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quinta-feira, 30 de setembro de 2010

01 de Agosto – O balanço da primeira semana da Co-repórter

A primeira semana passou a correr, tão rápido que nem dei por ela (adoro este tipo de expressões!).

E passados estes primeiros 7 dias ainda não consigo ter uma opinião objectiva quanto a Angola, mais precisamente quanto a Luanda.

Posso começar por vos dizer que mil e uma coisas das que dizem pelo mundo fora não são verdade, muitas outras são. Isto, em si mesmo, não quer dizer nada, mas passo já a explicar.

Primeira verdade – Tudo é caríssimo, efectivamente muito caro. Não sei precisar os diferentes critérios utilizados pelas entidades que avaliam as cidades e criam este tipo de rankings, mas sei que é a cidade mais cara onde já estive, e também a mais cara face a tudo o que já ouvi falar. Gosto de dar exemplos claros do quotidiano para se aperceberem da dimensão dos preços e vejam os seguintes:

Pacote de leite meio-gordo, simples (seja qual for a marca, até mesmo marca branca) – 230 AKZ, aproximadamente 1,95 EUR (do que me recordo, em Portugal pode custar a módica quantia de 0,60 EUR).

Bolo simples de pasteleira – entre 250 AKZ a 395 AKZ, aproximadamente 2,12 EUR a 3,43 EUR.

Iogurte Líquido (por exemplo, Danone) – 280 AKZ, aproximadamente 2,37 EUR.

E podia continuar e ir para domínios como a roupa e sapatos, mas deixo-vos só com esta imagem do que pagámos pelo nosso primeiro pequeno-almoço que, como poderão ver, não foi nada de especial, com excepção do preço…

2 Bolos, 1 café com leite e 1 Galão 1.720 Kuanzas (Sendo, à data, 1 USD = 97 Kuanzas).

(Por dificuldades técnicas não foi possivel colocar a fotografia do talão. Esta será adicionada posteriormente)

Primeiras mentiras – As pessoas não são assaltadas, violadas, ou o que quer que seja, assim que respiram a primeira aragem fora do aeroporto, ou fora do avião… É preciso ter cuidados, sim, é verdade, muitos até, e programar muito bem determinadas saídas, mas não há pessoas a cada esquina a roubar-nos ou à espera para nos roubarem. Agora pensem só no seguinte, e não queria que entendessem isto como desculpa, como fariam para viver com menos de 1,5USD por dia quando um simples pacote de leite custa mais do que isso?

No plano mais pessoal, a nível de trabalho, tudo correu dentro do normal. Com muita coisa para assimilar porque a colega com quem vou ficar a trabalhar ia-se ausentar na semana seguinte à ter chegado, o que não deveria ter acontecido, devendo existir mais tempo para o trabalho ser passado, mas pronto…

O melhor da semana… a pizza de Lagosta e ter descoberto o Bamboo, que depois ficarão a saber o que é :)

O pior da semana… continuo a não conseguir habituar-me ao horário do Sol nesta Terra Avermelhada. Anoitece muito cedo e amanhece muito cedo também, por volta das 5 da manhã já há claridade. Ora toda esta conjugação de situações, acrescentando os nervos e a ansiedade dos primeiros dias, fazem com que não consiga adormecer antes das 2 da manhã, acordando várias vezes, até não conseguir realmente pregar olho quando o sol aparece umas 3 horas e pouco depois… e então temos o seguinte resultado que ainda nos deixa com um sorriso nos lábios cada vez que nos lembramos da situação:

06h30 da manhã – Telefone a tocar

Co-Repórter cheiínha de sono, tanto que quase não havia lugar para indignação – “Mas quem é que te está a ligar a esta hora?”
Repórter – “O despertador!” (quase que finalizava a resposta com um DAAAAHHHHHH)

Melhores dias virão… é preciso acreditar!

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

31 de Julho – Luanda Jazz Festival

Este era um evento ao qual desejávamos há muito assistir juntos pelo que os bilhetes foram comprados com muita antecedência para evitar que perdêssemos a oportunidade. Seria (pensávamos nós 2 meses antes) o primeiro grande evento a que assistiríamos juntos em Luanda. Acertámos.

O cartaz era de renome, muito embora uma das cabeças de cartaz, Diana Reeves, tivesse que ser substituída por outro convidado, devido à impossibilidade de comparência.

Inicialmente não era a nossa escolha, mas acabámos por trocar os bilhetes previamente adquiridos para Domingo, pelos de Sábado, sem sabermos que surpresas nos poderiam ser reservadas.

Com alguma logística à mistura, lá fomos com ajuda deixar o carro à porta do Cine Atlântico para evitar constrangimentos no final do espectáculo, e regressámos a casa do Nuno onde nos esperava um vasto manjar composto por iguarias nacionais e não só... entre muitos dedos de conversa, gargalhadas e as brincadeiras do Dudu, lá se estava a aproximar a hora do primeiro concerto.

Quando chegámos demos uma volta pelo recinto e não podemos deixar de reparar na boa organização do evento, ao mesmo tempo ficámos agradavelmente surpreendidos por perceber que, apesar do elevado preço dos bilhetes (sendo elevado tendo Portugal como referência mas normal para os preços praticados em Luanda), todos os consumos no interior do recinto estavam abaixo da média praticada em Luanda. Quando nos dirigimos ao palco principal, o Cine propriamente dito, a Lura já estava a ensaiar. Era a primeira convidada a actuar. O espaço era agradável, com lugares sentados que em tempos serviam para ver projecções ao ar livre.

O concerto foi bom e contribuiu para animar aquele início de noite. Seguia-se uma actuação no palco secundário de um músico nacional, e da nossa parte, uma pausa para uma gulosice. Fomos comprar um geladito e eis que a co-reporter tem um regresso ao passado ao ver a indicação de um dos sabores “Arroz Doce”!

Sem pensar muito pedimos os dois uma bola de Arroz Doce. Ao que a proprietária do espaço pergunta “Já conhecem?” A co-reporter responde por ambos ao dizer “eu já, mas ele não”.
Naquele preciso momento tanto a interrogação da proprietária como a resposta da co-reporter deixaram-nas a ambas intrigadas e a conversa tinha forçosamente que continuar até se desvendar os mistérios na cabeça de ambas :)

A senhora prosseguiu: “se conhece só pode ser de Portugal e de um sítio, a zona da Costa da Caparica, porque eu era a única a fazê-los”. Lá está, tudo tem uma explicação!

Depois dos pais da Co-repórter se mudarem de Lisboa, passaram a frequentar no Verão uma geladaria na Marisol, motivados sobretudo pelo gelado de Arroz Doce. Passado um certo tempo a geladaria mudou de donos e durante algum tempo não foi possível encontrar gelado de arroz doce. Até que o voltaram a encontrar em plena rua dos Pescadores. Primeiro numa geladaria pequena e depois na Prime, o paraíso para os amantes de gelados :)

Até que o gelado de arroz doce desapareceu por completo e se resignaram...

Em breves instantes a senhora contou a história do prisma de quem a viveu… Basicamente as diversas tentativas não deram certo e agora cá estava, em Luanda. Ainda não tinha estabelecimento aberto mas vendia desde sua casa para fora e não nos negava uma simples bola, bastava aparecermos por lá! Dona Milú, não se preocupe que vamos ser bons clientes!!! Deixe o calor apertar!!

Ao sabor do nosso geladito assistimos ao concerto do Gabriel Tchiema e regressámos aos nossos lugares para ver o sul-africano Georges Gwangwa. Guiados pelo conhecimento de uma fã sentada ao nosso lado, ficámos a saber que era o melhor músico de Jazz africano e que no Lisboa Capital da Cultura foi o artista convidado pela organização para abrir o evento.

Realmente a actuação correspondia na perfeição ao que a senhora nos acabava de dizer, e o Georges animava com a sua banda todos os presentes, colocando o público bem expectante para a actuação seguinte.

E eis senão quando, a percepção que ambos tínhamos começado a ter ao longo do desenrolar da noite, se começa a reforçar. As três filas atrás de nós estavam ladeadas de guardas que impediam qualquer pessoa de se sentar e na fila atrás de nós haviam 3 ou 4 lugares almofadados. Algum tempo depois de ter brincado com a possibilidade do Presidente da República poder aparecer e sentar-se a 3 metros de nós, alguns membros da organização começaram a colocar carpetes vermelhas na entrada lateral que dava acesso à zona VIP o que nos leva a dizer, “ele deve vir aí”, e o outro meio descrente, “achas? Não...”

Continuámos a assistir ao concerto e eis que as dúvidas se dissipam... uma fila de seguranças irrompe pelo cine com o presidente e os seus convidados no meio. Tomam os lugares atrás de nós, ficando o presidente tão perto ao ponto de lhe podermos estender a mão para o cumprimentar.

O que é que isto terá de especial? Muitos que estão longe poderão não o perceber, mas houve tempos em que isto seria de todo impossível. O presidente da República de Angola estava ali, num evento público, com os seus ténis calçados (e com o seu engomado fato), a assistir ao evento no meio de tantos outros cidadãos, sem camarote presidencial, muito embora com as suas medidas de segurança.

Foi saudado pelo Georges Gwangwa, que agradeceu a sua presença, e estava rodeado de familiares e convidados, todos animados a assistir ao espectáculo. Saiu por breves instantes, enquanto não subia ao palco o cabeça de cartaz da noite.

Após a subida ao palco do George Benson, a noite nunca mais foi a mesma. O público entrou em apoteose com o seu soul e poucas foram as pessoas que permaneceram sentadas. O concerto foi fenomenal, sem uma única paragem, com as músicas a sucederem-se em catadupa, cada uma com mais vibração que a anterior. No final do espectáculo, o entertainer fez a pergunta que já se esperava, tendo em conta a figura presente “vamos perguntar ao nosso presidente se ele quer mais uma?” E sorrindo o Presidente, que permanecia de pé, fez sinal afirmativo para delícia dos presentes.

Com o objectivo de evitar a “confusão” à saída do Presidente tentámos antecipar a nossa saída… Ao sair vimos todo o aparato habitual (e normal) nas deslocações do Presidente (5 viaturas iguais, ambulância, militares armados e polícias). Entrámos no carro, que estava a cerca de 50 metros da porta principal do Cine Atlântico, e nos primeiros 2 metros de marcha atrás surgiu de imediato um polícia a gritar “Pare o carro, pare o carro, o Presidente vai sair”. Tentei abrir a janela e argumentar mas rapidamente desisti…

Tinha substimado a regra de ouro que tanto já tinha ouvido falar…

Por ali aguardámos os cerca de 20 minutos que o Presidente demorou a sair e, depois da sua saída, lá fomos nós calmamente para casa reconfortados com os belos momentos e com mais uma história para contar…

domingo, 12 de setembro de 2010

24 de Julho – A chegada da co-repórter a Luanda

Leitores, fui oficialmente promovida a co-reporter deste blog desde que pus os pés em Luanda :)

Quando estava a escrever este post pensei, “como é que eu hei-de ser sincera sem ser absolutamente negativa quanto à minha chegada?”

Pois ainda não sei bem, mas vou procurar-vos transmitir o que senti desde que aterrei.

Para começar confesso que vinha um bocadinho grogue. Farta de fazer viagens sem pregar olho, muni-me de armas mais poderosas que o Zirtec e tomei um Lexotan (ou terão sido dois??) Só sei que a viagem foi um instantinho. Mal tinha acabado de jantar já estava a sentir o reboliço do pequeno-almoço a ser servido e isso representava a aproximação breve a Luanda. Não tive oportunidade de ver a aproximação à pista e, portanto, a imagem aérea da cidade que tanto aterroriza alguns. Não fico nem contente nem triste por isso ter acontecido, simplesmente não aconteceu.

Ao sair do avião senti logo aquele bafo da humidade e o peso do ar, ao mesmo tempo que comprovei que o Inverno cá é mesmo apetitoso  Eram 6h30 da manhã e estariam uns 20ºC

As primeiras impressões foram positivas. Procurei ser simpática com todos os funcionários, sem excepção, e em todas as abordagens, e não transparecer os receios todos que me tinham sido praticamente impostos por dezenas de pessoas “vão-te pedir isto, vão-te pedir aquilo, vão-te perguntar o que estás cá a fazer, bla bla bla”. Rien de rien. A senhora do controlo migratório inclusive desejou-me uma boa estadia. Com um sorriso nos lábios (e ainda meio atordoada…) lá me dirigi à saída onde o repórter me aguardava impaciente. Foi uma coisa estranha, que não vos sei explicar. Era sempre eu que esperava por ele em Lisboa. Sim, ele já me foi buscar ao aeroporto, mas não ali… aquela espera representava um novo começo. Lembro-me que ele me perguntou de imediato “Então, como foi?”, referindo-se às questões que nos colocam no controlo, ao que respondi “nada, até me desejaram boa estadia”. E lá nos dirigimos a casa, embora antes passando a deixar a irmã Domingas, minha companheira de viagem, no colégio onde iria ficar hospedada.

Ponto número 1 – O irmos deixar a irmã Domingas permitia uma coisa que sempre quis, ver de perto o prédio da Cuca! (podem ver uma foto do prédio aqui) Não me perguntem porquê, mas aquele prédio sempre esteve na minha cabeça como uma das marcas ou símbolos de Luanda e queria vê-lo de perto. Não defrauda, é tal como imaginava, pena que vai ser construído um hiper mega centro comercial no centro da praça… e também ouvi dizer que vai abaixo… sorte a minha, ainda cá cheguei a tempo :)

Agora vem a parte pior… Luanda não era exactamente como eu imaginava… nos últimos meses construí mais de mil ideias sobre a cidade, vi imagens, blogs, sites, artigos, e cada um me fazia imaginar locais da cidade. Quando se chega não é nada disso. Luanda tem o vislumbre daquilo que terá sido uma cidade linda. Actualmente é um autêntico estaleiro de construção! Da ilha só se avistam gruas e mais gruas, por todas as partes há tapumes, ao lado de um grande empreendimento está um prédio que ameaça ruir, apenas em alvenaria, quando não é pior e são pequenas casas sem qualquer estrutura que nem quero imaginar como ficam quando chove…

Custou-me encarar esta realidade. Para ser muito sincera, após dar duas voltas pela cidade, apetecia-me voltar ao ponto de chegada e apanhar o primeiro avião de regresso a Lisboa. Mas não dava...

Depois de dar mil e uma voltas, que me deixaram ainda mais cansada do que já estava, fui dormir o resto da tarde. Quando acordei a realidade era a mesma. Aquela estranheza continuava, todas as impressões vinham acompanhadas de adjectivos negativos, toda a gente me disparava mil e uma informações sobre tudo e mais alguma coisa, coisas que obviamente não conseguia reter com a velocidade com que me eram transmitidas, e o pior, não sei quantas vezes ouvi este tipo de perguntas “Então, o que é que estás a achar? Então, como te parece? Então, como te sentes?”. Claro que ninguém o faz por mal, mas passado 24, 48, 72 ou mesmo mais horas, não é de todo possível ultrapassar o choque de chegar a Luanda... no Domingo ainda me caiu uma lágrima, pela diferença, pela distância, por tudo, mas recordo o abraço do repórter a atenuar esse sentimento que se apoderou de mim.

Enfim... os próximos dias iriam ser para aceitar a realidade em que me iria encontrar, os que se seguiam aos próximos, para me adaptar e depois viria a descobrir que nunca chegaria o dia em que a tentaria mudar... certa ou errada, ela é como é! Diferente.

PS: No primeiro fim-de-semana tive no entanto um prémio, dado por uns amigos, o de poder contemplar esta magnífica paisagem na província vizinha e circundante à de Luanda, o Bengo, cujo nome tem origem no rio que por ela passa.







Bom Jesus, Província do Bengo

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

22 de Julho – O dia tão desejado chegou!!!

Este é um dia que, naturalmente, origina dois pontos de vista…

O de quem parte e o de quem aguarda…

O ponto de vista de quem parte:

A partida...

E eis que chegou o dia de me tornar contribuidora oficial deste blog. Não deixo obviamente de ser a primeira seguidora, mas fui promovida a um patamar superior :)

Chegou também o dia da partida. Um dia que tantas vezes desejei que chegasse e quando afinal chegou ,dei por mim e desejar que tardasse um pouco mais.

Por mais que desejemos um coisa, quando essa coisa significa partir e deixar para trás aqueles que amamos, é sempre difícil. Só mesmo passando por algo assim para sentir o aperto e a dor provocados pelos últimos momentos, pelos últimos abraços. A última semana passou a correr, e muitas das coisas que planeava ter feito não fiz... fiquei talvez a dever muitas chamadas, muitos cafés, muitos abraços, mas todas essas pessoas não deixaram de estar no meu pensamento no dia em que saí de Portugal.

Naquela quinta-feira, dia 22 de Julho, as horas não passaram a correr, simplesmente voaram... As lágrimas, teimosas, não me largaram o dia todo, sobretudo de cada vez que ultrapassava uma despedida... à medida que me encaminhava para o aeroporto senti o tempo a escapar-me entre os dedos. Fiz o check-in e consegui incrivelmente passar com toda a bagagem que levava sem que me solicitassem pagamento de excesso (até hoje não percebi como...). Ainda tive direito a uma surpresa de última hora quando a Bela, o Miguel e o Daniel apareceram subitamente no aeroporto e ao perguntar-lhe “Mas o que é que estão aqui a fazer?” ela me responde de imediato “Achas que eu te deixava ir embora sem me despedir de ti?” Não pude deixar de me sentir uma felizarda por ter à minha volta tanta gente preocupada comigo.

A hora tinha chegado e não queria prolongar mais aquele sofrimento para todos. Iniciei as despedidas começando pelos mais novos. Não posso esquecer as palavras da minha mãe que insistia em não se conformar, perguntando “Porquê???” Realmente não sei porque é que temos que passar por estas realidades adversas para chegar mais longe... Neste momento sei que vale a pena tentar e se não o fizesse ficaria a vida toda a perguntar-me o que poderia ter acontecido. À minha mãe só consegui responder que apesar de estar de partida, iria voltar a casa, à minha casa, ao meu país, à minha família.

O último abraço ficou reservado ao meu irmão que tanto amo. Sei que sobre ele fica a pesar a tarefa de cuidar e olhar pelos nossos velhotes, mas confio e sei que fará um bom trabalho  Espero em breve estar a escrever um post a contar os contornos da visita dele a Angola!

Por tudo isto, queria deixar-vos a vocês, que estiveram comigo nos últimos instantes em Portugal e a todos aqueles que de uma forma ou de outra não se esqueceram da minha partida, as minhas últimas palavras e pensamentos, levo-vos a todos no coração! Parto, mas faço-o com o coração muito cheio, de todo o carinho recebido!

Até já

O ponto de vista de quem espera:

Exactamente 11 meses depois o dia tão anseado chegou.

São 00:40 e cá estou eu a a tentar passar para o papel o que sinto…

Quis o destino que fosse, também, ao vigésimo segundo dia de um mês que a minha metade entrasse num avião com destino a Luanda.

Depois de muita preocupação e ansiedade, de sorrisos e choro, o objectivo cumprir-se-á dentro de algumas horas.

Neste momento um misto de sentimentos. A alegria, sem dúvida, pela vinda da minha metade pois assim temos oportunidade de viver juntos coisas que não se vivem em Portugal mas também a tristeza. A tristeza porque sempre que alguém parte, para além do seu próprio sofrimento, há também que ter em conta o sofrimento de todos os que gostam dessa mesma pessoa. E daí a minha tristeza. Porque sei que, “felizmente”, muitas são as pessoas que vão sofrer com a vinda.

Para essas mesmas pessoas fica uma sugestão: Aproveitem as novas tecnologias para se fazerem sentir. Dessa forma será muito mais fácil para vocês e para a Patrícia. Felizmente a ausência física hoje é colmatada com relativa facilidade…

A recepção será simples mas muito emotiva certamente. Cá estarei eu e “um batalhão de pessoas” para a fazer sentir-se em casa (dentro do possível). Tal como tenho dito a todos os novos colegas “isto não é o paraíso mas também não é o inferno”. Basta que se cumpram “religiosamente” algumas regras fundamentais para que os riscos (que é o que todos tememos) reduzam significativamente. Reduzam porque, desaparecer não desaparecem…

Por agora pouco mais tenho a dizer… Há momentos em que as palavras parecem fugir… Há momentos em que parece que nada temos a dizer… Há momentos em que todas as ideias fogem…

Penso apenas em momentos chave do que será o inicio do dia de amanhã… O abraço, a saída do aeroporto, o inicio do percurso até casa e a chegada a casa.

Brevemente colocaremos, ambos, mais novidades sobre a chegada…

17 de Julho – O caos do trânsito e a cidade

Nada melhor para marcar mais um regresso a Luanda do que mostrar algumas fotografias e vídeos sobre algo que está presente (diria) em quase todas as conversas/relatos sobre a Terra Avermelhada… O caótico trânsito em Luanda…

Uma sardinhada levou-nos a Viana (em Março). Não sei bem como classificar Viana. Não sei se é considerado um município ou não mas, de qualquer forma, digo que é um aglomerado de casas… Desculpem-me esta imprecisão…

A caminho da sardinhada alguns vídeos do percurso…


Estrada de Catete, sentido Luanda - Viana


Uma “Rua” em Viana

Estrada de Catete, sentido Viana - Luanda

Para além dos vídeos algumas fotos também tiradas na mesma viagem:

Uma das “lojas de sofás”

O Trânsito e as “expressões” nos “Táxis”

As cadeiras de plástico na caixa das pickup’s…


Os vendedores de rua

Uma das “Ilhas” – as agências bancárias

O comércio oficial


O comércio de rua

O comboio, a sair de Luanda, numa das suas viagens de fim de tarde

11 de Julho – Mais um regresso a Luanda

Este era um regresso diferente…

Inicialmente esperávamos que fosse um regresso acompanhado. Depois percebemos que assim não poderia ser mas, felizmente, sabíamos que “a outra viagem” não demoraria muitos dias…

Por isso este foi um regresso mais tranquilo.

Casualmente encontrei um amigo no aeroporto e, sem o termos preparado, fizemos toda a viagem lado a lado e, também por esta casualidade, este regresso se tornou ainda mais agradável.

À chegada, não fosse o facto da minha mala ter sido quase a última a chegar, nada de estranho aconteceu. Depois de passar todos os pontos de validação da documentação tive apenas de aguardar (bastante) pela mala e pronto… Estaa mais uma vez “de regresso a casa”.

Mas, mais do que a viagem de regresso, pretendo que este post “marque” a distinção da minha percepção sobre a realidade da cidade…

Existem “pequenos pormenores” que eu notei antes da minha ida a Portugal. Mas agora, nos dias seguintes ao meu regresso, consigo identificar uma série de realidades que são diferentes da altura em que eu cheguei a Luanda.

Falo de coisas simples mas que mudam muito a forma como vemos a cidade e, obviamente, o país…

De que tipo de coisas me estou a referir?

Brigadas de limpeza na rua. Todas as ruas acumulavam junto aos passeios uma grande quantidade de areia. Neste momento existe um esforço para que essa areia (e também o lixo que as pessoas vão diariamente mandando para o chão) sejam colocados no seu local correcto.

Diversas equipas, em toda a cidade, que estão a refazer os passeios… Quase todos os espaços, a que chamávamos de passeios, mais não eram do que terra batida. Depois de terem arrancado ou deteriorado a calçada, normalmente, ficava a terra avermelhada no seu lugar. E, neste momento, existe uma grande intervenção a esse nível que melhora significativamente a limpeza e a mobilidade da e na cidade.

E estes são os “aspectos marcantes” deste meu regresso à cidade. Parcerá que a minha visão está a mudar porque se aproxima a chegada da minha metade mas, na realidade, esse não é o motivo.

Tal como se pode ver nos mais variados locais e das mais variadas formas:
Angola está a mudar!!!

05 de Julho – Um aniversário com sabor a despedida

Hoje é um dia especial para a minha metade… Aqui fica mais um contributo que antecipa a sua chegada à Terra Avermelhada…

Um aniversário com sabor especial

O meu 27º aniversário reunia marcos importantes, tais como ser o último antes de partir à aventura para a terra avermelhada e ser o último como solteira :).

Como tal, e porque estava rodeado de simbolismo, resolvi passar quase uma semana inteira a festejá-lo!

A começar pelo dia propriamente dito, fui acordada pela maneira de sempre. Aquela que não sei se voltarei a ter tão rápido: a minha mãe a ir ao meu quarto de manhã cantar-me os parabéns. Desta vez antecipei-me um bocadinho e ela já não me conseguiu acordar com o típico “parabéns a você”, mas não deixou de me cantar a música mesmo vendo-me levantada.

Depois disso tudo correu dentro da normalidade. Estive ou falei com todos aqueles que são importantes na minha vida e de quem necessitava ouvir as palavras necessárias para enfrentar estes últimos dias em terras lusas e os primeiros na terra avermelhada.

Tal como expliquei no post anterior, dei um saltinho ao Bairro Alto com a famelga, para me deliciar por uma última vez com um cupcake. Última vez entenda-se, antes de voltar de férias, pois a Tease vai ser uma das minhas primeiras paragens logo que regresse à minha querida Lisboa :)

À noite deliciei os presentes com um franguinho de churrasco e um supremo de chocolate, do qual não sobrou uma fatia para contar história! Não houve direito a discurso porque as emoções estavam à flor da pele e não queria tristeza a ensombrar aquele dia mas, muito embora as palavras tivessem ficado por dizer, os sentimentos estão cá e vocês sabem o que significam para mim.

O resto da semana prosseguiu com celebrações e visitas a amigos mais longínquos, com autênticas maratonas de quilómetros, mas sempre recompensadas por aquela alegria de nos verem chegar e o abraço da despedida.

A semana tinha passado a correr e com ela a hora do repórter partir de novo. Desta vez não houve choros mas sim muita alegria na hora da despedida. Confesso que me custou um bocadinho não tê-lo presente naquela tarde de Domingo, onde se reuniu a família uma vez mais para o aniversário e a despedida. Mas a vida é mesmo assim, nunca conseguimos encontrar ou usufruir da perfeição das situações, resta-nos apenas conseguir aproveitar da melhor forma a conjugação das circunstâncias e, a verdade, é que elas nunca tinham estado tanto a nosso favor.

No Domingo já houve lágrimas, muitas e compreensíveis. A minha mãe pela primeira vez viu toda a gente a despedir-se de mim. Aquele foi muito mais do que um simples almoço de aniversário, foi toda uma despedida. Toda a gente queria saber de tudo um pouco sobre a minha futura experiência. Lá fui contando como pude o que sabia e, às vezes, o que não sabia mas imaginava.

Lembro-me do meu primo Ernesto me falar marcadamente de uma outra Angola, de uma outra Luanda, em tempos visitadas e vividas... foram essas imagens e ideias que mais retive sobre o país onde iria passar a viver.

Nesse dia ficaram muitas promessas de visitas em cima da mesa, as quais eu anseio ver cumpridas! Eu sei que é longe, mas ficarei ansiosamente a aguardar por vós!

E rápido, muito mais do que desejaria, tinha chegado ao fim aquela bela tarde de Domingo e os festejos do meu tão especial aniversário.

Não sei quando vou voltar a ter um assim, mas agradeço ter vivido este!
O meu obrigado a todos vocês que ajudaram a torná-lo possível.

Mais ou menos como diz a canção:

Vou “levar-vos” comigo, vou “levar-vos” comigo...

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