros. Venha Feijão Óleo de Palma, isso sim!!!

Para terminar a tarde tivemos ainda direito a duas demonstrações de danças Angolanas:



Mais tarde vim a saber que a opinião sobre Catatos não era generalizada e entre os meus colegas de trabalho, todos angolanos, ninguém comia, sendo que dois deles nem sequer se arriscavam a provar. Acabaram por ser eles a explicar-me o que eram. Afinal de contas já tinha comido, portanto... Catatos são larvas que andam no tronco de algumas árvores, são colhidos e cozinhados. No fundo não me pareceu assim tão estranho comer Catatos, sendo eu uma apreciadora feroz de Caracóis, sobretudo os da minha mãezinha :)

E pronto, assim se passou um belo Domingo, em boa companhia e de forma diferente do habitual. Claro que com o aproximar da noite o corpo foi começando a dar sinais, os músculos doíam, os braços, pernas e costas doridos, e muito, muito cansaço! Foi chegar a casa, dar um beijinho à famelga via Skype e dormir que o despertador de manhã chamaria cedinho.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

19 de Agosto – Um primeiro [longo] percurso a pé…

Este é um dia diferente…

Apesar de estar há praticamente um ano na Terra Avermelhada hoje foi o primeiro dia em que fiz um longo percurso a pé…

Este parcerá um post absurdo para a maioria das pessoas que o poderá vir a ler mas, para quem ler os primeiros textos do blog, poderá perceber o significado deste “acontecimento” que, felizmente, para a maioria das pessoas que vivem na Europa ou nas Américas faz parte do seu quotidiano…

E porquê este percurso??? Muito simples…

Tinhamos uma reunião marcada com uma instituição pública e o trânsito estava simplesmente caótico. Houve carro parados em frente ao escritório durante mais de 30 minutos e, por isso mesmo, decidimos ir a pé. Um dos meus colegas já o tinha feito e não tinha tido qualquer problema portanto lá fomos…

Um percurso de cerca de 30 minutos a pé (para quem conhece desde a Sagrada Família até perto da Sede do INEA) que eu fiz com algum receio mas em que, felizmente, nada aconteceu.

Regressei sozinho pois o meu colega teria que lá ficar e, não fosse a inclinada Rua Manuel Caldeira (que desce, ou sobe, do Largo Lenine para o Largo Amilcar Cabral), teria sido uma boa viagem…

Será este um sinal que Angola estará, de facto, a mudar?? Ou terei tido sorte?
Não sei… Mas é bom usufruir destes momentos ímpares que, no fundo, são “pequenas vitórias”…

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

16 de Agosto – Trazer um bocadinho de futilidade ao blog

Bom, já cá faltava uma mulher para trazer um bocadinho de futilidade a este blog :) Mas não só…

A realidade é que se antes de vir para Luanda tivesse encontrado uma informação semelhante à que vou escrever, alguns dos meus receios ter-se-iam dissipado. Por tanto, para além de fútil, espero que este post seja igualmente útil.

Pois é, se me perguntassem quais eram as coisas que mais receava, para além das comuns que toda a espécie masculina ou feminina receia, eu diria, enquanto mulher, que era o facto de não encontrar um local onde arranjar as unhas, sobrancelhas, fazer depilação, e afins. Tantas vezes ouvimos coisas negativas que acabamos por interiorizar e criar ideias na nossa cabeça. Lembro-me por exemplo de ouvir “ah, não, isso só nos hotéis, nem pensar fazer noutro sítio qualquer”.

Realmente para mim, e para tudo o que respeita a Angola, só tendo cá estado é que se poderá ousar falar. Muitas pessoas dizem e chegam mesmo a inventar coisas em função daquilo que alguém lhes disse, e defendem isso como uma verdade máxima salvaguardando-se no facto desse alguém já ter cá estado.

Enfim…

A verdade é que dei por mim a dirigir-me a primeira vez a um dos hotéis de referência de Luanda à procura de um cabeleireiro ou centro de estética. Confesso que não fiquei nada bem impressionada…

Bom, antes de mais queria deixar bem claro que não sou pessoa de ir todas as semanas ao cabeleireiro, na realidade, fujo das tesouras como o diabo da cruz, e sou muito preguiçosa para muitas coisas relacionadas com a estética. Mas há uma coisa que não dispenso, ter as minhas unhas arranjadas, quer das mãos, quer dos pés. Só eu sei as saudades que tenho das visitas quinzenais à minha querida Márcia, manicure dos últimos não sei quantos anos…

Ora bem, esse ritual teria que continuar, quer em Luanda, quer em qualquer outro local do mundo. E não demorou muito até descobrir o sítio ideal. Recomendado por umas colegas de trabalho e depois de algum esforço, lá consegui encontrar o Bamboo Imperial que afinal ficava duas ruas acima da minha casa… pormenores…
E não é que aquilo é um sonho? Cabeleireiro, gabinete de estética, e SPA? Pode uma mulher pedir mais?

Mal se entra apercebemo-nos de um ambiente relaxante, potenciado pelos óleos e incensos que estão por todas as partes a perfumar o ar. Os empregados são amorosos e atenciosos, sempre com um sorriso nos lábios. Ok… já sei que poderão perguntar, os preços? Bom, como tudo em Luanda, não se poderia esperar que fosse barato, mas acreditem que comparativamente a outros sítios que entrei, os preços são bem mais acessíveis, e a qualidade de longe melhor!

Confesso que ainda não arrisquei o cabeleireiro, não porque não acredite na qualidade, mas porque como disse sou uma medricas com as tesouras… acho que vou primeiro optar por uma hidratação profunda das muitas que estão ao nosso dispor, e depois sim, lá cortarei uhmmmm deixa ver… metade de um dedo? :)

Espero não ser multada por fazer publicidade e desde já vos garanto que ninguém me encomendou o sermão, pelo que a mesma é totalmente gratuita!! Para ajudar só mais um bocadinho, a localização! Que isto de encontrar coisas em Luanda é difícil. Ah e tal, vais até à rua do BiG One, ah e tal, é mesmo ao pé do edifício da Cidade Limpa, bom… estão a ver a dificuldade. Aqui os nomes de ruas servem de muito pouco e as pessoas guiam-se por edifícios, lojas, hotéis, agências de bancos, que constituem pontos de referência, para indicar caminhos ou locais. Ora para quem está praticamente acabadinho de chegar e andou a pesquisar no Google Earth, só tem nomes de ruas como referência… conclusão, torna-se muito difícil mesmo!

Portanto vou procurar dar as indicações da melhor maneira possível, um misto entre a minha maneira e a maneira angolana, à qual já me vou habituando.

Quem sobe a avenida da Maianga em direcção ao hotel Alvalade, entenda-se, ex Av. António Barroso ou actual Av. Marien N’Gouabi, passa a Martal, e logo depois de passar o hotel Palanca, é a segunda à direita. Uns 100 metros do lado direito está o paraíso J Não se deixem enganar pelo snack-bar com o mesmo nome, que serve uns snacks pouco calóricos e uns sumos fabulosos. Subam a escada que a porta é logo ao cimo e aproveitem!

terça-feira, 5 de outubro de 2010

14 e 15 de Agosto – Um fim-de-semana diferente…

Muitas vezes se diz que não existe oferta cultural em Angola, mais precisamente em Luanda. Bom, é certo que a oferta existente não é de todo semelhante à de muitas capitais mundiais, mas daí a dizer que não existe oferta cultural, vai uma grande distância! Basta procurar um bocadinho, comprar O PAIS às sextas ou pesquisar nuns quantos sites ou blog’s e encontrar o que fazer!

Sob essa perspectiva e de forma a optar por um fim-de-semana mais cultural, aproveitámos a tarde de sábado para ver a exposição que estava patente no Museu Nacional de História Natural!

Já há algum tempo que queríamos ir mas durante a semana é sempre impossível. Como tal confirmámos que estava aberta ao sábado e quando chegámos à entrada surpreendeu-nos que cumprissem com as regras internacionais dos museus, ou seja, abertos todos os dias com excepção da segunda-feira!. Surpreendeu-nos porquê? Não por estarmos em Angola… Mas porque outros organismos que estão neste país para promover a cultura, não o fazem totalmente. Veja-se por exemplo o caso do Centro Cultural Português que abre apenas durante os dias de semana das 9.00 às 17.00 horas, se não estamos em erro… Inviabilizando quase por completo uma visita…

Mas mais surpreendidos ainda ficámos com o preço que pagámos para ver a exposição. 100 Akz cada um…!!! Mas podíamos acreditar, tendo em consideração todo o restante nível de preços praticados no país! Sendo necessário menos de 1€ para ver uma exposição não há mesmo razões para ficar por casa!!!

A exposição era fotográfica, intitulada HEREROS, uma obra de Sérgio Guerra, um reconhecido fotógrafo Brasileiro que passou cerca de dois meses nas províncias do Namibe, Huíla e Cunene, a realizar uma recolha documental com vários subgrupos étnicos dos Hereros aí estabelecidos. O objectivo que deu origem à exposição era fazer um levantamento fotográfico e recolher um conjunto de testemunhos de uma das mais ancestrais etnias que habita não só o Sul de Angola mas também regiões da Namíbia e do Botswana.

O trabalho realizado por Sérgio Guerra foi também convertido num livro, Hereros – Angola, que pode ser adquirido em Portugal e Angola bem como noutros países, editado em Inglês – Português.

A exposição para alem de ter estado patente em Luanda, de 27 de Julho a 26 de Agosto, esteve também em Lisboa, mais precisamente na Perve Galeria, em Alfama, entre os dias 19 de Agosto e 18 de Setembro.


Mas afinal quem são os Hereros????

Os Hereros são um povo proveniente da migração dos bantos da região oriental da África, que se instalou na Namíbia entre os séculos XVII e XVIII, e que desde esse período atravessou décadas de conflito por forma a manter os seus traços culturais que o caracterizam. Actualmente estima-se que os Hereros totalizem cerca 240 mil pessoas, que se distribuem pela Namíbia, Angola e Botswana.

O Ovaherero engloba vários subgrupos e, embora durante o período colonial os europeus tentassem defini-los como grupos étnicos distintos, consideram-se todos Ovaherero. Apesar de divididos em diversos subgrupos, possuem o mesmo idioma herero, além do português em Angola, inglês no Botsuana e inglês e africâner na Namíbia.

Os traços principais da cultura desse povo remontam há 3 mil anos e os seus ancestrais teriam chegado a Angola há pelo menos três séculos – lá se instalaram nas províncias do Cunene, Namibe e Huíla. Com histórico caracterizado pela resistência, opuseram-se à escravidão e outras formas de dominação.

Após a Conferência de Berlim, celebrada entre 1884 e 1885, a Alemanha invadiu o continente africano e além de outras regiões anexou a Namíbia, enviando para a África invasores que pilharam as terras e riquezas da população nativa, difundido a supremacia branca e comparando o povo herero a babuínos. Os homens eram constantemente espancados até à morte e as mulheres vítimas de estupro e escravizadas sexuais dos colonos e soldados alemães.

Como forma de responder às violações que vinham sofrendo, em 12 de Janeiro de 1904 o povo Herero resolveu resistir à investida alemã, liderados por Samuel Maharero. De acordo com os historiadores, essa guerra de libertação teve como consequência o primeiro genocídio do século do XX, e um dos capítulos mais tristes da história, em que 80% dos Hereros foram aniquilados durante um confronto com as tropas alemãs na Namíbia.

Em Angola, eles também se negaram ao domínio perante o colonizador português. Porém não se pode dizer que chegaram ao século XXI absolutamente à parte das populações urbanas que se desenvolveram no país africano a partir da instalação dos europeus. Ou seja, os Hereros de hoje fazem comércio, frequentam escolas, consomem bebidas alcoólicas e alguns trocam os seus bois por carros. No entanto, é inegável que, mesmo não tão isolados do que se habituou a chamar de “civilização”, preservam parte significativa de sua cultura.

O gado é fundamental para entender boa parte do modo de vida dos Hereros. “O boi é tudo para eles, é a sobrevivência. Do boi, tiram tudo. Tutano, leite, o óleo com o qual se banham, o excremento que usam para construir as casas onde moram. É o banco deles. E é muito interessante como descentralizam o património. Têm uma dimensão muito precisa do que necessitam para sobreviver e de como devem ser estruturadas as coisas”, explica Sérgio Guerra.

Um dos aspectos mais reveladores é, sem dúvida, a poligamia da mulher e numa sociedade patriarcal. Enquanto os maridos viajam, transportando gado, elas podem ter relações sexuais fora do casamento. E, caso engravidem, é comum que os maridos assumam os filhos.

Como já comentámos, os traços culturais principais remetem a tradições de mais de três mil anos. Por isso, nas fotografias exibidas por Sérgio Guerra, para além de muitos outros aspectos característicos deste povo, é possível ver imagens de práticas tribais, como a circuncisão infantil e o hábito de se extrair os quatro dentes incisivos permanentes.


Mulheres Muhimbas da aldeia do senhor Tchimbari Kezumo Bingue, Biquifemo, Namibe, em Angola.
Imagem: Sérgio Guerra/Divulgação


Mulher Herero
Imagem: Sérgio Guerra/Divulgação


Mulher e criança Herero
Imagem: Sérgio Guerra/Divulgação

Esta exposição não só nos permitiu disfrutar de excelentes fotografias que captaram com muita realidade a história e cultura deste povo, como nos fizeram descobrir um pouco da sua história e percurso que até então desconhecíamos!

PS: Para saberem um pouco mais sobre os Hereros, podem aproveitar a oportunidade criada por Thomas Balmes, realizador do documentário Babies. O documentário é sobre quatro bebés (sendo um deles Herero), quatro culturas, em quatro países distintos. Ponijao, Bayarjargal, Mari e Hattie vivem na Namíbia, Mongólia, Japão e Estados Unidos, respectivamente. O filme mostra cada um deles desde o nascimento aos primeiros passos. A partir de uma ideia do realizador francês Alain Chabat (“RRRrrrr!!!"," Astérix e Obélix: Missão Cleópatra"), o documentarista Thomas Balmes mostra como, no que concerne ao mais importante, as diferenças entre as culturas podem ser esbatidas e, da mesma maneira que há coisas radicalmente diferentes entre pessoas de diferentes continentes, também existe algo que não foi alterado, nem através do tempo nem pela cultura: o amor, o instinto, a necessidade de proteger e ser protegido.

Para quem está em Portugal ainda tem a oportunidade de o ver até quarta-feira, no C.C. Vasco da Gama, em Lisboa, ou no C.C. Marshopping, em Matosinhos.


No dia seguinte levantámos bem cedinho para ir visitar uma fazenda de criação de cavalos perto do Quifangondo, nos arredores de Luanda, onde reside um dos objectivos de Angola para os Jogos Olímpicos de 2016!

Graças à simpatia dos funcionários pudemos experimentar e disfrutar de uma aula de equitação, onde uns se saíram melhor que outros, mas quanto a isso não vamos falar :)

A boleia no percurso para a fazenda:


O imponente Imbondeiro à entrada da Fazenda


Os estreantes (mas quem sabe futuros praticantes)



O caminho de regresso a casa

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