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sábado, 26 de setembro de 2009

28 de Agosto – Aconteceu em África. Será situação impar?

Mais uma constatação…

Tanto ouvimos, na Europa (apesar de sabermos que o nosso país faz parte do Continente Europeu, neste momento, sinto-o de outra forma. Na realidade nunca tinha pensado “na minha casa” dessa forma, como algo englobado no Continente Europeu, porque essa é a nossa realidade. Porque, por muito que viajemos, acabamos sempre por “conceber” o resto do mundo de acordo com os padrões a que estamos habituados. Nas viagens contactamos com pessoas diferentes, apercebemo-nos que vivem em realidades diferentes, percebemos que a cultura é diferente, entendemos que pensam duma forma diferente mas, na realidade, consideramos sempre que pensam [ao que de importante diz respeito] da mesma forma que nós) dizer que África é diferente, que em África as coisas se passam de uma forma diferente que, achamos, já estamos suficientemente preparados para tudo o que vamos ver e ouvir.

Na realidade, com o passar dos dias, vou constatando as coisas não são bem assim… Existe de facto uma grande diferença, por comparação com Portugal, na forma como este povo age e interpreta determinadas situações.

Todos nós já tivemos determinadas situações com interlocutores Africanos e, em algumas situações, temos respostas, reacções ou atitudes que não compreendemos ou que consideramos lentas. Eu, confesso, sempre pensei que seriam apenas exemplos pontuais (afinal de contas em todo o lado há pessoas inteligentes e pessoas menos inteligentes, em todo o lado há pessoas rápidas e pessoas lentas, etc) mas, com a semana que estou quase a completar (escrevo este texto em 29 de Agosto pelas 15.20horas enquanto aguardo um telefonema do Ludgero) verifico que é de facto uma questão cultural.


Ontem, no telejornal da RTP África, apresentavam uma notícia do caos que se vivia na Guiné-Bissau (não o caos social devido a todas as perturbações políticas que existiram recentemente) devido à corrida repentina ao (não tenho a certeza se este é o termo correcto) “cartão do cidadão”. Pelos vistos também na Guiné-Bissau o documento de identificação alterou o seu formato e conteúdo (provavelmente também se trata dum único cartão que engloba todos os documentos pessoais). Noticiavam: “verificam-se enormes filas de espera após a corrida de toda a população para obter o novo cartão”.

O que é que um Europeu pensava, ou melhor, o que é que eu pensei? “As pessoas são demais, assim que há qualquer novidade correm logo e nem se apercebem que, indo alguns dias depois, não se chateiam nem perdem todo aquele tempo” Certo?? Não… Errado…

A notícia continuava…

“após a Ministra [de um Ministério que não retive] ter anunciado que os actuais bilhetes de identidade deixavam de ser válidos uma vez que já estavam disponíveis os “cartões do cidadão”. Este anúncio levou todas as pessoas até aos 3 pontos onde é possível criar o novo cartão provocando assim o caos nesses pontos”.

De um dia para o outro os documentos de identificação pessoal deixam de ser válidos?? Sem período de transição?? Quanto existem apenas 3 pontos que possibilitam a criação do novo documento??? Sem um reforço na estrutura existente em cada um desses pontos (sim porque com uma decisão destas não corro grandes riscos em dizer, e acertar, que não houve qualquer reforço na estrutura existente).

Uma pequena nota… O país, em 2005, tinha 1.416.027 de habitantes.

Perante o meu espanto e sorriso devido a situação tão caricata, um dos meus colegas de casa, o Sr. Cabral (com 18 anos de experiência em África), riu-se e disse “Estamos em África, estes gajos não pensam”.

A realidade é que esta “decisão”, na minha opinião, só pode ter partido de alguém pouco racional…

27 de Agosto – O nascimento do Tracinha e uma noite de betonagem…

Desculpa Paula… Mas Tracinha fica tão giro… ehehehehe

Brincadeiras à parte… Hoje é um dia especial…

Nasceu mais um rebento de um casal amigo… Às 6:23horas soube, por sms, que o parto tinha corrido bem e, como resultado, o Salvador com 3kg.

Depois de ver as fotografias que a Patricia me enviou fica o desejo que o menino não seja feio como o pai… Para já é um bebé bonito (ao contrário da maioria que conheço quando nasce) ehehheehhehe.

Parabéns aos pais. Que tudo corra bem e que todos vejamos o Salvador a crescer cheio de saúde e sorte (porque também é necessária).

Bjinho para a Santa Paula e um abraço para o Zé.

Uma noite de betonagem???

Sim… Uma noite de betonagem…

Não, não se trata duma situação particular ou especial… Esta é a regra…

Quando me estava a dirigir para o meu quarto (ou para o anexo eheheheheh) ouvi um barulho estranho… Uma vibração que, por vezes, tinha uma intensidade muito forte… Achei estranho e fiquei sem perceber o que poderia ser. Uns passos adiante percebi…

Era um vibrador (de betão :) ) a tocar nas armaduras… Achei muito estranho (porque já eram 22.30h) e pior achei quando tive quase até à meia-noite a sentir e a ouvir os efeitos da betonagem…

Isto é de facto outra realidade…

Só no dia seguinte (porque sou muito lento) percebi o motivo… O trânsito é tanto que o transporte do betão tem que ser feito à noite. Durante o dia, sem ninguém conseguir explicar porquê, podem demorar-se 2 ou 3 horas a percorrer 15 km… Portanto o melhor é ser à noite que assim a probabilidade de insucesso é menor…

Tudo aqui é diferente daquilo a que estamos habituados. Pode ser muito ou pouca mas é diferente. É necessário um período de adaptação e de “desformatação”.

25 de Agosto – O segundo dia de trabalho

O segundo dia de trabalho, creio que em todas as profissões em todos os lugares do mundo, não varia muito. É uma fase muito inicial em que as pessoas tentam perceber os cantos à casa e tentam ir-se adaptando…

Do meu segundo dia ficam apenas algumas recordações:

i) De manhã, já com a placa de internet móvel activa a constatei que o meu computador (um dos modelos mais recentes da HP – haverá quem diga “ache pê”, sabe-se lá porquê…) não tinha porta para aquele tipo de placas. Teria que ser USB mas, após o contacto com a operadora, recebi indicação que não existiam. Teria que ser de outra operadora e todos sabiam que não se sabia quando estaria disponível… A saga da busca da internet estava a revelava-se complicada…

ii) À tarde, em conversa com o Ludgero para combinar a passagem na minha casa para “me dar as boas vindas” pessoalmente e, também, para ficar a saber onde estava alojado, coloquei-lhe a questão sobre o guarda. O relato do que vi e que, para mim, é desumano… Do Ludgero, uma pessoa sensível, compreensiva e sensata uma resposta simples “aqui há coisas que não se percebem muito bem, temos que deixar os sentimentos um bocado de lado senão é muito complicado”. Percebi a mensagem e, por mais que discorde, esta é a realidade que se vivia quando cá cheguei… Portanto…

iii) Algo que nunca vi nem pensava que ainda existisse… Numa sala de reuniões da empresa, ao lado do meu local de trabalho, estava a ser contado o dinheiro para pagar aos funcionários desta província (no dia seguinte a actividade continuou, eu é que já estava mais familiarizado). Bem sei que os ordenados são baixos, que a moeda vale pouco e que, por isso mesmo, são necessárias muitas notas mas a situação, confesso, deixou-me um pouco nervoso porque, com o historial de crimes receei que pudesse entrar alguém armado para levar o dinheiro… Tudo se passou sem sobressaltos…

À noite com a placa de internet já activada tentei utilizá-la no computador antigo que estava em casa. Desinstalei imenso software que tornava o computador extremamente lento e instalei a placa. Quando faltavam poucos segundos para a conclusão da instalação o Ludgero ligou porque estava à porta de casa para “um abraço de boas vindas”.

Foi uma sensação muito especial… Estar tão longe “do habitat natural”, com um amigo, com quem há quase 3 anos não falava pessoalmente. Mais uma vez ele aproveitou para me dar dicas importantes sobre atitudes e comportamentos a ter nas ruas e eu, mais uma vez, tentei absorver ao máximo…

Regressado a casa verifico que o ecrã do computador perdeu o brilho. Depois de imenso tempo a tentar restabelecer a situação para poder falar calma e tranquilamente com a Patrícia, vem o desalento… O ecrã tinha, de facto, perdido o brilho mas era definitivo. O seu período de vida útil já tinha sido atingido. Naquele dia… Quando eu precisava de o utilizar (já tinha todas as condições reunidas para me conseguir ligar è net) para matar saudades e conversar livremente durante algum tempo…

As conversas tinham que se reduzir a breves minutos…

domingo, 20 de setembro de 2009

24 de Agosto – O primeiro dia de trabalho

Felizmente ontem perguntei ao Sr. Cabral a que horas é que “se começava a trabalhar”… Foi com algum espanto que ouvi “às 7.30”.

Por isso mesmo o dia começou pelas 6 da manhã. Tomei o pequeno almoço e fui para o trabalho. Ontem quando íamos para o Miami passámos no escritório e fiquei a saber o caminho. Na realidade também não há muito a saber… 3 minutos a pé separam a casa do escritório (o que é uma vantagem porque o trânsito é caótico)…

O momento da saída de casa, depois de ser alertado para tantas situações, foi um momento difícil… O ter que sair a porta e caminhar durante esses 3 longos minutos, sozinho, até ao escritório… Em Portugal fui alertado diversas vezes para não andar com determinados objectos à vista senão corria o risco de ser assaltado e ontem, o Sr. Cabral, salientou que não deveria andar frequentemente com o computador de casa para o trabalho por isso, com receio, decidi deixar o portátil em casa.

Ao sair fiquei ainda mais nervoso. A 30 metros da porta de casa estavam duas motas da polícia. Pensei “isto é uma zona tão complicada que às 7 da manhã já estão policias na rua”.

Durante o caminho as minhas pernas tremiam… Percebo agora, porque concluo o texto em 5 de Setembro, que esse sentimento se devia a dois factores: i) os inúmeros alertas ouvidos em Portugal e, ii) ao pré-conceito que transportamos na viagem. Cresci com a ideia de que um conjunto de jovens negros na rua não é sinal de muita segurança. Preconceito??? Pode ser… Mas durante a vida acabamos por construir algumas ideias e, com o passar do tempo, tomamo-las como verdades…

Neste caso há uma pequena diferença… Estou em África… Portanto os locais são negros logo é normal que andem em grupos e que falem nas ruas tal como os brancos fazem em Portugal…

Prosseguindo com o meu primeiro dia…

À hora do almoço percebi porque é que estavam dois polícias quase à porta de casa… O responsável número dois da polícia nacional mora no largo e, como tal, quase todos os dias estão lá polícias…

Quanto ao primeiro dia foi normal… Conheci as pessoas, tentei perceber o que faziam e comecei a tentar integrar-me no trabalho e na equipa. Que mais se faz no primeiro dia??? Pede-se algum material essencial para começar a trabalhar. O que é que eu pedi? Canetas, Lápis/Lapiseira, caderno, borracha, post-it’s, clips e penso que nada mais…

O que é que é isto tem de interessante? Quando recebi o caderno fiquei a olhar para ele. A capa denunciava que aquele era um caderno para crianças… Sorri quando o vi e o colega que o entregou, o André, rapidamente se apressou a explicar que estava a entregar aquele porque era o que havia e, para que não restassem dúvidas, mostrou-me o dele que era igual…

Em breve vou actualizar este post com uma fotografia da capa do caderno para que imaginem o quão engraçado foi a situação…

À medida que as horas iam passando, confesso, foi aumentado o receio de sair do escritório ao fim do dia… Mais uma vez o mesmo receio… Um sitio desconhecido, escuro, que mal se conhece… Mas felizmente o Sr. Cabral foi chamar-me para regressarmos os dois a casa… Obviamente que fazer o percurso acompanhado, ainda por cima com alguém que o faz há alguns anos, dá outra confiança e segurança.

Chegado a casa a confirmação de que não me conseguia ligar à internet… Mais umas tentativas e nada… Entretanto já tinham mandado activar uma placa de internet móvel mas não se sabia muito bem quanto tempo demoraria… A segunda noite sem possibilidade de estar durante muito tempo a falar com a minha metade… Essa era a principal angústia…

Quando me fui deitar assustei-me. Entre um dos jipes que está sempre parado lá em casa e a parede estava uma pessoa deitada no chão… Aproximei-me, sem fazer barulho, para tentar perceber o que se estava a passar. Percebi que debaixo da pessoa estava um pequeno colchão de espuma e, afinal, era o guarda de casa. Não percebi a situação e achei-a desumana. Fui deitar-me com um sentimento de estranheza e repulsa porque, em tão pouco tempo, já observei demasiadas situações em que alguns acham que ainda são colonizadores dos outros… Não sei explicar… Ainda existem situações difíceis de perceber. Fiquei cheio de vontade que o outro dia chegasse para falar com alguém próximo, obviamente o Ludgero, sobre a situação.

sábado, 19 de setembro de 2009

23 de Agosto – O contexto da nova realidade

Ainda em Portugal tive oportunidade para preparar a minha viagem. Tenho a sorte de ter cá amigos e, como tal, fui tentando recolher o máximo de informações para que pudesse estar minimamente preparado para a nova realidade.

Entre muitas sugestões úteis fiquei admirado com duas em particular. Numa das trocas de e-mail’s com o Ludgero surgem, a encabeçar a lista:

1. Rádio de cabeceira com possibilidade de funcionar também a pilhas.
Em Viana falta muito a luz;
2. Como falta a luz uma pequena lanterna dá sempre jeito J;

Depois, em 13º e penúltimo lugar surge: “Três doses de paciência, das grandes, para aturar estas maluqueiras e desorganização”.

Ora bem… Relativamente à paciência até já estava preparado mas quanto ao resto... No momento em que recebi este mail pensei algo do género “mas vou para o meio da selva ou para uma cidade?”. Felizmente a realidade que vim encontrar é diferente e não preciso deste tipo de coisas… Pelo menos para já… Isto nunca se sabe…

Foi com grande satisfação, por vir preparado para ter que comprar imensas pilhas por cá, que percebi que afinal as condições de que iria desfrutar eram outras… Há entrada de casa há um gerador de 40 Kva (que eu tinha visto apenas em obras mas que agora era um “objecto decorativo” que estava colocado à entrada de casa), a casa tinha sido totalmente remodelada e as obras tinham acabado há 2 meses (pelo que ainda quase se sentia o cheiro da tinta) e no meu quarto há um termo-acumulador de 100 lt (provavelmente será difícil de perceber esta satisfação mas eu explico… também me avisaram que as interrupções no abastecimento de água eram frequentes e que, por vezes, duravam 2 dias).

Neste primeiro dia o gerador desligou-se após o meu descanso… Depois de estar ligado quase 13 horas desligou-se pelas 19 horas... Imagine-se o impacto do primeiro dia se não fosse aquele lindíssimo “objecto decorativo”.

A tristeza após o descanso…

Depois do descanso queria, obviamente, dar notícias sobre as minhas primeiras horas por cá. Foi nesse momento que constatei que, afinal, na casa não havia internet instalada. Tinham-me dito que sim mas a realidade era diferente. Tentei procurar redes wireless dos vizinhos a que, diziam, por vezes se conseguia obter ligação. Tentei com o computador que trazia de Portugal e com outro (mais antigo) com que os colegas de casa já tinham tentado fazer ligação às ditas redes e nada...

A tristeza foi grande… Apesar da distância, hoje em dia, com uma ligação à internet consegue-se atenuar o impacto da distância física. Tendo em consideração o preço das chamadas telefónicas, seria impossível manter um contacto regular e esse seria, sem dúvida, um factor muito perturbador…

Contudo hoje, não havia alternativa… Teria que resolver o problema mas hoje tinha mesmo que telefonar para Portugal…

23 de Agosto – A chegada (Parte 2)

Era um largo grande e agradável. Dividido em 2 rectângulos por uma estrada que passa no meio, esse largo tinha, e tem, um jardim, um parque infantil e um recinto de jogos (futebol e basquete).

Quando saímos do carro apareceu o segurança da casa, o que me surpreendeu porque não sabia que tínhamos segurança em casa. O segurança disse de imediato: “o chefe já está acordado e pediu que eu o fosse avisar quando chegassem”. E lá foi avisar o, quem eu pensava ser, Sr. Cabral.

De uma forma desportiva surge-me então um homem com barba e cabelo branco que aparentava ter 60 anos. À primeira impressão tratava-se dum homem muito sério, rígido e rigoroso. Recebeu-me duma forma amigável, explicou-me onde seria o meu quarto (num anexo da casa porque os três quartos estavam por agora ocupados) e disse-me “bom, agora certamente quer ir descansar um pouco não é?”. Perante esta pergunta, e consciente que se dormisse umas horas iria ficar mole e desconfortável o resto do dia, disse-lhe que tencionava dormir só à tarde.

Ele explicou-me que pensava ir a um bar de praia, onde se encontrava com os amigos ao domingo e que, se eu quisesse, pretendia levar-me. Passaríamos lá a manhã, almoçávamos e à tarde regressaríamos a casa para descansar.

A proposta pareceu-me agradável e concordei… Pelas 8.30 saímos de casa…

No caminho fui vendo a realidade da cidade… Em quase todas as estradas que passámos confirmei a ideia que recolhi na viagem do aeroporto para casa. A cidade era, de facto, desorganizada, caótica e degradada. As pessoas conduziam duma forma “agressiva” e anárquica e procuravam, em qualquer metro disponível, um espaço para ultrapassar, para virar, ou para fazer uma manobra qualquer. Um bom exemplo disso foi verificar, na Marginal, quatro vias com carros a formar um fila. Ao avançar, sobre o passeio, percebemos mais à frente que tudo era causado por um acidente numa estrada à esquerda da marginal. O engraçado da questão é que, para essa estrada, da Marginal, poderia apenas virar-se em duas via, ou seja, as outras duas bloqueavam, desnecessariamente, o trânsito que pretendia seguir em frente.

Na Baixa da cidade, a parte mais nobre, percebe-se o que já foi este país… A arquitectura dos edifícios coloca-nos de imediato nos anos 60 e 70. Enquanto íamos avançando ia imaginando como seria viver aqui antes da independência. Julgo não me enganar muito se disser que, antes de 74, a vida era muito melhor nas “províncias” do que na “metrópole”. Certamente que terei oportunidade de indagar sobre isto…

Passámos então a manhã no Miami, o bar de praia, que estava a ser limpo depois de uma noite de música brasileira ao vivo. Nessa manhã, ainda meio “cacimbado”, tudo para mim era novo… As minhas primeiras horas por cá revelaram-se muito interessantes porque foram partilhadas com um amigo do Sr. Cabral. Uma pessoa muito cativante, um autêntico contador de histórias que decidiu deixar a arquitectura em Portugal (depois de trabalhar muitos anos no gabinete do Arq. Taveira) para ter uma vida mais descontraída e calma ao ritmo de África.

Depois de almoço regressámos a casa e descansei até próximo das 18 horas.

Ao deitar, para atenuar o impacto da distância e “esquecer” a impossibilidade de falarmos, li as frases que a Patricia colocou nas duas fotografias que me entregou para trazer. Depois disso, com o coração cheio, uma noite calma a preparar o meu primeiro dia de trabalho.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

23 de Agosto – A chegada (Parte 1)

O dia começou pelas 6 da manhã.

À chegada ao aeroporto, apesar de me ter tentado preparar antecipadamente para o que iria encontrar, senti de imediato a diferença dos dois mundos. Esse e este.

Ainda dentro do autocarro era logo perceptível o estado de conservação, ou falta dela, dos edifícios na envolvente do aeroporto.

Já dentro do aeroporto, depois de cerca de 40 minutos de espera, quando me dirigi ao “balcão” da polícia (tipo SEF) para que verificassem a minha documentação e me deixassem entrar no país, o caramelo diz-me “café”. Eu ri-me, fingindo-me despercebido, e ele diz, muito rápido, uma frase que não percebi que terminava em “café”. Eu disse que não tinha e ele, muito tranquilo diz-me “era para beber café”. E continua a tratar da minha documentação… Percebi depois a inteligência (se é que se pode aplicar este termo neste caso) do caramelo, porque nas primeiras abordagens só falava em café. Percebi que se tentasse esboçar alguma reclamação (caso não soubesse em que tipo de país estava a entrar) ele diria que me tinha perguntado apenas se eu já tinha tomado café ou algo semelhante. Mas, após essa abordagem, tudo correu bem e despachei-me rapidamente.

Depois, quando cheguei aos tapetes para ir buscar as malas, vinha um indivíduo com um conjunto de carros que tinha recolhido e que ia colocar no local onde estavam outros. Como ia a passar por mim perguntei se não poderia tirar aquele. Responde-me que sim e atalhou logo, sem que existisse mais conversa nenhuma, “Olha, é assim, pode tirar o carro e combinamos já aqui para eu o orientar lá fora. Não é preciso se preocupar”. Disse-lhe que não, que tinha pessoas conhecidas à minha espera, e, de imediato, prosseguiu o seu caminho sem dizer absolutamente nada…

Até este momento estava com um rácio fantástico. Dois contactos com locais, duas abordagens referidas como exemplo por todos os conhecedores deste país…

Ao sair tinha uma pessoa à minha espera. Dirigi-me a ele e fomos andando para o carro (Um Patrol bem velhinho, bastante utilizado e cheio de pó. Todo ele era pó). Deixou-me no carro e disse que tinha que ir pagar o estacionamento. Daí a 4 minutos apareceu logo um indivíduo, já velho, a dizer que “Hoje é domingo e é dia de café. Toda a gente está a dar”, e, enquanto falava mostrou-me um monte de notas. Respondi-lhe que o motorista já dava. Ele voltou a repetir e eu repeti novamente e ele, como se eu tivesse dito uma coisa extremamente acertada diz “Ah, ele já foi pagar? Então está bem”. Engraçado porque eu estava a dizer que quando chegasse o motorista lhe pagava e ele diz-me que se ele já tinha ido pagar estava certo….

Quando ele se foi embora quis admirar o Patrol mais detalhadamente. Ao olhar para a consola vejo que não existia rádio… Quer dizer… Existir existia mas era um rádio a pilhas, daqueles em plástico preto com uma antena metálica que, apesar de ter procurado em Portugal não encontrei… Aquele era o rádio do carro… Eheheheh Quando o Sr. Domingos entrou no carro ligou de imediato o rádio e puxou-o mais para o seu lado. Era um gesto que fazia todo o sentido porque o carro, apesar de não ser ensurdecedor, não deixava muito espaço para que o som dA colunA fosse perceptível…

Arrancámos…

O arrancámos é relativo, na verdade só tirámos o carro do estacionamento porque “assim que começámos a andar” ficámos parados na fila.

Aí percebi que o rádio estava sintonizado na “Rádio Nacional de Angola” (pode-se imaginar o locutor a dizer isto ehehehehehhe). Quando me comecei a abstrair do que estava à volta (da construção do parque de estacionamento definitivo para o aeroporto, da fila, do tipo de pessoa, do tipo de edifícios da envolvente, etc) percebi que no rádio estavam a dar “anúncios” de pessoas falecidas. Diziam o nome e o local onde estava a ser velado, ou ia ser enterrado, o corpo. Aos 2 primeiros prestei alguma atenção porque pensei que eram celebridades. Depois percebi que se tratavam de pessoas vulgares… Imagine-se um programa de rádio em Arganil a dizer que o Zé António tinha falecido e seria enterrado amanhã às 8, que o “Ti Jaquim” da “Ti Rosa” ia ser velado a partir das 16h etc etc etc. Nem queria acreditar… Afinal de contas isto é uma cidade e era uma estação de rádio nacional…

A seguir o conteúdo mudou um pouco mas era especial na mesma… Eram mensagens de pessoas para pessoas. Lembro-me de uma muito particular “O XPTO pede a presença urgente da sua família, os “YZ de qualquer coisa”, na província de “ALGO””… Basta imaginar…

Eheheheheh

O programa durou enquanto estivemos no parque (aprox. 25 min).

Entretanto o Sr Domingos, astuto, queixava-se que a fila era porque as pessoas entravam no carro e depois, quando chegavam à cancela, saíam do carro e iam pagar… Procedimento que, segundo ele, “era estúpido porque assim todos ficamos aqui à espera”. Daí a pouco, quando estávamos a passar à frente do telheiro onde estavam as pessoas que saiam do aeroporto, o carro que ia à nossa frente parou e ligou os “4 piscas”. Ele começou logo a abanar a cabeça. De dentro do carro saí uma mestiça, com o cabelo muito volumoso e bem arranjado, e com uma postura muito “fina”. Abre a mala de trás do carro e vem o rapaz, que ela tinha ido buscar, colocar as coisas na mala do carro… Depois de carregar tudo, com alguma descontracção (apesar dos carros à sua frente já terem arrancado), arrancou…

Parece normal??

Ainda não acabou…

Quando chegámos à cancela, a mesma “personagem” colocou o cartão na máquina. O cartão foi devolvido, ela voltou a meter, voltou a ser devolvido . Como ao lado estava a fila para pagar, um rapaz dirigiu-se para a ajudar… Provavelmente pensou que ela não estava a chegar à máquina. Meteu o cartão e foi devolvido… Depois disse-lhe qualquer coisa (já no carro nós comentávamos que provavelmente ela nem tinha ido pagar) e ela sacou duma nota e deu-lhe. O rapaz (já com os seus 30 anos), que estava para aí em 5º lugar da fila, foi à frente, pagou, veio ao carro dar-lhe o troco, meteu-lhe o cartão na máquina e ela arrancou… Algum comentário?? Eheheheh

Voltando um pouco atrás… Enquanto fiquei no carro a aguardar que o Sr. Domingos fosse pagar o parque de estacionamento, apenas por curiosidade, “perdi um bocadinho” (na realidade não havia nada a perder nem a ganhar, estava ali, num mundo totalmente novo, e tinha que ficar à espera que ele chegasse) a analisar a placa em que ele tinha a minha fotografia, para que eu soubesse quem me iria buscar (sim, teria que ser eu a perceber porque ele nem olhava para a cara das pessoas que estavam a sair…). Na placa dizia o meu nome e dizia “Deixar o Sr. na casa do Sr. Cabral. O segurança já sabe que terá que avisar o Sr. Cabral quando chegarem”.

A viagem foi intensa porque fiz questão de absorver o máximo de pormenores da minha nova realidade. Em todo o percurso existiam inúmeras casas degradadas. Já se viam bastantes pessoas nas ruas, umas a pé, outras de mota e outras de carro. Tudo tinha um aspecto avermelhado proveniente da cor da “terra”. A circulação dos carros era peculiar porque numa estrada com duas vias em cada sentido a circulação era feita apenas na da esquerda. A da direita tinha carros estacionados, tinha carros que depois de acidentados tinham sido ali abandonados e tinha uma crescente quantidade de terra desde o eixo até ao passeio…

Tudo para mim era novo…

O cenário correspondia, na perfeição, a todas as descrições feitas ainda em Portugal. “Imensos assaltos”, “pobreza”, “insegurança” “desorganização”,“desrespeito”, “anarquia”, entre outras.

Aqui e ali tentava captar algo mais. Queria perceber se nas ruas existiam “objectos portugueses” ou se seriam provenientes de outros locais. Sabia de muitas coisas que eram provenientes de Portugal mas agora queria vê-las… Queria perceber se, de facto, ainda existe alguma interligação, a nível cultural, dos dois países…

Sem o procurar propositadamente encontrei, num outdoor, uma resposta. “Bocka aí mais uma” era o slogan da Super Bock em que se viam duas garrafas a tocarem-se no fundo, como que se de um brinde se tratasse. Motivado por aquela visão comecei a procurar outros outdoors, outras publicidades, outras placas, no fundo, queria saber o que é que se tentava transmitir aos transeuntes. Daí a pouco tempo leio “Não faça necessidade na rua”. Era uma placa que estava numa vedação provisória duma intervenção que faziam a um jardim junto a uma rotunda. Abaixo da mensagem podia ler-se que a mensagem era de uma autoridade sanitária que, penso, se denomina “Delegação Provincial de Saúde”.

Aí, confesso, pensei “onde é que me estou a meter”. Necessidades na rua era algo que eu só tinha visto fazer quando um grupo de jovens, após ou durante uma noite de brincadeira e diversão decide, fruto da sua juventude, “regar uma plantinhas” que encontra.

Ali certamente que não era disso que se tratava porque, se fosse, certamente que ninguém se iria dar ao trabalho de fazer uma grande quantidade de placas com a identificação duma autoridade, penso, digna de respeito.

Ainda quase incrédulo com o que tinha acabado de ler vejo, noutro outdoor, “Atingimos uma nova numeração, 93”. Nesse momento percebo a amplitude que terá a sociedade. Existem as pessoas que, com alguma regularidade, e achando que isso é normal, fazem as suas necessidades fisiológicas na rua, outras, num estado mais civilizado, que já gostam de beber umas cervejas “de qualidade” com os amigos e, ainda outras, que já têm outra vivência, outros interesses e outro intelecto e que já utilizam o seu telemóvel para falar com os amigos. Porquê três grupos totalmente distintos? Não sei, não quero acreditar que três frases tão diferentes sejam direccionadas para uma só pessoa… À data de hoje (estou a complementar este texto a 6 de Setembro de 2009) não estou certo que isso não seja possível.

Enquanto a minha cabeça ia tentando processar e gravar tudo o que via lembrei‐me de perguntar ao Sr. Domingos, tentando fazer conversa de circunstância, se “a casa era muito longe”. Ele disse-me que não e explicou que “por ser domingo andamos aqui bem e tudo é perto. Se fosse durante a semana íamos demorar umas três horas a fazer o percurso”. Logo aí comecei a ver uma quantidade incrível de prédios, enormes, em construção… Muitas empresas portuguesas… Quando perguntei como se chamava a zona para onde ia ele disse-me que “ninguém me disse onde é que era para o levar, deve ser no (nome que não registei, sabe se é?)”. Como não fazia ideia do que isso significava disse-lhe que não sabia. Que me tinham dito que “a pessoa que me ia buscar já sabia tudo e que não tinha que me preocupar”. Ele riu-se e disse-me “a mim ninguém me disse nada” mas deixo-o lá. Depois de perguntar em que zona da cidade ficava o tal sítio percebi que algo deveria estar errado (tendo em consideração as informações que me tinham dado). Resumindo… O Sr. ia levar-me para o estaleiro central da empresa que fica fora da cidade… Expliquei que me tinham dito que ia para a “casa do Sr. Cabral” e ele, com alguma autoridade disse-me “pois, ainda bem que sabe porque a mim ninguém me disse nada. Se não me dissesse ia deixá-lo no estaleiro. Alguém me devia ter passado essa informação”.

Um pequeno parêntesis porque, com tanto texto já podem estar perdidos, lembram-se de eu ter lido a placa que tinha a minha fotografia??? Pois… Lá estava bem explicito onde é que era para me deixar mas o senhor achava que “alguém lhe devia ter passado essa informação”… hehehehehehe

Que mais poderia eu fazer senão sorrir e dizer “Pensava que lhe tinham dito”…

Enquanto nos íamos aproximando da casa, dito pelo Sr. Domingos, o aspecto das casas e das ruas foi melhorando significativamente até que parámos num largo.

22 de Agosto - O dia da viagem

Uma primeira breve justificação…

Quando cheguei comecei a registar, escrevendo, o que sentia, o que ia presenciando, etc. Agora, com a ideia do blog, surgiu a necessidade de interligar e sequenciar esses textos com outros que entretanto estou a criar… Só agora começo a colocar coisas relativas aos meus primeiros momentos em África porque não tinha nenhum texto dos últimos momentos da despedida…

Uma segunda breve justificação…

Vim sem máquina fotográfica. Depois de tantas histórias que ouvi achei que o melhor era não trazer máquina fotográfica porque, segundo alguns conselhos, “até no aeroporto me podiam ficar com ela”. Assim que cheguei arrependi-me… Tudo isto para dizer o que? Só daqui a algum tempo é que poderei complementar os textos com imagens do que descrevo…

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Após uma semana muito emotiva e sentimental eis que chegou o dia da viagem.

E, sem nomeações porque os sentimentos não se resumem em palavras, fica um forte e apertado abraço (ou quando aplicável, um beijo) a todos que sabem que, pelos mais diversos motivos, apesar da distância, foram, são e serão importantes para mim.

Após o check-in (em que, basicamente, tive que “refazer” as malas para tentar reduzir os 10kg em excesso e minimizar a módica quantia de 25€/kg de excesso) e algum tempo de espera chegou o momento… Era a altura de dar o passo na direcção do avião e rumar ao novo destino.

A despedida foi, obviamente, muito intensa e emotiva. Até ao momento em que nos levantámos para a despedida todos estávamos “controlados” mas, assim que nos levantámos, começaram a correr as lágrimas da despedida. Mesmo com as formas de comunicação que existem hoje em dia, a distância física causa-nos “bastante sofrimento”.

Depois de me despedir dos meus pais, da Paula e do Chico, despedi-me da Patrícia já mais perto da passagem para a zona de embarque. Depois de tantas coisas que ultrapassámos juntos e de tantos momentos partilhados, a despedida é sempre mais dura… E foi, sem dúvida, o mais duro e o que mais me custa relatar…

Depois de ouvir “última chamada para o voo…”, despedimo-nos pela última vez e segui para a zona de embarque. Para a zona de embarque errada porque para os voos profissionais a TAP tem (eu não fazia ideia) uma entrada especial que, penso, designam de Green. Duma forma simplificada era apenas um longo e estreito corredor directo para a zona de detecção de metais… Sem filas de espera… O verde das laterais desse corredor davam um impacto diferente ao momento, ou então resultava do facto de estar mais sensível… Não sei…

Esse foi o momento em que, definitivamente, estava sozinho. A partir daquele momento estaria, fisicamente, realmente sozinho. Por sentir isso, por sentir que a partir daí muita coisa seria diferente, ao longo desse corredor por, pelo menos três vezes, parei. Olhei para trás e acenei. No topo do corredor, do outro lado das portas, a uns 30 metros, estavam todos a acenar… Chegado ao fim do corredor, uma curva e os detectores de metais…

Via-se de tudo. Pessoas que tinham vindo à “metrópole” fazer compras e estavam carregadas de coisas, pessoas que iriam trabalhar na construção civil, pessoas que, provavelmente, iriam regressar após umas férias e, também, uma ou duas pessoas que, como eu, seria a primeira vez que iriam fazer aquele trajecto. Em alguns casos o olhar denunciava o “aperto da despedida”.

Após a verificação dos meus elementos a primeira situação caricata, ainda em Portugal e já estava a começar? Uma senhora com +/- 46 anos falava, bastante alterada, ao telefone e dizia que “Mas como é que é possível?? Eu estou aqui com a avó (ao lado estava uma senhora sentada com os seus quase 80 anos) e tu estás a dizer-me uma coisa dessas??? Como é que é possível??? E agora???”. Apesar da curiosidade que tive, confesso, prossegui o meu caminho em direcção ao autocarro.

Com a chegada do autocarro junto do avião percebi a “fúria” da senhora quando disse “e vais perder o avião por causa de 200€??? Desculpa mas eu não vou perder este voo.”. Provavelmente algum menino/a veio à metrópole e decidiu que queria levar tudo o que gostava… Pode até ter levado mas, certamente, foi noutro voo porque o check-in já estava fechado desde o primeiro telefonema que ouvi…

A viagem foi normal… Apenas uma situação que me causou alguma surpresa. Ao meu lado ia uma jovem negra. Algumas vezes falava com uma menina que ia à minha frente, acompanhada dos pais e da irmã e, outras tantas vezes falava também com a mãe da dita menina… Não estava a perceber até que, ao chegar, comentava que tinha visto luz em casa. Contente dizia que a família estava à espera dela e que, por isso mesmo, já toda a gente se tinha levantado lá em casa… Só aí percebi… Sim, por vezes sou bastante lento… A jovem era “empregada” daquele casal e tinha vindo a Portugal acompanhar a família durante as férias. Seria uma espécie de “ama” das crianças.

Considero apenas esta situação digna de registo porque me causou bastante surpresa… Não imaginava que ainda existissem pessoas tão dedicadas a um “patrão”, obviamente que não espero que ela o tenha feito porque lhe apeteceu mas, ter alguém com 24 ou 25anos a trabalhar a 100% para uma família era algo que pensava já não existir.

Será que passadas duas semanas (estou a complementar este texto a 6 de Setembro de 2009) ainda penso da mesma forma???

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Os porquês...

Porque surge este Blog?

Porque existe uma viagem que me leva para milhares de km de distância e que, por isso mesmo, faz nascer em mim uma série de sentimentos que, até então, não tinha…
A vontade de escrever algumas coisas, registando o que estava a viver e a sentir, foi instantânea desde o momento em que me despedi da minha família no aeroporto. Foi um momento intenso e, por isso mesmo, após aquela “despedida” passei a viver cada instante com uma intensidade diferente e, por isso mesmo, a sua importância também aumentou significativamente. Senti a necessidade de escrever sobre uma fase tão marcante da minha vida e, por isso mesmo, com a minha chegada comecei também a registar a minha vivência.

Essa vontade, reforçada com a necessidade que sentia (continuo e continuarei a sentir) de partilhar a minha vivência com a minha metade que ficou em Portugal, deu-me ainda mais energia para descrever o que por cá se vai passando…
Assim nasceu o primeiro texto que lhe enviei, que descrevia as minhas primeiras horas em Luanda, para atenuar o impacto da distância…
Após o envio desse texto, a pedido de várias famílias, decidi começar a registar, por escrito, duma forma mais regular e assídua as diversas situações que vou vivendo/presenciando. Bom, na realidade, não foram várias famílias, foram mesmo só duas pessoas, mas isso também só vão saber porque eu o estou a escrever e, portanto, já que estou a escrever prefiro “fazer a coisa em grande”.

ehehehehe

Como se percebe, estes textos pretendem apenas relatar as situações que vou viver/presenciar neste continente pelo que são apenas descrições e opiniões pessoais. Não pretendem ser textos científicos ou exemplos linguísticos (até porque não os conseguiria fazer ou, caso conseguisse, não os iria concluir em tempo útil) mas sim relatos de vivências, opiniões e constatações pessoas registadas ao sabor dos dedos (por actualização tecnológica do “sabor da pena”) para que vocês possam ir acompanhando, e relembrando, quem está deste lado.

Porquê o nome Blog?

Porque no meu imaginário, baseado em programas de televisão que vi desde pequeno, existia a ideia que o solo tinha um tom avermelhado e que esses eram os tons predominantes. Que esses eram os tons que se viam no terreno mas também nos carros, nas estradas, nas casas e, devido a um pôr-do-sol único, nos céus.
Esta imagem pré-concebida encaixou na perfeição com aquilo que encontrei…

Bom, agora já chega de porquês…

Cumpra-se o objectivo do Blog.

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